Daniela Andrade – Engenheira agrônoma e mestre em produção vegetal – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – daniela.agronomia@hotmail.com
Erica Camila Zielinski – Engenheira agrônoma e mestranda em Produção Vegetal – Universidade Federal do Paraná (UFPR) – ericacamilazielinski@gmail.com
Daniele Brandstetter Rodrigues – Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia e supervisora de Controle de Qualidade de Sementes – ufpelbrandstetter@hotmail.com
Os agricultores brasileiros estão buscando levar mais lucratividade às suas propriedades, com alternativas que ajudam a obter renda durante a safrinha. A produtividade dos híbridos de milheto pode ultrapassar 50 sacas por hectare.
O mercado de grãos de milheto já está consolidado por sua qualidade e diferenciais e, por isso, apresenta alta liquidez, com preços atingindo 90% do valor do milho na maioria das regiões produtoras. Além da produção de grãos, o milheto é bastante utilizado para melhorar o solo para a próxima cultura, levando muitos benefícios para a soja, por exemplo.
Mais produtividade
De maneira geral, a cultura do milheto denomina-se uma espécie altamente versátil, rústica, com elevada capacidade de romper as camadas compactadas do solo, pois tem um sistema radicular profundo, o qual, além de promover a descompactação, recicla nutrientes minerais.
Assim sendo, pode-se afirmar que o milheto é fortemente responsivo à disponibilidade de condições favoráveis ao material em questão. Em geral, os milhetos híbridos disponíveis no mercado vêm apresentando tetos produtivos cada vez maiores, possibilitando ótimos resultados em termos de produtividade.
Benefícios do milheto para outras culturas
Os benefícios do cultivo de milheto são vários, entre os quais destaca-se o eficiente controle dos nematoides, com baixo fator de reprodução para o nematoide das lesões (Pratylenchus brachyurus), proteção do solo, já que produz elevado conteúdo de palhada na entressafra da soja, por exemplo, o que possibilita o plantio direto, diminuindo o custo de produção da oleaginosa.
Ainda, atua como supressor de possíveis sementes de plantas daninhas na área de cultivo.
Outro benefício que vale ressaltar é a segurança de plantio de uma cultura com menor demanda hídrica, fator de grande importância para as regiões dos cerrados brasileiros, onde plantios tardios de milho apresentam riscos de perda de produtividade em decorrência da estiagem, momento em que o milheto entra como uma cultura competitiva.
Época de semeadura
Neste quesito, a decisão é dependente do propósito do cultivo do milheto. Para cobertura do solo, bem como com finalidade de cultivo de grãos, o plantio é realizado como safrinha, após a colheita da soja, sendo recomendado para os cerrados o plantio entre 01º de fevereiro a 15 de março, janela ideal em função da disponibilidade hídrica da região.
Para utilização dos materiais com propósito forrageiro, é recomendado realizar o plantio no período do verão, entre os meses de outubro a fevereiro.
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Semeadura
O milheto pode ser semeado a lanço ou em sulco, de acordo com a finalidade da produção (produção de sementes, grãos ou forragem). Com relação à profundidade de plantio, deve-se ter atenção, já que as sementes são diminutas em comparação com tantas outras espécies cultivadas.
Em áreas de solo arenoso pode-se promover a semeadura um tanto mais profunda, a fim de propiciar maior contato com a umidade. Já em solos argilosos, a indicação é a utilização de profundidade mais superficial. Via de regra, a profundidade pode variar de 2,0 a 4,0 cm.
Arranjo espacial
A priori, pesquisas revelam que a densidade de semeadura não interfere no rendimento de grãos e nos componentes da produção, pois o milheto apresenta alta capacidade de perfilhamento, compensando densidades menores. Há indicação de que a densidade ótima do milheto para produção de grãos, por exemplo, gira em torno de 150.000 plantas/ha.
Adubação
Apesar da sua adaptabilidade aos solos ácidos e de baixa fertilidade, o milheto responde muito bem a solos férteis. Quanto à disponibilidade de nitrogênio, esta é dispensada quando cultivada após leguminosa. Quanto à adubação fosfatada e potássica, esta deve ser mensurada de acordo com análise do solo, já que o milheto é cultivado em sucessão a várias culturas.
Alguns estudos demonstram que o milheto pode ser mais responsivo à utilização de fósforo. Com relação ao potássio, a massa radicular do milheto é capaz de buscar esse nutriente em profundidade, não sendo necessário seu suprimento via adubação.
Alguns produtores, visando a praticidade no manejo, acabam fazendo uma adubação no milheto, porém, com intuito de ciclagem de nutrientes, parcelando a adubação da soja, prática que tem se tornado comum em algumas propriedades.
Em busca de alta produtividade, há a necessidade de suprir as carências de micronutrientes, lembrando que as gramíneas, em sua maioria, apresentam sensibilidade à deficiência de zinco, cobre, ferro e manganês, e em menor escala de boro e molibdênio.
Manejo fitossanitário
O manejo de plantas daninhas é uma prática de grande importância na cultura. Inicialmente, é ideal que o cultivo seja implantado em área previamente dessecada – erros nessa etapa podem prejudicar o desempenho posteriormente, em decorrência da dificuldade de controle de algumas plantas daninhas, gerando matocompetição.
