Autor
Rafael Simoni
Engenheiro agrônomo, especialista em consultoria e assistência técnica em hidroponia
rafaelsimoni@agronomo.eng.br
O tomate vem sendo a hortaliça mais consumida no mundo, e no Brasil esta realidade não é diferente. Sua aptidão tanto para consumo in natura como para o preparo de molhos e derivados faz com que haja um aumento constante na demanda.
Segundo dados do CEPEA, no Brasil a cultura do tomate movimentou, somente no ano de 2017, cerca de R$ 1 bilhão. Se considerarmos a cadeia completa na produção, indústria e comércio – incluindo mão de obra, insumos e embalagens – essa cifra beira a casa dos R$ 14 bilhões.
No período, a área plantada no Brasil foi de aproximadamente 64.000 ha, sendo praticamente 70% do tomate de mesa e/ou in natura e 30% para a indústria. O tomate para indústria é todo plantado a campo. Quanto ao tomate de mesa, estima-se que menos de 20% seja produzido em estufas ou sob algum tipo de proteção. Destes 10.000 ha em cultivo protegido, calcula-se que menos de 2.000 ha sejam cultivados em hidroponia.
O Estado de Goiás detém o título de maior produtor nacional de tomate para processamento, com mais de 12.500 ha plantados. São Paulo e Minas Gerais, por sua vez, são os maiores produtores de tomate de mesa, com 12.000 ha e 7.500 ha, respectivamente.
Como o cultivo em hidroponia está crescendo proporcionalmente mais que a área plantada a campo, é difícil ainda calcular números em dinheiro quanto à produção. Uma estimativa sugere que o cultivo de tomate em hidroponia movimentou em torno de R$ 300 milhões no ano de 2017, no Brasil.
Esse valor é proporcionalmente maior por hectare quando comparado ao cultivo a campo, em razão da hidroponia oferecer um produto de melhor qualidade, variedades de maior valor agregado (tomates gourmet) e produção menos sujeita às variações sazonais (oferta constante ao mercado).
Vantagens
No cultivo hidropônico, a menor exposição da planta a pragas e doenças, o melhor controle de irrigação e nutrição da planta e de condições do ambiente no interior da estufa, a diminuição de pulverizações e de sua maior eficiência e a utilização de materiais híbridos e com maior potencial genético contribuem para o aumento da produtividade e ganhos efetivos na qualidade final do produto.
Decisões importantes
Os procedimentos básicos ao se instalar um cultivo em hidroponia não são muito diferentes daqueles para se estabelecer uma lavoura a campo. Um ponto importante a destacar é que o sucesso na safra depende das decisões tomadas antes de se efetuar o plantio. Variedade a ser plantada, mercado/público a ser atendido, época de colheita, são aspectos que devem ser analisados de forma crítica antes do estabelecimento do plantio.
É recomendado escolher sementes/mudas de boa procedência. Geralmente é preferível optar por materiais híbridos, que, apesar de serem mais caros, têm um potencial genético maior ou pacotes de resistências a doenças, o que os faz se sobressaírem frente aos materiais comuns.
O substrato utilizado (quando for plantio em vaso ou slab) deve ser livre de contaminantes químicos, físicos ou biológicos. Quando do cultivo em sistema NFT, as calhas devem estar limpas e higienizadas para receber as mudas.
A solução nutritiva deve ser elaborada de acordo com a variedade e a fase da planta, e preparada de acordo com as recomendações do técnico responsável. No tocante aos tratos culturais, também são praticamente os mesmo feitos a campo (condução, podas, pulverizações, raleio de frutos se a variedade exigir, colheita e etc.).
Um diferencial é que na hidroponia o produtor deve agir no momento certo, e muitas vezes até prever situações que podem ser prejudicais ao cultivo, como por exemplo, uma geada, em regiões de inverno mais intenso, ou histórico de surgimento de praga em determinada época do ano, para assim tomar as providências necessárias.
Esses exemplos de variáveis externas podem ser trabalhados afim de amenizar os efeitos na produção no interior da estufa. Algumas variedades poderão exigir cuidados específicos e o produtor deverá procurar o responsável técnico, em caso de dúvidas.
Variedades
As variedades a serem escolhidas para a hidroponia devem ser aquelas que apresentem um ciclo médio-longo de produção (08 a 12 meses em estufa), e que ofereçam algum diferencial para atrair o consumidor, seja ele sabor, textura ou aparência que o mercado aprecie, e que, consequentemente, justifique um maior valor de venda quando comparado a tomates de variedades comuns.
Hoje estão em alta os tomates tipo cereja e tipo grape de sabor mais adocicado, muito atrativo para crianças, bem como os tomates tipo saladete, que apresentam frutos uniformes e com boa coloração.
Estas variedades trazem diferenciais tanto para o produtor como para o consumidor. Para o produtor, será a garantia de venda e maior produtividade por área, desde que seguidas as recomendações exigidas. Já o consumidor terá um produto com qualidades organolépticas diferenciadas, superiores, bem como um alimento com menor ou até nenhum traço de defensivos fitossanitários.
Custos x rentabilidade
Os custos para implantação do cultivo em hidroponia podem ser de 40 até 120% superiores em relação ao cultivo em campo, dependendo do grau de tecnificação da estufa e da estrutura, dos insumos aplicados, da mão de obra necessária, entre outros fatores.
Apesar disso, esse investimento maior é compensado pela produção superior em uma mesma área de terra, qualidade de fruto e, consequentemente, preço final de mercado, menor necessidade de aplicações de fitossanitários, entre outros.
Quando o produtor dispõe de um material de genética superior, aliado a uma boa condução da lavoura e que agrade o consumidor, tem-se observado que esse pode atingir um preço por quilo até cinco vezes superior ao tomate comum. Lembrando que, como dito anteriormente, o produtor deverá decidir antecipadamente e de acordo com o público-alvo que ele quer atender.
Os resultados obtidos a campo endossam o ingresso de um número cada vez maior de produtores que investem na hidroponia.