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Fosfitos: Como as plantas se comportam na sua presença?

Autores

Carolina Maniero Gava
Engenheira agrônoma e supervisora de desenvolvimento e marketing da Intercuf Indústria e Comércio LTDA
cmaniero@intercuf.com.br
Hélio Casale
Engenheiro agrônomo e diretor-presidente da Tecnores Consultoria e Serviços Ltda.
hecasale@terra.com.br
Fotos: Shutterstock

Os principais benefícios associados ao uso do fosfito incluem: possibilidade de aplicação em qualquer parte da planta devido ao modo de ação sistêmico; efeito nutricional, pois fornece elementos essenciais, macro e micronutrientes, dependendo da sua formulação; promovem indução de resistência nas plantas pela produção de fitoalexinas e atuação direta no fungo; incremento da produtividade e qualidade pela interferência no metabolismo das plantas; incrementa a absorção de nutrientes e agroquímicos, quando aplicados em conjunto (Castro et al., 2009).

Os fosfitos têm sido estudados como fonte de micronutrientes para as plantas e têm apresentado respostas muito interessantes, pois possuem rápida absorção e excelente ação complexante, favorecendo a absorção de K, B, Mo, Zn e outros elementos de maneira mais eficaz. As misturas permitidas com outros produtos e algumas formulações de fosfito podem reduzir o pH da solução, melhorando a eficácia e reduzindo as doses de alguns herbicidas (Vitti et al., 2012).

Solubilidade

Devido à característica química, os fosfitos apresentam maior solubilidade em água e maior rapidez na absorção, sendo absorvidos entre três a seis horas. Uma vez absorvido pelas plantas, o íon fosfito apresenta uma distribuição ascendente, desde os brotos até os pontos de crescimento, e descendentes desde os brotos até os pontos de crescimento das raízes, conferindo proteção completa das plantas ao ataque de fungos.

Este íon favorece a absorção dos nutrientes catiônicos, tais como o potássio, cálcio, magnésio, cobre, ferro, manganês e zino (Brandão, 2006). Enquanto os fosfatos apresentam baixa mobilidade e disponibilidade no solo, baixa solubilidade em água e são absorvidos apenas por raízes e folhas, os fosfitos apresentam alta mobilidade e disponibilidade no solo, alta solubilidade em água, são absorvidos por raízes, troncos, folhas e frutos, apresentam alto carreamento de nutrientes, alta persistência na planta e ações preventiva e curativa contra fungos, características que não ocorrem no fosfato (Yamada, 2012).

Segundo Junior et al. (2008), são necessários cinco dias para a planta absorver 50% dos fosfatos após a aplicação. Já no caso dos fosfitos, a planta realiza 10% da absorção em 16 horas e 90 a 98% da absorção entre três e 20 horas após a aplicação. Além disso, a planta gasta muito menos energia para absorver e assimilar os fosfitos, que são deslocados rapidamente das folhas e raízes para as regiões dreno.

Pesquisas

Em trabalho realizado por Guedes (2012) com aplicação de 68Zn em citros, o fosfito de Zn sólido resultou nos maiores teores de Zn foliar 24 horas após a aplicação das fontes de zinco, diferindo dos demais tratamentos, com exceção da fonte aminoácidos. Na média das fontes, o maior teor de zinco nas folhas, após 72 horas da pulverização do nutriente, foi observado no fosfito, seguido pelo cloreto (Tabela 1).

Tabela 1. Teor de zinco nas folhas de citros em diferentes intervalos de tempo após a pulverização foliar em cada fonte(1)

                                      Tempos após aplicação (horas)
24 48 72 Média das fontes
  De Zn total (mg kg-1)
Controle 37 Da 61 Ba 63 Ca 48 C
Sulfato 130 Bb 192 Aa 83 Cc 110 B
Edta 135 Bb 205 Aa 73 Cc 110 B
Fosfito 165 Ab 209 Aa 102 Bc 132 A
Aa(3) 158 ABb 197 Aa 57 Cc 111 B
Cloreto 76 Cc 218 Aa 165 Ab 123 AB
Média dos tempos 117 b 180 a 93 c 105(2)
DMS(4) 27,01
DMS(5) 33,13
CV% 12,12

(1) Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade;

(2) Média geral;

(3) AA: Quelato de aminoácido

(4) DMS tempo

(5) DMS tratamento

Guedes (2012) também avaliou a absorção e translocação de 68Zn nas fases de floração e frutificação em folhas novas, expandidas e maduras de citros. Independentemente do tipo de folha, a maior contribuição no fornecimento de Zn na época da floração foi obtida com a fonte EDTA, a qual levou 82% do zinco encontrado nas folhas, seguido de 59% proveniente do fosfito e 46% do sulfato.

Já na fase de frutificação, 78% do zinco encontrado nas folhas foram provenientes do fosfito, seguido de 73 e 56% das fontes EDTA e sulfato, respectivamente, ou seja, o fosfito apresenta eficiente translocação dentro da planta.

Em campo

Em todas as culturas, os fosfitos proporcionam excelentes resultados devido à sua vantagem de fornecer os micronutrientes de forma rápida e eficiente às plantas, além de seu papel como ativador de AIA (raízes e novas brotações) e de todos os compostos fenólicos, ou seja, compostos de defesa da planta contra pragas e doenças.

No caso da soja e do milho, existe uma particularidade que torna o fosfito ainda mais importante no manejo dessas culturas, que é o uso do glifosato nas variedades transgênicas (RR), plantadas em quase toda a totalidade das áreas mundiais de soja e milho.

