Karen Vanessa Vieira de Jesus
Engenheira agrônoma, produtora rural e proprietária da VeM Hidroponia
karen.jesus@ufam.edu.br
Diego Henriques Santos
Engenheiro agrônomo – Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas
dh.agroengenharia@gmail.com
Ao escolher iniciar um sistema hidropônico para o cultivo de alface americana, deve-se levar em consideração alguns fatores, como o estudo do espaço disponível, o orçamento e a escala de produção.
Atualmente há vários tipos de sistemas e cada um possui suas orientações para instalação e manejo adequado. O NFT (Nutrient Film Technique) é, hoje, o sistema mais popular, onde a solução nutritiva percorre os canais ou tubos, fornecendo nutrientes e o oxigênio necessário para as plantas.
Detalhes que você precisa conhecer
De fácil manutenção, o NFT mantém uma boa oxigenação e é eficiente no uso de água e nutrientes. Porém, o monitoramento deve ser regular e maior, evitando assim entupimentos e garantindo o fluxo constante da solução.
Se encaixa perfeitamente em pequenas, médias e grandes produções. O sistema pode ser instalado em prateleiras ou bancadas, utilizando tubos de PVC ou calhas próprias para o cultivo hidropônico, que devem possuir uma leve inclinação para que o fluxo de solução ocorra da bancada para o tanque, onde há bomba que leva novamente a solução para as bancadas, formando um ciclo.
Novos sistemas
Outro sistema é o DWC (Deep Water Culture), onde as raízes das plantas ficam suspensas em uma solução nutritiva constantemente oxigenada. De fácil instalação, não tem problemas com entupimento, mas necessita de um bom sistema de aeração para evitar a podridão radicular, além de ocupar mais espaço na horizontal e um maior risco de disseminação de doenças radiculares.
Adequada para produção de pequena e média escala, como quintais ou pequenas estufas. É um sistema que pode utilizar tanques ou recipientes e neles são colocadas bombas de ar para oxigenar a solução.
Este sistema também é consorciado com a produção de peixes nos tanques e as plantas sob uma folha de isopor, auxiliando na suspensão das plantas. Tal método torna a produção obrigatoriamente orgânica, pois não permite o controle químico de pragas ou doenças, pois afeta os peixes.
Sistema EBB & Flow
O Sistema EBB & Flow, por sua vez, bombeia periodicamente a solução nutritiva para os recipientes das plantas e depois drena de volta ao reservatório, permitindo uma excelente oxigenação das raízes.
No entanto, é mais complexo e sujeito a entupimentos, e requer temporizadores para controlar o fluxo e a drenagem. Indicado para produções de média e grande escala. Com espaço disponível na estufa, ele permite instalar diversas bandejas em alturas diferentes, facilitando a drenagem por gravidade.
Já no sistema de gotejamento, cada uma das plantas recebe os nutrientes por meio de gotejadores. Mais flexível quanto a espaço, controle individualizado da nutrição e economia de água, no entanto, requer manutenção bem detalhada dos gotejadores.
Encaixa-se perfeitamente em áreas onde o cultivo pode ser distribuído, como grandes estufas. Os tubos de gotejamento com temporizadores são posicionados para fornecer a solução (nutrição) diretamente nas raízes. Um sistema de drenagem ou reaproveitamento desta solução pode ser incluído para maior eficiência.
Inovações recentes
A cada ano mais inovações tecnológicas entram no mercado, e isso vem beneficiando a produtividade e a qualidade da alface americana cultivada em sistema hidropônico. Essas tecnologias abrangem desde sensores inteligentes até novas formulações de nutrientes e práticas sustentáveis que otimizam o crescimento e buscam reduzir custos e os grandes impactos ao meio ambiente.
Dentre as principais inovações recentes, cabe citar os sensores automatizados de pH, condutividade e temperatura, que conectados a sistemas de monitoramento inteligente permitem o acompanhamento em tempo real e contínuo do pH, da condutividade elétrica e da temperatura da solução nutritiva.
Esses dados são enviados em tempo real para aplicativos em smartphones, facilitando ajustes mais rápidos e precisos, reduzindo ou até eliminando os desequilíbrios que afetam negativamente o desenvolvimento das plantas.
