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terça-feira, março 19, 2024
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Caqui – Panorama nacional da produção

Autores

Marco Antonio Tecchio
Coordenador do Programa de Pós-graduação em Agronomia/Horticultura – Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA)/UNESP
marco.a.tecchio@unesp.br
Ronnie Tomaz Pereira
ronnie@educarpv.com
Victória Monteiro da Motta
victoriamonteiro11@gmail.com
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Horticultura

Os maiores produtores mundiais de caqui são China, Coréia, Espanha, Japão e Brasil. Considerando o período de 1961 a 2013, houve um crescimento na área cultivada e na produção mundial de caqui de, respectivamente, 755 e 424%.

Deve-se ressaltar a importância dos países asiáticos, sendo a China, Coreia e Japão responsáveis por 86% da produção mundial e 96% da área cultivada, sendo consideradas as regiões tradicionais de cultivo, com a maior parte da produção destinada ao mercado interno. Por outro lado, destacam-se a Espanha, Austrália, Nova Zelândia e Israel na produção de caqui para exportação.

No Brasil, a área cultivada de caqui é de 8.588 ha, concentrada nas regiões sudeste, sul e nordeste. Os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro são responsáveis por, respectivamente, 58, 19, 8 e 6% da produção nacional. A produtividade média da cultura do caqui no Brasil é de 22,4 ton/ha, com destaque para o Estado de São Paulo, que apresenta a maior produtividade (28,5 ton/ha) em função da alta tecnologia adotada no cultivo dessa frutífera.

No Estado de São Paulo destacam-se como as principais regiões produtoras Mogi das Cruzes, Sorocaba, Campinas, Itapetininga e Itapeva, sendo responsáveis por 93% da produção estadual de caqui.

Variedades

As variedades de caqui são divididas em três grupos: caquis taninosos (Shibugaki), caquis doces (Amagaki) e caquis variáveis. Nos caquis taninosos, independentemente se os frutos apresentam ou não sementes (com ou sem polinização), a coloração da polpa é alaranjada e os frutos apresentam taninos, sendo que as principais cultivares são Taubaté, Coração de Boi, Costata, Pomelo, Rubi e Trakoukaki.

No grupo de caquis doces, os frutos não apresentam tanino, sendo a coloração da polpa alaranjada. Destacam-se as cultivares Fuyu e Jirô. E, no grupo variável, destacam-se as cultivares Giombo, Kyoto, Rama Forte e Rama Forte Tardio. Neste grupo, os frutos que apresentam sementes têm a polpa escurecida, em função da insolubilizacão dos taninos pelos fenóis liberados pelas sementes.

No Estado de São Paulo, as cultivares de caqui Rama Forte, Giombo, Fuyu e Taubaté respondem por, respectivamente, 50, 19, 15 e 14% da produção de caqui. Referente ao Rio Grande do Sul, segundo produtor nacional, a principal cultivar produzida é o Kyoto.

A cultivar Fuyu é exigente quanto ao clima ameno, necessitando também de uma planta polinizadora próxima, visando melhor qualidade dos frutos e evitando a queda prematura de frutos. A principal variedade utilizada como polinizadora é a IAC 5.

Em pomares a serem implantados, recomenda-se intercalar a cada cinco plantas da cv. Fuyu uma planta da cv. IAC 5 ou, em pomares em produção, realizar a sobre-enxertia da cultivar IAC5 em ramos da cv. Fuyu, para servir de planta polinizadora para três plantas laterais. Verifica-se que os frutos polinizados são maiores, mais globosos e menos sujeitos a queda.

Apesar da menor produtividade em relação aos demais, o caqui Fuyu é o que atinge as maiores cotações de mercado, possuindo aspectos qualitativos como melhor conservação e qualidade geral do fruto. Por esse motivo, recomenda-se para essa cultivar a realização de práticas culturais (desbaste de frutos e ensacamento).

