Autores
Luís Paulo Benetti Mantoan – Doutor em Ciências Biológicas/Botânica – UNESP, Botucatu – luismantoan@gmail.com
Carla Verônica Corrêa – Doutora em Engenharia Agronômica – UNESP, Botucatu
Hormônios vegetais podem ser vistos como substâncias produzidas em uma célula que atuam como mensageiros químicos modulando os processos celulares em outra célula.
Estes mensageiros interagem com proteínas específicas que funcionam como receptores. A interação dos hormônios com seus receptores na célula é capaz de induzir respostas específicas de acordo com o tipo do hormônio envolvido. Entre as respostas mais comuns à sinalização hormonal estão a indução do crescimento, do florescimento, da morfogênese, das respostas de defesa, da expressão gênica e a ativação de proteínas.
A maioria dos hormônios vegetais atua em concentrações extremamente baixas, algo em torno de micro a nanogramas, dependendo do tipo de hormônio vegetal. Até agora são conhecidos 10 tipos de hormônios vegetais, que são: auxinas, giberelinas, citocininas, etileno, ácido abscísico (ABA), brassinosteroides, poliaminas, ácido jasmônico, ácido salicílico e estrigolactonas.
Efeito na planta
Cada hormônio apresenta um efeito específico no corpo da planta, porém, não atuam sozinhos, mas sim em interação uns com os outros. As interações entre hormônios podem ser do tipo antagonista ou cooperativa.
Como exemplo de interação antagonista está o processo de abscisão foliar. Em uma folha saudável o etileno está em concentração suficiente para induzir a queda da folha, contudo, a presença de uma determinada concentração de auxina foliar inibe a ação do etileno. Para que o etileno atue na abscisão foliar, é necessário a redução na concentração da auxina, o que ocorre durante a senescência da folha.
Como exemplo de cooperação entre hormônios está o processo de crescimento. Neste processo a auxina é muito importante para o aumento no tamanho da célula vegetal, porém, as giberelinas atuam em conjunto com as auxinas na indução do crescimento.
Por meio dos estudos realizados por fisiologistas vegetais em todo o mundo, foi possível conhecer e compreender os diversos tipos de hormônios vegetais e suas respectivas funções no corpo da planta. Utilizando desse conhecimento, foram sintetizados os chamados reguladores vegetais, os quais são substâncias sintéticas, muitas vezes semelhantes às moléculas encontradas no interior da planta, que atuam de forma semelhante aos hormônios vegetais.
Tais reguladores são comercializados e utilizados para amplos fins na agricultura, desde a quebra da dormência em sementes e gemas de ramos até a produção de frutos sem sementes.
Benefícios proporcionados
O uso dos reguladores vegetais na agricultura oferece uma ampla gama de benefícios. Na tabela 1 podemos observar os principais efeitos dos reguladores vegetais.
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Tabela 1: Exemplos de hormônios vegetais, seus principais efeitos nas plantas e exemplo de substância produzida pelas plantas que atua como hormônio.
Hormônio | Principais efeitos | Exemplo de substância |
Auxina | Induz crescimento celular, dominância apical, fototropismo e desenvolvimento de raízes. | Ácido 3-indolacético (AIA) |
Giberelinas | Induz germinação, florescimento, desenvolvimento do pólen e frutos. | Ácido giberélico (GA3) |
Citocininas | Indução da divisão celular, quebra de dormência de gemas, formação e atividade dos meristemas apicais, desenvolvimento gametofítico e vascular. | Zeatina |
Etileno | Promove respostas ao estresse, induz germinação, senescência, abscisão foliar, floral e de frutos e influencia no crescimento da raiz e da parte aérea. | Etileno |
ABA | Promove respostas ao estresse, promove a senescência, induz a maturação e a dormência da semente, regula o crescimento de raízes e partes aéreas. | Ácido abscísico (ABA) |
Brassinosteroides | Indução de respostas ao estresse, alongamento celular, divisão celular, desenvolvimento do tubo polínico. | Brassinolídeo |
Poliaminas | Estimula divisão celular, respostas ao estresse, desenvolvimento de raízes e flores. | Putrecina |
Ácido jasmonico | Desenvolvimento de flores e respostas de defesa contra herbívoros e patógenos. | Ácido jasmonico |
Ácido salicílico | Resposta de defesa a patógenos e retarda senescência de pétalas. | Ácido salicílico |
Estrigolactonas | Estimula a associação entre fungos micorrizicos e raízes. | Estrigolactonas |
Manejo e resultados
Existem alguns reguladores vegetais comerciais no mercado que podem ser utilizados no tratamento de sementes para melhorar a germinação, enquanto outros são utilizados via foliar.