O controle pós-emergente vai até aproximadamente 50 dias após a semeadura, o qual, uma vez não realizado, pode causar perdas de rendimento em torno de 30%. O manejo de plantas daninhas, além de ser feito via química por herbicidas, pode ser feito via manejo cultural.
Há carência de informações a respeito do controle e o manejo dos insetos atacando o milheto. Assim sendo, deve-se ter cuidado com o histórico de cultivos anteriores na área, a fim de evitar a disseminação de insetos-praga potencialmente prejudiciais ao milheto.
No Brasil, há ocorrência de várias doenças na cultura do milheto. Entre as principais doenças foliares estão a ferrugem, causada pelo patógeno Puccinia substriata, e a mancha foliar, causada por Magnaporthe grisea. Todavia, estas podem ser evitadas lançando mão de controle por resistência genética do hospedeiro, de controle químico e de métodos culturais.
Dicas importantes
Para o sucesso na produtividade, é ideal que todas as etapas, desde o plantio até a colheita, sejam realizadas de forma adequada. Considerando milheto com intuito granífero, potenciais produtivos elevados são alcançados em lavouras bem implantadas, com semente de qualidade, no período recomendado, em áreas dessecadas previamente, com discos de plantio adequados e todos os manejos de controle de plantas daninhas, insetos-praga e doenças realizados.
Produtividades superiores a 40 sacas por hectares são comumente encontradas nessas condições, onde o material pode desempenhar o seu máximo potencial produtivo.
Em geral, as médias de produtividade da cultura ficam em torno de 1.500 kg/ha de grãos, no caso de materiais granífero, e 20 toneladas de massa seca por hectare, para materiais forrageiros, no entanto, alguns materiais podem apresentar tetos produtivos superiores.
Alguns híbridos de milheto são bem adaptados e apresentam produtividades entre 40 e 56 sacas por hectare em diversas regiões de cultivo na região dos cerrados. Algumas variedades também apresentam ampla utilização como forragem, cobertura de solo e potencial produtivo elevado, de 50 sacas por hectare. Esses são alguns exemplos, mas vários outros materiais estão disponíveis no mercado, dando opções de escolha ao produtor.
Sem errar
Em geral, os erros mais frequentes são decorrentes de erros no manejo, sejam eles antes, durante ou após a implantação da cultura. Deve-se atentar à dessecação a evitar a utilização de herbicidas, como os inibidores da ACCase, como o cletodim e haloxifope, que podem apresentar efeito residual se aplicados próximo ao plantio.
Outro cuidado é com relação ao plantio, com utilização de plantadeiras adequadas, discos sulcadores ondulados ou botinhas, facilitando o contato solo-semente e se atentando à profundidade. Erros nessa fase podem gerar o insucesso na implantação da lavoura e perdas de produtividade.
O controle de plantas daninhas é outro ponto-chave de sucesso. As aplicações de herbicidas recomendados para a cultura, como a atrazina, por exemplo, devem ser realizadas na fase adequada, evitando assim a matocompetição, perdas na produtividade e dificuldades posteriores na colheita.
Com relação aos insetos-praga, é ideal atentar-se, nas fases iniciais, à presença de grilo, que pode se alimentar das plântulas e comprometer o estabelecimento adequado do cultivo. Nas fases posteriores, as lagartas desfolhadoras costumam apresentar importância econômica e necessitam ser manejadas com o emprego de inseticidas, sempre que necessário.
Outro ponto relevante é a utilização de fungicidas adequados com o intuito de evitar prejuízos causados pela ocorrência de doenças, sendo necessário ao menos uma aplicação de fungicida por ciclo de cultivo, em que a fase de aplicação é dependente da doença de maior importância na região.
Hora de colher
Após todos os manejos realizados de forma adequada, é necessário se atentar ao ponto de colheita, quando atrasos podem resultar em perdas de produtividade, especialmente em função do acamamento. É importante se atentar à regulagem da máquina, considerando a altura de corte, regulagem do caracol e molinete, que são fatores que evitam perdas de produtividade nessa fase.
Custo
O custo de realização de um plantio de milheto dependerá do seu objetivo. Se a finalidade for a produção de palha em sistemas de plantio direto, os custos serão basicamente o valor da semente somado ao custo da distribuição a lanço ou linha e da incorporação, caso for recomendado.
No caso de plantios para produção de forragem, além das operações de plantio com semeadoras e colheita por ensiladora, geralmente são incorporados os valores referentes a sementes e fertilizantes. Como os sistemas variam, para cada situação teremos diferentes custos de produção. Para realização da colheita de grãos, caso for aproveitar a produção mesmo que a finalidade seja palhada, considerar que o grão de milheto tem sido comercializado por um valor ao redor de 60% do grão de milho. Neste caso, o custo de operação da colhedeira e de transporte para o local de entrega da produção deverão ser considerados de tal forma que esta operação seja economicamente compensatória.
Investimento x retorno
O milheto tem a característica bem interessante que o coloca em vantagem competitiva econômica em relação ao milho e ao sorgo, que é a baixa exigência hídrica. Enquanto o milho e o sorgo necessitam de cerca de 350 g de água para cada grama de matéria seca, o milheto precisa de menos de 300 g, dependendo da finalidade.
Com isso, o milheto se torna uma planta de importância, não só pelas características benéficas que proporciona ao solo e outras citadas aqui, mas também pelo fator econômico de instalação e condução da lavoura.