Implantação do pomar e manejo cultural

Desde a implantação do pomar, alguns fatores devem ser avaliados visando à escolha do local de cultivo, quanto à localização, correção da fertilidade do solo, qualidade da muda, escolha do sistema de condução da planta, variedade da copa e porta-enxerto, entre outros.

As melhores localizações para a implantação do pomar estão em terrenos de meia encosta por conta da boa drenagem, e cuja exposição seja voltada para o norte, devido à maior incidência de radiação solar e menor ocorrência de ventos frios vindos da face sul.

No preparo de solo deve-se considerar a análise química e física, para então se definir as operações de subsolagem, aração e gradagem, bem como a correta distribuição do calcário. Recomenda-se fazer o preparo do solo e a calagem até os 40 cm de profundidade do solo.

Após a demarcação das linhas de plantio, deve-se realizar o sulcamento ou coveamento, seguido da adubação de plantio. Salienta-se que deve-se utilizar preferencialmente os sulcos abertos na direção da linha de plantio, onde são misturados os fertilizantes orgânicos (esterco de curral ou cama de frango) e químicos, com antecedência mínima de três meses do plantio das mudas.

A utilização de mudas de boa qualidade genética e sanitária é imprescindível, devendo ser obtidas de viveiristas idôneos. O tutoramento das mudas é feito logo após o plantio, amarrando a planta ao tutor com um laço em “8”. Deve-se ater ao controle de formigas cortadeiras na formação inicial das plantas, como também na fase adulta.

Algumas práticas, como bacia de contenção, cobertura morta, cobertura viva, plantio em nível e adubação verde são usadas para conter processos erosivos do solo.

O cultivo muito adensado deve ser evitado em função do controle de pragas e doenças. Dessa forma, o espaçamento deve ter como base o tipo de maquinário a ser utilizado no pomar, em que o espaço livre entre as linhas deve ser de, no mínimo, um metro, e na linha pode haver 15% de sobreposição.

O espaçamento entrelinhas pode ser determinado adicionando 2,5 metros ao diâmetro da copa e entre plantas multiplicando o diâmetro por 0,85. Algumas cultivares menos vigorosas aceitam espaçamentos mais adensados, como a Fuyu e outras de hábito de crescimento piramidal.

Dessa forma, o espaçamento mais adotado para as cultivares mais vigorosas, como Taubaté, Giombo e Rama Forte, é de 7 x 6m, enquanto que para cultivares menos vigorosas, a exemplo do Fuyu, pode-se adotar o espaçamento de 6 x 5 m.

Plantio

Inicialmente, as mudas são plantadas com haste única. A poda de formação objetiva definir a estrutura produtiva da planta, com a formação das pernadas principais e secundárias. No sistema de vaso aberto ou taça aberta, o desponte das mudas no campo deve ser realizado a 60 a 80 cm do solo para a formação de três a quatro pernadas dispostas radialmente e em diferentes pontos de inserção no caule.

Podas

Devem-se eliminar os ramos próximos ao solo, mal posicionados ou ramos fracos. Os ramos devem ser arqueados, visando mantê-los a 60º em relação ao solo. No inverno do ano seguinte, deve-se encurtar 1/3 das pernadas principais, deixando no ápice dois ramos voltados para o exterior. Essa poda deve ser realizada até o terceiro ou quarto ano após o plantio, dependendo da região de cultivo.

Anualmente, após o 5º ano de plantio, no período de junho a julho, deve-se realizar a poda de produção, visando eliminar ramos supérfluos, mal posicionados e voltados para baixo, doentes, praguejados e secos. Assim, mediante esta modalidade de poda visa-se proporcionar maior incidência de radiação solar e arejamento no interior da copa, favorecendo a formação de ramos mistos, com gemas reprodutivas que serão responsáveis pela formação dos frutos.

Salienta-se que as gemas mistas estão localizadas no ápice dos ramos do ano e, sendo assim, não se recomenda na cultura do caquizeiro a poda de encurtamento de ramos. Na condução da planta na forma de taça aberta, procura-se manter após a poda 130 a 140 ramos produtivos por planta.