Para a aplicação foliar em uma lavoura, existe a necessidade de se avaliar o tipo de cultura e o estágio de desenvolvimento, pois a dose utilizada em uma cultura pode não ser recomendada para outra, o que poderia resultar em prejuízos.
Estudos demonstram que em culturas como a soja o uso de uma mistura comercial de auxina, giberelina e cinetina aplicados durante o tratamento de sementes, na fase vegetativa e na fase reprodutiva, pode elevar a massa de grãos e o número de vagens.
Já no feijão, a aplicação desta mesma mistura de reguladores na fase reprodutiva promoveu o aumento no número de grãos por planta e, consequentemente, a produtividade.
Em cana-de-açúcar, a mistura de auxina, giberelina e cinetina aplicados nos rebolos no sulco de plantio proporcionou aumento de 6,0 a 21% da produtividade, enquanto que na aplicação foliar na fase de perfilhamento da soqueira o ganho em produtividade foi de 8,0 a 25%. Ainda em cana-de-açúcar, estes reguladores beneficiaram a brotação de gemas, maior desenvolvimento do sistema radicular e maior número de colmos.
FAZER EFEITO
- Soja – eleva a massa de grãos e o número de vagens
- Feijão – Aumenta número de grãos por planta
- Cana – Aumenta brotação de gemas, maior desenvolvimento do sistema radicular e maior número de colmos e aumento de produtividade de 25%
Erros
O uso dos reguladores vegetais deve ser feito com cautela, pois tais substâncias influenciam muitos processos metabólicos da planta. O uso de doses elevadas, a mistura de reguladores e até mesmo o desconhecimento dos efeitos do regulador utilizado podem causar o abortamento de flores e frutos.
Também pode ocorrer a má formação do corpo da planta e o dano permanente para o desenvolvimento, sendo que em casos mais graves pode haver perda total da lavoura. Ainda, deve-se ficar atento ao estágio de desenvolvimento da cultura, pois dependendo da idade da planta, alguns hormônios podem estar em maior ou menor concentração do que outros.
Sendo assim, a aplicação de um regulador de crescimento pode interagir com algum hormônio endógeno e resultar em um efeito indesejado. Um exemplo do efeito tóxico que os reguladores vegetais podem ter é a substância conhecida como 2,4-D. Esta molécula é comercializada como herbicida, pois em doses altas provoca a morte da planta, porém, em doses baixas atua como um regulador vegetal semelhante a uma auxina.
Para que não haja prejuízos à lavoura e para garantir que os efeitos dos reguladores aplicados seja o desejado, deve-se seguir a orientação de um engenheiro agrônomo e a recomendação da bula de cada produto.
Custo envolvido
O custo dos reguladores vegetais pode variar, dependendo do tipo de molécula utilizada no produto. Alguns reguladores são facilmente sintetizados e exigem poucos recursos na fabricação e, portanto, são mais baratos para o agricultor.
Contudo, algumas moléculas são difíceis de se sintetizar, sendo muitas vezes extraídas das próprias plantas, o que resulta em pouco rendimento, já que os hormônios vegetais estão em baixas concentrações nas plantas, o que, por sua vez, encarece o custo da fabricação. Desta forma, o custo para o agricultor vai depender do tipo de regulador vegetal que ele irá utilizar.