Sistemas IoT e LED
Já os chamados Sistemas IoT oferecem uma visão completa e centralizada do ambiente de cultivo, incluindo níveis de umidade, luz e ventilação. Esse sistema ajuda a identificar padrões e fazer ajustes em tempo real para melhorar a produção no sistema hidropônico.
A iluminação LED de espectro ajustável, por sua vez, fornece luz nos comprimentos e frequências exatas que a alface precisa em cada fase (azul para crescimento vegetativo e vermelho para amadurecimento). Isso eleva não só a taxa de crescimento, como também melhora a qualidade das folhas e o resultado do produto final.
Eficiência e economia
Os LED’s de baixo consumo fornecem eficiência energética, resultando em economia significativa de energia, principalmente em instalações que dependem completamente de luz artificial.
Os nutrientes de liberação controlada também são inovações recentes, nutrientes encapsulados ou de liberação gradual, que reduzem as perdas e os riscos de toxicidade, mantendo uma alimentação equilibrada ao longo de todo o ciclo da planta.
Já os bioestimulantes, à base de aminoácidos e extratos vegetais, vêm sendo incluídos nas soluções nutritivas atuais e promovem a melhoria da resistência a estresses ambientais, como altas temperaturas, além de potencializar o desenvolvimento da planta, melhorando o desenvolvimento radicular e a qualidade da alface.
Recirculação automática
A tecnologia de recirculação automática permite regular automaticamente o processo de entrada de água e solução nutritiva conforme as necessidades das plantas, reduzindo o consumo de água e evitando o desperdício. A água circula diversas vezes, com reposição apenas da quantidade necessária.
Os sistemas de filtragem e esterilização ultravioleta eliminam patógenos e evitam o acúmulo de microrganismos indesejados na solução nutritiva, reduzindo as doenças que poderiam afetar o sistema hidropônico.
Por fim, as prateleiras verticais automatizadas permitem o cultivo vertical, otimizando espaço e elevando a produção por metro quadrado. Esta tecnologia permite que alguns sistemas sejam rotativos ou móveis, e possibilitam que as plantas recebam luz uniforme e ventilação adequada.
A robótica no manejo de cultivo, de forma geral, reduz a necessidade de mão de obra, reduzindo, por consequência, custos de produção e possíveis erros humanos, além de tornar o processo de cultivo mais ágil.
Como alcançar um cultivo bem-sucedido
O monitoramento da solução nutritiva é fundamental para o sucesso no cultivo hidropônico de alface americana, pois ele assegura que a planta receba os nutrientes em quantidade adequada a cada fase de seu desenvolvimento.
Importante que sejam medidos regularmente alguns parâmetros críticos, ajustando entre eles, se necessário, o pH da solução nutritiva, que influencia diretamente a disponibilidade dos nutrientes à planta e a condutividade elétrica.
Indica, assim, a quantidade de nutrientes disponíveis na solução e a temperatura da solução nutritiva, que para a alface americana deve estar entre 18 e 22°C. Temperaturas mais altas que o recomendado reduzem a solubilidade de oxigênio na água e favorecem o crescimento de patógenos nas raízes.
Temperaturas muito baixas inibem a absorção de nutrientes. Também deve-se monitorar a oxigenação da solução, já que, sendo adequada, ela previne doenças radiculares e garante plantas saudáveis.
Fique de olho na solução
Para auxiliar na disponibilidade de oxigênio são recomendadas bombas de ar e difusores, especialmente em sistemas DWC (Deep Water Culture), onde as raízes ficam submersas. Também deve-se dar especial atenção à frequência de troca e reposição da solução nutritiva.
Visando evitar o acúmulo de resíduos e manter o equilíbrio nutricional, é recomendado trocar a solução após a colheita. Por isso, cada bancada deve ter seu reservatório de solução e, caso não tenha, recomenda-se que a bancada a ser colhida seja desativada antes do processo de colheita.
Ocorrem casos em que a solução fica muito suja, principalmente quando utilizada fibra de coco como substrato, além dos problemas com as algas, que dificultam o desenvolvimento da planta. Nessas situações é indicada a troca total da solução e a limpeza do reservatório. A reposição de nutrientes ocorre após a água do tanque ser completada.