Realiza-se a poda verde nos meses de novembro a fevereiro, visando eliminar o excesso de ramos vegetativos no interior da copa. O raleio de frutos é utilizado principalmente nas cultivares Fuyu e Giombo, sendo um importante trato cultural, deixando-se dois a três frutos por ramo.

Manejo nutricional do caqui

Em relação à calagem e adubação, inicialmente realiza-se a análise de solo a 0-20 e 20-40 cm de profundidade. Recomenda-se elevar a saturação por bases para 80% e o teor de cálcio para nível acima de 7 mmolc/dm3, com aplicação de calcário dolomítico.

Ao se implantar a cultura do caquizeiro, deve-se estar atento à adubação de plantio. Recomenda-se a aplicação de 20 litros de esterco de curral ou composto, ou ainda quatro litros de esterco de galinha bem curtido em mistura com 1,0 kg de calcário dolomítico, 1,0 kg de fosfato natural, 180 g de K2O e 5 g de zinco, bem misturados.

Se a análise de solo acusar níveis baixos ou muito baixos de fósforo e potássio, recomenda-se aplicar 90 kg/ha de P2O5 e 100 kg/ha de K2O em faixa de 2,5 m de largura na linha de plantio, incorporando ao solo.

Os cinco primeiros anos são fundamentais para a boa formação das mudas de caqui, assim, uma correta adubação de formação é a chave para o sucesso. Recomenda-se aplicar anualmente, por planta, em função dos teores de P2O5 e K2O no solo, e a idade, 50 a 200 g de N, 20 a 240 g de P2O5 e de K2O, em doses crescentes ao longo do tempo, parcelando em três vezes ao ano, de dois em dois meses, a partir do início da brotação.

A partir do início da produção, recomenda-se aplicar anualmente 2,0 ton/ha de esterco de galinha ou 10 de esterco de curral bem curtidos. Em função dos teores de P2O5 e K2O no solo, recomenda-se 70 a 140 kg/ha de N, 20 a 120 kg/ha de P2O5 e 20 a 120 kg/ha de K2O.

Deve-se ter atenção às doses de nitrogênio e potássio, uma vez que essas devem ser parceladas, aplicando-se 20% no início da brotação, 60% no meio do período de crescimento dos frutos e 20% na época da colheita. Após a colheita, distribui-se esterco e fósforo e, se necessário, cálcio e magnésio nas doses anuais aplicadas em coroa larga na projeção da copa.

Problemas comuns relacionados à adubação tem sido verificados em algumas propriedades, como o uso de altas doses de nitrogênio e potássio em períodos incorretos, causando queda de frutos e redução de firmeza dos frutos, pela indisponibilidade do cálcio, mesmo quando esse se encontra no sistema. Isso pode ser evitado aplicando-se a relação correta entre os nutrientes.

É importante ressaltar que uma planta bem nutrida apresentará melhor desempenho em relação a pragas e doenças, guardadas as devidas características inerentes a cada cultivar. Experimentos realizados na cultura mostraram que o correto manejo de adubação tende a aumentar a produtividade progressivamente, respondendo com um aumento próximo a 20% após o estabelecimento definitivo das corretas doses de aplicação.

Além do ganho em produtividade, existe ainda o ganho em qualidade de fruto, como a riqueza de coloração, textura e sabor.

Daninhas

O controle de plantas daninhas é feito mediante capinas superficiais, roçadas, utilização de cobertura morta e herbicidas pós-emergentes. O escoramento de ramos com madeira, em plantas adultas com excesso de frutos, evita a quebra de galhos.

Cuidados extras

Visando a melhoria na qualidade dos frutos, recomenda-se o desbaste de frutos nas cultivares Giombo e Fuyu, devendo-se manter 1 a 2 frutos por ramo. Utilizando-se o desbaste de frutos, tem-se o aumento do peso dos frutos remanescentes.

