A deficiência de fósforo (P) é um sério problema no solo brasileiro, principalmente no cerrado. Algumas práticas como a implantação do plantio direto têm alterado, em parte, a adsorção, pois a inclusão de matéria orgânica promove a ciclagem desse elemento, o que não ocorre quando adsorvido nos coloides do solo.
Assim como ocorreu com o nitrogênio, está disponível no mercado uma nova tecnologia que promete revolucionar sua aplicação: trata-se do fósforo protegido, que diminui a fixação desse elemento no solo e aumenta a disponibilidade de fósforo para a planta.
O fósforo
O fósforo tem grande importância para as plantas, devido ao seu efeito crucial para o desenvolvimento vegetal, por ser parte da molécula de ATP, que está correlacionada com os processos energéticos; participar de diversas enzimas; entre outras funções.
Desde que a agricultura começou a se desenvolver no cerrado, avalia Adriane de Andrade Silva, professora doutora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o grande problema em relação ao uso do fósforo foi que os solos do cerrado são originalmente ácidos, com grande presença de ferro (Fe) e manganês (Mn), que formam complexos insolúveis com o P.
“Na região do cerrado até existe presença de fósforo, sendo que algumas jazidas de P estão localizadas nessa região, como o famoso fosfato de rocha de Araxá, entre outras fontes de menor solubilidade, fruto da rocha apatita. Então, o grande paradigma em relação ao P era o melhor aproveitamento das jazidas, que são finitas, o que ocorreu por meio do tratamento industrial de fósforo para melhorar a eficiência dessa fonte; então, se obtinham as fontes solúveis que dominaram o mercado por muito tempo, os superfosfatos simples, triplo, MAP e DAP“, lembra a professora.
Evolução do fósforo
Desde o início da utilização das fontes solúveis na agricultura, elas passaram por uma grande evolução. O princÃpio do uso de P solúvel era a aplicação de doses mais elevadas do que a exigência das plantas (em média 70% superior), o mais próximo possível do sistema radicular, para que o fósforo ficasse disponível naquele microambiente.
Já que sua mobilidade no solo é baixa, o fósforo era aplicado para facilitar a absorção e reduzir os processos de adsorção, uma vez que ele estava sujeito a um menor volume de solo nessa aplicação concentrada.
Na agricultura moderna, tem-se observado que entre as práticas utilizadas se trabalha com sistemas de produção, em que é reduzida a mobilização do solo. Isso preserva a sua estruturação, a manutenção da matéria orgânica, a redução de espaçamentos entre as culturas e o plantio de mais de uma safra, retomando a discussão, inclusive, da aplicação de fósforo a lanço em culturas de grande importância, como o milho e soja, e a maior mecanização, o que fez com que a palavra eficiência passasse a ser priorizada nos estudos relacionados a P.
Novidades
Dentre as novidades disponíveis no mercado, Adriane de Andrade destaca as tecnologias de fósforos revestidos, os coatings, que também são chamados de fertilizantes de liberação lenta, fertilizantes inteligentes, entre outras denominações utilizadas pelas principais empresas que desenvolvem a tecnologia do revestimento.
“Diferentemente do nitrogênio, não foi testada ainda uma molécula que produza um efeito sobre os processos de adsorção (fixação e precipitação), como o NBPT, que inibe a ação da uréase. Existem diversas empresas no mercado que comercializam esses fertilizantes revestidos, com várias opções“, diz a professora da UFU.
Ainda segundo ela, a tecnologia é diferenciada em cada produto, o que dificulta o estudo de custo-benefÃcio, pois ainda é necessário que sejam criadas leis para normatizar os fertilizantes. De acordo com a legislação, eles têm que cumprir as mesmas exigências das fontes solúveis, sendo a tecnologia em cada fertilizante um segredo industrial.