Sabe-se que o glifosato (N-(fosfomonometil) glicina) é um forte quelatizante de metais, os quais são usados extensivamente na agricultura e considerados essenciais para a atividade enzimática das plantas. Este herbicida forma quelatos estáveis e pouco solúveis, tanto com macro quanto com micronutrientes, principalmente o manganês, tornando-os indisponíveis às plantas.

Desafio

Após a adoção do plantio de soja e milho RR, muitos produtores deparam-se com o conhecido “yellow-flash”, ou seja, o amarelecimento das folhas consequente da deficiência do manganês que está complexado pelo glisofato, além de um retardado arranque inicial e fechamento de linhas.

No entanto, este problema torna-se imperceptível às plantas quando as mesmas recebem, junto à aplicação do herbicida, o manganês na forma de fosfito, o qual é o único sal que não permite a reação do elemento com o glifosato por formar um complexo fraco com o manganês, disponibilizando rapidamente o nutriente após ser absorvido pela planta. 

Benefícios

A aplicação do fosfito de manganês juntamente ao glifosato é capaz de solucionar o problema do estresse que este defensivo causa na planta e promover o rápido desenvolvimento da cultura.

Na cultura da soja, a aplicação de 0,5 kg/ha do fosfito de manganês mais concentrado do mercado (21% de Mn e 68,4% de íon fosfito), juntamente ao glifosato, é capaz de garantir rápido fechamento de linha, alta sanidade e boa estruturação da soja, aspectos que farão toda a diferença no incremento da produtividade no fim do ciclo da cultura, quando comparado às áreas com fornecimento do glifosato sem a adição do fosfito de manganês na mesma aplicação.

Já no caso do milho, a aplicação de 0,5 kg/ha do produto à base de fosfito de manganês e zinco, com concentrações de 14% de Mn; 8,3% Zn e 67,8% de íon fosfito, juntamente ao glifosato, é capaz de garantir rápido arranque inicial e consequente incremento na produtividade da cultura. O zinco é adicionado na fase inicial do milho, quando há uma grande demanda do mesmo pela cultura nesse período.

Comparação de produtividade e ganhos de produtividade em soja entre tratamentos realizados com fornecimento de micronutrientes através do íon fosfito em todo o ciclo da cultura (T1); fornecimento de micros por meio de fontes convencionais (T2) e sem o fornecimento de micronutrientes na via foliar (T3).

Investimento x retorno

Conforme citado anteriormente, sabe-se que mesmo as cultivares transgênicas de soja e milho sofrem com a aplicação do glifosato. A duração do estresse causado é de oito dias após a aplicação, período em que o desenvolvimento da planta fica estagnado (como dizem os produtores, “a planta trava”).

Após o oitavo dia, a planta retoma seu desenvolvimento normal. Atualmente, a cultura da soja apresenta um ciclo médio de 100 dias e, sabendo que em oito desses 100 dias a planta está “travada”, ela deixa de se desenvolver em 8% do ciclo, que é exatamente a média de porcentagem de ganho em produtividade quando adicionado fosfito do micronutriente Mn na soja. O mesmo ocorre no milho.

Normalmente, um programa nutricional de qualidade, baseado no fornecimento dos micronutrientes por meio do íon fosfito durante todo o ciclo da cultura, gera um ganho médio de 5,0 sacas/ha, comparado ao fornecimento dos micronutrientes por meio de fontes convencionais. O investimento médio em fertilizantes de qualidade à base de fosfitos é de 2,0 sacas/ha, ou seja, lucro líquido de 3,0 sacas/ha ao produtor. Quando comparado ao tratamento nulo (sem aplicação de micronutrientes via foliar durante o ciclo da cultura), o ganho é maior ainda, podendo chegar a 11 sacas /ha.

Não confunda

Os produtores costumam confundir fosfito, proveniente do ácido fosforoso, com fosfato, proveniente do ácido fosfórico. O ácido fosforoso é uma matéria-prima importada e de alto valor agregado, sendo este o único gerador de fosfito, capaz de fornecer nutrição rápida e indução de resistência das plantas.

Já o ácido fosfórico é uma matéria-prima de baixo valor agregado e responsável por fornecer fósforo (P2O5) às plantas. Atualmente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) exige a adição das matérias-primas das formulações nos rótulos dos produtos.

Portanto, caso não esteja escrito “contém fosfito” ou “contém ácido fosforoso” no rótulo e o mesmo apresente apenas o P2O5 como garantia de fósforo, o produto não deverá ser considerado um fosfito.

Este engano também poderá ser evitado caso o produtor encontre produtos com altos teores de fosfito e baixíssimo valor agregado, ou seja, produtos muito baratos que garantem alto teor de íon fosfito não devem apresentar alta pureza de ácido fosforoso em suas formulações – estes podem ser considerados misturas de ácido fosforoso com ácido fosfórico.

Quanto ao manejo, o principal erro cometido no uso de produtos à base de fosfito são as super dosagens, ou seja, dosagens acima do recomendável, o que pode causar fitotoxidez nas plantas. Devido à alta rapidez de absorção dos fosfitos pelas plantas, não são recomendáveis doses de produtos próximas ou equivalentes àquelas utilizadas em produtos à base de nitratos, sulfatos ou cloretos para fornecimento dos micronutrientes.

A melhor maneira de trabalhar com os produtos é fornecer dosagens baixas, porém, constantes do fosfito de cada nutriente demandado pela planta em cada momento de seu ciclo, durante todo o ciclo da cultura.

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