O ensacamento de frutos é comumente utilizado para caquis do grupo amagaki (caquis doces), como é o caso do Fuyu, sendo realizado logo após o raleio, evitando-se assim o ataque de pássaros, morcegos, insetos ou danos advindos de intempéries, como granizo.

Um problema frequente na cultura do caquizeiro é a queda de frutos, ocorrendo em dois períodos: setembro/outubro e dezembro/janeiro. Dentre os principais motivos, destacam-se: ventos frios associados à precipitação durante o florescimento; alta precipitação durante o florescimento, associado a dias nublados; adubação desequilibrada, principalmente relacionada ao excesso de nitrogênio aplicado antes do florescimento; queda prematura das folhas no ciclo anterior; estresse da capina sob a copa das plantas, entre outros.

Colheita

A colheita normalmente é realizada no período entre fevereiro a julho, dependendo da região, da cultivar e do manejo adotado, exceto em algumas localidades tropicais específicas, como no nordeste brasileiro, onde se procura colher durante o segundo semestre.

Efetua-se a colheita por meio de corte por tesoura adequada ou manualmente, pela torção do pedúnculo. Os caquis do grupo de variedades taninosos devem ser colhidos quando o orvalho já estiver seco, já que podem sofrer queimadura no processo seguinte, onde serão levados para galpões realizando-se a destaninização.

Para as cultivares Rama Forte, o produto mais utilizado para a destanização é o etileno, sendo aplicado em câmara fechadas. Já para a cv. Giombo, tendo em vista que os frutos são preferencialmente consumidos com textura firme, utiliza-se principalmente álcool gás carbônico para se fazer a destanização.

Mercado consumidor e precificação

Além de saber a procedência dos frutos, o mercado consumidor é exigente nos demais aspectos do fruto, como cor, brilho, firmeza, sabor e, também, o tempo de prateleira.

O preço médio normalmente oscila de acordo com a oferta da fruta, sendo mais altos no início de safra, menores no pico de oferta e voltando a subir no final da safra. Para os produtores da Cooperativa Agrícola Nossa Senhora das Vitórias (Cooperativa NSV), situada em Jundiaí, cuja produção majoritária é da cultivar Rama Forte (90% da produção de caqui), a janela de produção ocorre de fevereiro a julho, com pico de oferta entre maio e junho.

Segundo relatos dos produtores, em 2018 o preço médio pago no início da safra (fevereiro/março) estava em R$ 5,00/kg, sendo comercializado em caixas de 6,0 kg. Para o pico de oferta (abril/maio) o valor decresce para R$ 2,60/kg, voltando a ter uma valorização no final da safra, sendo comercializado por R$ 5,00 (junho/julho). No ano de 2017, o preço médio do caqui ficou em R$ 5,22/kg.

Em relação ao custo de produção, varia entre produtores, de acordo com o manejo adotado. Segundo informações da Cooperativa NSV de Jundiaí, estimam-se que a média de custo de produção situa-se entre R$ 8,00 a R$ 12,00/caixa de 6,0 kg de frutos.

De acordo com levantamento feito por especialistas da Associação Paulista de Produtores de Caqui (APPC), Cooperativa Agrícola de Capão Bonito (CACB) e Thomasetto Frutas, o custo de produção para o caqui em 2018 foi de, aproximadamente, R$ 48.000,00/ha. Do custo total, os gastos com embalagem, mão de obra, defensivos, horas máquina, fertilizantes/corretivos, são de, respectivamente, 40,4; 10,8; 8,5; 3,2 e 1%. Os demais gastos (36%) referem-se a outras despesas e custos indiretos.

Referente ao mercado consumidor, os caquis produzidos no Estado de São Paulo atendem os mercados de Rio de Janeiro, Goiânia, Belo Horizonte e também a região nordeste (Recife e Aracaju), entre outros.

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