Leandro Hahn
Engenheiro agrônomo, doutor, pesquisador em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas na Estação Experimental de Caçador (EPAGRI) e professor da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp)
Marlova Bernardi
Estudante de Agronomia – UCEFFItapiranga
O Estado de Santa Catarina, com destaque para os municípios de Caçador, Lebon Régis, Macieira, Calmon e Rio das Antas, é produtor tradicional de tomate no verão, cultivado a campo.
Esta atividade tem fundamental importância para a região, uma vez que o rendimento médio de 69,4 t/ha lhe confere o status de sexto maior produtor nacional do fruto. No entanto, os custos de produção nos últimos anos aumentaram significativamente, diminuindo a competividade dos tomaticultores da região perante a concorrência na produção, na mesma época, em outras regiões do Brasil.
Buscando melhorias no sistema de produção, em 2004 foram iniciadas as pesquisas para consolidar o sistema de produção integrada do tomate, com o intuito de desenvolver uma base tecnológica de estratégias para a implantação do sistema de produção integrada do tomate tutorado (Sispit).
Como funciona
A produção integrada promove a aplicação de boas práticas agrícolas e tecnologias, integrando diferentes métodos que envolvem técnicas biológicas, químicas e ambientais.
Em conjunto, elas asseguram mais qualidade e produtividade para a cultura, com viabilidade econômica, proteção ao meio ambiente, uso racional de insumos e qualidade alimentar.
Para um melhor aproveitamento dos fertilizantes e consequente diminuição de impactos ambientais, deve-se identificar o momento mais propÃcio e também a quantidade adequada de fertilizantes a ser aplicada, gerando economia ao produtor e garantindo que a planta receba os nutrientes na hora certa.
Para isso, entender a curva de crescimento e a marcha de absorção de nutrientes é fundamental, pois a eficiência na absorção dos nutrientes difere entre as cultivares de tomate, uma vez que dependem da fisiologia de crescimento e desenvolvimento da planta.
Além disso, aplicar fertilizantes de acordo com a curva de demanda da planta é uma prática recomendada pela produção integrada.
Custo
O custo com fertilizantes aliado à prática de fertirrigação na cultura do tomate representa aproximadamente 12% do total. Diante disso, existe a necessidade de aprimorar conhecimentos cientÃficos e buscar tecnologias que permitam a produção competitiva desta importante hortaliça produzida em SC.
Desta forma, a aplicação de nutrientes de acordo com as necessidades das novas cultivares recomendadas para a região é uma estratégia para aumentar a competividade da produção e a eficiência da aplicação de fertilizantes.
A curva ou marcha de absorção de nutrientes fornece informação sobre a exigência nutricional das plantas em seus diferentes estádios fenológicos, sinalizando as épocas de maior exigência à adição dos nutrientes.
Entretanto, a quantidade e a proporcionalidade dos nutrientes absorvidos pelas plantas são funções de características intrÃnsecas do vegetal, como também dos fatores externos que condicionam o processo de desenvolvimento, como o clima, por exemplo.
Como adotar a técnica
Para a determinação da marcha de absorção de nutrientes devem-se adotar alguns métodos de padronização, que consistem em coletar plantas de tomate a partir da fase de mudas em intervalos regulares (possivelmente a cada 14 dias), secar as plantas para obter a massa seca e determinar em laboratório especializado o teor de macro (N, P, K, Ca, Mg e S) e micronutrientes (Mn, Zn, Cu, Fe, B) em cada uma das suas partes principais: raízes, caules, folhase frutos.
A partir dos resultados de extração em cada estágio de desenvolvimento das plantas, estima-se a necessidade de adubação a ser reposta para atender a demanda nutricional do híbrido em suas principais fases de crescimento.
Além da determinação dos teores de nutrientes, variáveis relacionadas ao crescimento das plantas também são determinadas, como altura, diâmetro da haste e o número de folhas, cachos florais e frutos. Adicionalmente, pode-se ainda determinar a área foliar e os teores dos nutrientes na folha diagnóstica em cada uma das fases de crescimento das plantas.
Um a um
A exigência de água e nutrientes pelo tomateiro será variável conforme seu estádio de desenvolvimento, que pode ser dividido em três fases: 1) Fase inicial, que vai aproximadamente do plantio da muda até o início da frutificação (0 aos 38 dias após o plantio (DAP)); 2) Fase intermediária, que vai aproximadamente do início da frutificação até próximo da segunda colheita dos frutos (38 aos 108 DAP); e 3) Fase final, que vai da segunda até a última colheita (108 aos 130 DAP).
Na primeira fase são consumidos por volta de 17% do total dos nutrientes absorvidos durante o ciclo do tomateiro, uma vez que a planta é pequena e está passando da fase juvenil para o início da frutificação.
Nesta fase, deve-se evitar adubações pesadas de N, P e K na base. Na fase intermediária, a planta consome em torno de 70% de todos os nutrientes absorvidos durante o ciclo cultural, caracterizada pela fase adulta ou reprodutiva, com picos de consumo tanto de água como de nutrientes.
Na fase final, a planta consome somente 13% do total de nutrientes, por ser a etapa de enchimento dos últimos frutos a serem colhidos.
A partir dos resultados de acúmulo total ou a cada estádio da planta de tomate, pode-se, numa primeira aproximação, indicar aos técnicos qual seria a necessidade deadubação a ser aplicada.
Deve-se lembrar que a quantidade de nutrientes extraÃdos pela planta não reflete exatamente o que deve ser aplicado no solo, uma vez que para cada nutriente há um fator de eficiência, ou seja, quanto do nutriente aplicado será de fato aproveitado (absorvido).