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quinta-feira, maio 2, 2024
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Grandes preocupações com as plantas daninhas de difícil controle

Autores

Vitor Muller Anunciato 
vitor.muller@gmail.com
Roque de Carvalho Dias
roquediasagro@gmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres em Proteção de Plantas e doutorandos em Agronomia – UNESP/FCA
Leandro Bianchi
leandro_bianchii@hotmail.com
Samara Moreira Perissato
samaraperissato@gmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres em Produção Vegetal e doutorandos em Agronomia – UNESP/FCA
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br

As plantas daninhas estão presentes em todas as regiões do País, em ambientes urbanos (terrenos baldios, rodovias, ferrovias, áreas industriais, entre outros), aquáticos (prejudicam pesca, lazer, navegação e produção de energia), mas principalmente em ambientes agrícolas, onde competem diretamente com as culturas, podendo reduzir a produção e qualidade do produto final, dificultar tratos e colheita, o que acaba gerando mais custos e diminuição da rentabilidade do empreendimento.

As regiões mais afetadas por plantas daninhas são principalmente as produtoras de soja e milho, como exemplo, Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. O Norte e Nordeste possuem áreas de cultivos de grandes culturas relativamente novas, por esse motivo as plantas daninhas resistentes ainda não são grandes problemas nestas regiões.

MIPD

O manejo integrado de plantas daninhas (MIPD) consiste na adoção de diversos métodos para prevenir e controlar essas espécies. Em se tratando de métodos de controle, o controle químico é a ferramenta mais adotada dentro do MIPD devido a sua baixa dependência de mão de obra, eficácia, rapidez e viabilidade econômica.

Com o advento das culturas geneticamente modificadas para a tolerância a herbicidas, o glifosato ganhou amplo espaço no manejo de plantas daninhas dentro do ciclo das culturas. No entanto, a alta frequência de utilização desse herbicida tem provocado uma forte pressão de seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes ao mesmo, que já estão naturalmente presentes na área, mas em baixa frequência.

Em virtude disso, já existem espécies resistentes no Brasil, com destaque, por exemplo para o azevém (Lolium multiflorum), a buva (Conyza spp.) e o capim-amargoso (Digitaria insularis). As plantas daninhas de difícil controle (PDDC) são motivo de preocupação entre todos os produtores rurais principalmente pela ineficiência do glifosato, herbicida mais utilizados tanto na safra quanto entressafra.

Além disso, essas plantas são responsáveis por perdas na produtividade das lavouras, competem por diversos fatores importantes relacionados ao desenvolvimento das culturas, provocam perdas na qualidade do produto final, e em alguns casos, pode ser hospedeiras alternativas de pragas e doenças.

Prejuízos

As PDDC podem estar presentes em todas as culturas, porem são mais comuns em áreas de cultivo onde o glifosato é utilizado de maneira sistemática em especial na cultura de soja e milho no Brasil. Em soja, por exemplo, os valores chegam entre R$ 250 e R$ 400 por hectare com plantas daninhas de difícil controle, equivalente a 15 sacas de soja ha-1.

Assim, considera-se que os números são alarmantes e que os produtores estão ansiosos por informação, discussão e solução para a questão de resistência, um dos principais fatores que tornam o controle das plantas daninhas muito difícil e acima de tudo custoso.

Deve-se ressaltar que os principais aumentos dos custos da resistência se relacionam com a necessidade do uso de herbicidas alternativos e as perdas de produtividade devido à competição das plantas daninhas resistentes. E que o custo com herbicidas alternativos é variável de acordo com a opção adotada pelo produtor, uma vez que, na maioria dos casos, há mais de uma alternativa de produto para uso no manejo dessas plantas.

Como amenizar esse problema

O glifosato, graminicidas e 2,4-D são os três herbicidas que estão presentes em praticamente todo planejamento de controle de plantas daninhas, principalmente para as grandes culturas. O sucesso desses herbicidas está relacionado ao seu amplo espectro de controle, ou seja, controlam diferentes espécies de plantas daninhas e também há possibilidade de mistura entre eles, entretanto, ressalta-se que a mistura dos três não é aconselhável, devido a perda de eficiência.

Além disso, ressalta-se o cuidado em basear o manejo de plantas daninhas nesses três herbicidas. Outras alternativas são o uso de herbicidas de diferentes modos de ação, como os inibidores da ALS, PROTOX e fotossistema, cada qual com suas características de utilização, ficando para técnicos e agricultores a escolha mais adequada para a sua utilização. 