Durante a reposição não é indicado que a solução nutritiva circule as bancadas, afim de evitar a leitura errada do medidor de condutividade elétrica.
Técnica de colheita mais adequada para a alface americana
A colheita da alface americana em hidroponia deve ser realizada cuidadosamente para garantir que o produto final mantenha suas características e que seja o mais fresco possível, mantendo sua textura crocante e uma vida útil prolongada.
A técnica de colheita correta deve levar em conta o manuseio suave das plantas e a minimização da perda de água. Quanto ao momento ideal para colheita, sempre que possível deve ocorrer nas primeiras horas da manhã, ou à noite, evitando estresse na planta e perda de água.
A alface americana deve ser colhida quando atinge o tamanho ideal para venda, geralmente entre 25 e 40 dias após o transplante, dependendo da variedade, do ambiente de cultivo e da região.
A vantagem do sistema hidropônico é colher a alface com suas raízes inteiras, prolongando seu tempo de prateleira, já que a presença das raízes permite à planta continuar absorvendo umidade e retardando o processo do murchamento.
Pós-colheita e armazenamento
Quanto à pós-colheita e ao armazenamento, é essencial levar a alface logo após a colheita para uma câmara de restauração ou a um local que possa mantê-la fria, reduzindo assim sua taxa de respiração e prolongando seu tempo de prateleira.
A temperatura recomendada para armazenamento de alface americana é de 1,0 a 4,0°C, com uma umidade relativa entre 90 e 95%. Havendo a necessidade de higienizar as plantas, utilizar água fria e suave, evitando molhar demais as folhas ou quebrá-las, para não acelerar a deterioração.
O processo de secagem rápida após a lavagem reduz problemas de bolores e bactérias. As embalagens devem ser de plástico e ventiladas, ou bolsas com microfuros, permitindo boa circulação de ar e evitando a umidade em excesso.
No armazenamento, as plantas devem ficar na vertical, evitando que suas folhas se quebrem, minimizando assim os riscos de danos e murchamento.
Controle fitossanitário
Para que sejam prevenidos problemas comuns, como a queima de bordas e doenças foliares no cultivo hidropônico de alface americana, é essencial adotar práticas de manejo adequadas.
Essas envolvem desde o controle ambiental até a nutrição equilibrada e práticas preventivas. O problema de queima de bordas nas folhas é frequentemente causado por desequilíbrios nutricionais, especialmente por deficiência de cálcio ou excesso de sais, sendo necessário manter um fornecimento equilibrado de nutrientes e monitoramento constantemente da condutividade elétrica da solução nutritiva, garantindo que esteja sempre dentro da faixa recomendada.
Em situações em que a queima de bordas é persistente, a adição de cálcio via foliar, por meio de pulverização, pode ajudar a fornecer o nutriente de forma direta e rápida para as folhas, prevenindo a deficiência.
Manejo ambiental
Outra prática que ajuda a prevenir problemas comuns é o manejo ambiental, como o controle da umidade e ventilação. Instalar ventiladores para aumentar o fluxo de ar entre as plantas é uma prática simples e eficaz.
As temperaturas acima de 24°C elevam o risco de doenças e reduzem a absorção de cálcio, o que pode intensificar problemas como a queima de bordas. Manter a temperatura entre 18 e 22°C garante um ambiente ideal para o cultivo.
Já o espaçamento adequado entre plantas (20 a 30 cm de distância entre cada muda de alface americana), evitando o sombreamento e permitindo uma boa ventilação, reduz a umidade nas folhas e diminui o risco de doenças.
Prevenção é sempre melhor
Também a oxigenação da solução nutritiva, assim como demais práticas preventivas e de higiene, como por exemplo o uso de solução de hipoclorito de sódio ou peróxido de hidrogênio para sanitizar os tubos, reservatórios e recipientes entre os ciclos de cultivo.
Por fim, o controle biológico, a aplicação de produtos preventivos, além da rotação de culturas e intervalo entre colheitas. Alternar o cultivo com outras espécies, por exemplo, também é uma alternativa para driblar as pragas e doenças, como manjericão ou rúcula, podendo ajudar a reduzir a pressão de doenças específicas da alface.