Fernando Simoni Bacilieri
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – ICIAG-UFU
João Ricardo Rodrigues da Silva
Engenheiro agrônomo
José Geraldo Mageste
Engenheiro florestal, doutor e professor – ICIAG-UFU
A alface (Lactuca sativa) é a principal hortaliça folhosa comercializada e consumida pela população brasileira devido à facilidade de aquisição e por ser produzida durante o ano inteiro. No entanto, sua produção necessita de cuidados e investimentos para a condução de lavouras sadias, visando à colheita de produtos saudáveis, de aparência perfeita e de boa qualidade.
Um dos fatores que pode prejudicar a produção e qualidade da cultura da alface é o ataque de patógenos, entre eles as doenças causadas por fungos e oomicetos, como o tombamento de plantas (Pythiumspp), mofo branco (Sclerotiniasclerotiurm e Sclerotiniaminor), podridão ou murcha-de-esclerócio (Sclerotiumrolfsii), queima-da-saia (Rhizoctoniasolani), fusariose (Fusariumoxysporum f. sp. lactucae), míldio (Bremialactucae), mancha-de-cercóspora (Cercospora longÃssima), septoriose (Septorialactucae) e oÃdio (Erysiphecichoracearum).
Controle
O controle de doenças em plantas tem como objetivo evitar ou reduzir a incidência e severidade delas, levando-se em consideração o aspecto econômico e ambiental, com o uso de métodos adequados e eficientes de controle.
O método químico, com a aplicação de fungicidas, é o mais utilizado para prevenção ou controle dos patógenos que acometem a alface durante as fases de seu desenvolvimento.
Contudo, o controle de doenças não deve ser limitado apenas ao uso de defensivos agrícolas. São necessárias ferramentas de manejo, como por exemplo, o manejo da nutrição das plantas, uma vez que é sabido que o estádio nutricional influencia diretamente na resistência ou suscetibilidade ao mal e habilidade de patógenos causarem doenças.
Os nutrientes interagem como parte do componente ambiental, e a nutrição da planta, embora frequentemente não reconhecida, sempre foi um componente do controle de doenças.
Questão nutricional
Uma crescente evidência deste fato é que a deficiência ou desequilíbrio nutricional aumenta a suscetibilidade das plantas ao ataque de patógenos, intensificando as perdas. Tendo isso em mente, a aplicação de fosfitos torna-se uma alternativa de manejo para indução de resistência na cultura da alface contra patógenos.
A neutralização do ácido fosforoso (H3PO3) por uma base, como hidróxido de potássio, de amônio, de cálcio, de magnésio, de cobre ou de zinco, entre outras, dará origem aos sais conhecidos como fosfitos. Deste modo, encontram-se no mercado diferentes formulações de fosfitos com composição nutricional e concentrações variadas.
Apesar de serem registrados e comercializados como fertilizantes foliares, os fosfitos proporcionam benefícios que vão além da questão nutricional, apresentam efeitos positivos sobre o metabolismo das plantas, ativando a resistência por meio da produção de compostos de defesa, ou mesmo por ação direta sobre o desenvolvimento de patógenos, especificamente os oomicetos, já amplamente relatados na literatura científica por trabalhos de pesquisa.
Fosfitos
Os fosfitos podem ser utilizados desde a produção das mudas nos viveiros, diluÃdos em água e aplicados via foliar por meio de pulverizações, ou via rega das bandejas, pois devido à alta sistemicidade, estes compostos serão rapidamente absorvidos por raízes e folhas e redistribuídos pela planta toda e ajudarão na formação de mudas sadias.
Para melhor eficiência no uso dos fosfitos no cultivo de alface é importante a adoção de um programa de aplicações sequenciais desde o transplantio, porque a indução da resistência é temporária e precisa ser reativada frequentemente para manter os mecanismos de defesa acionados.
Pensando no aspecto nutricional, o fosfito de cálcio pode ser altamente vantajoso para a cultura da alface, pois a suplementação foliar com cálcio auxilia na prevenção do “tipburn“ ou queima das bordas, que é um distúrbio fisiológico causado pela deficiência deste nutriente que afeta a produtividade e a qualidade das plantas colhidas, especialmente em cultivares de alface americana.
Atenção redobrada
Os produtores devem ficar atentos, pois alguns pesquisadores afirmam que o processo de indução de resistência provocada por substâncias elicitoras, como os fosfitos, gera custos energéticos com alocação de recursos que a planta utilizaria para crescimento e desenvolvimento, e como consequência as “cabeças“ da alface podem apresentar tamanho médio menor.
Existe, no mercado, uma grande diversidade de produtos à base de fosfitos produzidos por empresas idôneas e tradicionais. Sendo assim, para escolher adequadamente algum destes produtos os agricultores não devem considerar somente a concentração dos nutrientes informados na bula, porque nem sempre o produto mais concentrado é o mais eficiente, uma vez que a qualidade da matéria-prima e o processo de fabricação influenciam diretamente no produto final e no que ele vai entregar quando utilizado.
Também é muito importante seguir as recomendações de uso dos fabricantes quanto à dosagem, número de aplicações, intervalo de uso e compatibilidade com demais produtos, bem como o acompanhamento por técnicos que recomendam esse tipo de tecnologia, para obtenção de resultados satisfatórios.
Custo x benefÃcio
Quando falamos em custo x benefÃcio, um dos resultados esperados que esse tipo de tecnologia pode proporcionar refere-se à redução da dependência do uso dos defensivos, o que vem de encontro à preocupação mundial no que diz respeito à sustentabilidade e à produção de alimentos com qualidade.