Dicas

O segredo do controle das plantas daninhas está no planejamento. Planejar todos os métodos de controle a serem utilizados e quando serão utilizados, a exemplo, roçadas, herbicidas de pré e/ou pós-emergentes, cobertura vegetal na entressafra, entre outras, são estratégias fundamentais para se obter um excelente controle das plantas daninhas e viabilizar os cultivos.

O MIPD que engloba as técnicas citadas anteriormente, deve ser adotado e sempre atentar-se não só no controle momentâneo das plantas daninhas, a fim de evitar a matocompetição, mas também a redução do banco de sementes, afim de evitar novos fluxos de plantas daninhas na área.

A não produção de sementes de plantas daninhas com o passar do tempo vai reduzindo a pressão de infestação na área, diminuindo gradualmente o custo de manejo das mesmas. Sendo de extrema importância basear-se no MIPD em várias técnicas de manejo e vários modos de ação de herbicidas ao longo do tempo, não apostando tudo em um método de controle.

Erros

Um erro que vem se repetindo e com certeza é o mais importante, pois afeta não só o produtor, mas toda a região em que este está inserido é a utilização de um mesmo modo de ação de herbicida, levando a seleção de biótipos resistente de plantas daninhas. Dentre os casos mais famosos temos o glifosato, herbicida mais utilizado no combate de plantas daninhas a partir dos anos 90, favorecido pela introdução das culturas transgênicas resistente a esse herbicida, bem como os genéricos no mercado, tornando-o mais acessível aos produtores.

Seu uso contínuo, excessivo e incorreto acarretou na seleção de espécies resistentes a sua aplicação, consequentemente tornando-se um grande problema para controle das plantas daninhas. Vale ressaltar que a resistência de plantas daninhas, não está associada ao uso do herbicida e sim ao seu uso incorreto repetidamente durante ao longo do tempo.

 Outro erro comum e que pode potencializar a disseminação das plantas daninhas resistentes é a falta de adoção de práticas preventivas, como a compra de sementes e mudas não certificadas, a não realizar de rotação de cultura, a cobertura de solo na entressafra e a limpeza de máquinas e implementos agrícolas.

Essas práticas podem garantir a não introdução de plantas resistentes na área de cultivo e também atrasar a disseminação das mesmas. Já em relação ao controle de plantas daninhas, o erro pode se iniciar desde o momento da identificação da planta, levando uma tomada de decisão incorreta.

O somatório desses equívocos durante a safra resulta em um maior benefício as plantas daninhas, levando a maior competição com as culturas e ineficiência no controle.

Direto ao ponto

Os erros devem ser evitados antes mesmo da implantação da cultura, ou seja, todo manejo deve ser tomado a partir do planejamento da safra baseado nos métodos preventivos. A rotação de cultura e a cobertura do solo na entressafra, podem proporcionar a diversificação do ambiente, diminuindo a presença de plantas mais nocivas devido a competição com outras espécies, consequentemente reduzindo a pressão de infestação das plantas resistentes.

O posicionamento ideal da aplicação dos métodos de controle é fundamental, geralmente deve-se realizar o controle químico quando as plantas daninhas não estão muito desenvolvidas pois além de evitar baixa eficiência devido ao porte da planta, quando maior a planta mais difícil o controle, também evita efeito guarda-chuva, quando uma planta cobre as demais e impede que plantas menores recebam o herbicida. 

Por último, e não menos importante, deve-se seguir recomendações de bula dos produtos, referentes a dose e época de aplicação, e supervisão técnica agronômica. 

Custo-benefício

Apesar do controle de plantas daninhas exigir um alto investimento, seu uso é indispensável para evitar perdas de produtividade devido a competição e em alguns casos a perda da qualidade do produto final. Esses fatores podem ser agravados em locais com a presença de biótipos resistentes, por exemplo, a EMBRAPA relata que em caso de plantas resistentes ao glifosato o custo de produção pode se elevar de 42% a 222%.

Estudos recentes calculam que o custo médio no Brasil para controle de plantas daninhas é de R$ 120,00 por hectare, esse valor é variável dependendo da espécie de ocorrência na área, no caso da presença de buva e capim-amargoso, esse custo médio pode chegar a R$ 386,65 por ha-1.

De acordo com o Dionisio Gazziero, pesquisador da Embrapa soja, densidades de 01 a 03 ou 04 a 08 plantas de capim-amargoso por m² pode levar a redução da produtividade de soja em 22% e 44%, respectivamente. Portanto, apesar do alto investimento em herbicidas e outros métodos para o manejo de plantas daninhas, haverá retorno financeiro, pois um manejo eficiente, baseado nos princípios do MIPD, vai garantir um cultivo onde não haverá competição entre a cultura de interesse e as plantas daninhas, atingindo os potenciais produtivos e também diminuindo a pressão da flora infestante.

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