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Indução floral no abacaxizeiro

A indução floral no abacaxizeiro desempenha um papel crucial no ciclo de produção, influenciando a formação e desenvolvimento das inflorescências, impactando diretamente a qualidade e quantidade da colheita.

Dionei Lima Santos
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Engenharia Agrícola e professor – IFPA – campus Conceição do Araguaia
dionei.santos@ifpa.edu.br

Mirna Larissa Barbosa Moitinho
Engenheira agrônoma e mestranda em Fitotecnia – UFV
mirnamoitinho@hotmail.com

Carlos Eduardo M. dos Santos
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia, doutor em Genética e Melhoramento de Plantas e professor de Fruticultura – UFV
carlos.magalhaes@ufv.br

O abacaxizeiro [Ananas comosus (L.) Merril] é uma frutífera originária no continente americano, mais especificamente no Brasil, que está entre os maiores produtores, ocupando a quarta colocação no ranking, ficando atrás da Costa Rica, Indonésia e Filipinas.

O monitoramento do florescimento é crucial para o sucesso produtivo

A planta do abacaxizeiro caracteriza-se por apresentar metabolismo ácido das crassuláceas, denominado de CAM, ocorrendo a abertura dos estômatos durante a noite e fechamento durante o dia, ou seja, em condições naturais suas atividades metabólicas ocorrem em maior intensidade durante a noite.

Contudo, quando a cultura é exposta a condições de umidade e temperaturas favoráveis, seu metabolismo permanece em pleno funcionamento durante o dia, potencializando a exploração comercial pelos produtores rurais.

Indução floral

Quando a cultura é exposta a condições de temperatura amena e uma redução do fotoperíodo, a indução floral ocorrerá de forma natural, o que não é interessante para o produtor a nível comercial.

Isso acarreta uma maior desuniformidade de floração na área, dificultando o planejamento de produção, podendo gerar frutos de baixa qualidade e a colheita em períodos distintos.

Ou seja, em épocas desfavoráveis, quando a oferta está elevada e os valores baixos, acarretará prejuízos ao abacaxicultor, além de aumentar em até 90 dias o ciclo da cultura.

Manejo

Métodos de indução floral artificial para o abacaxizeiro foram desenvolvidos a fim de remediar os problemas que eram gerados pela indução floral natural na cultura.

A adoção desses métodos permite que os produtores de abacaxi consigam realizar uma programação do momento de colheita, minimizando os custos de produção e garantindo o fornecimento do produto ao mercado em um período com melhor perspectiva econômica e menor oferta de frutos oriundos de outras regiões produtoras.

Mãos à obra

O monitoramento do florescimento é crucial para o sucesso produtivo da cultura do abacaxizeiro. O momento da indução floral será determinante na qualidade dos frutos da lavoura.

Quando o tratamento da indução ao florescimento é feito no momento ideal, com uma planta com alto vigor vegetativo e com a nutrição equilibrada, resultará em frutos maiores e com elevada qualidade.

Em contrapartida, quando se aplica o tratamento em plantas que não atingiram a sua maturidade vegetativa, os resultados serão frutos pequenos e com reduzida qualidade.

A adoção da prática da indução floral artificial, utilizando fitorreguladores, já é empregada por abacaxicultores e pode ser feita quando a planta atinge um vigor vegetativo significativo, que pode levar de oito a 12 meses após o plantio, ou seja, quando a folha mais ativa fotossinteticamente (Folha D) atinge tamanho superior a 1,0 metro de comprimento (foto 1).

Os fitorreguladores mais utilizados na indução de florescimento do abacaxi são: etileno, carbureto de cálcio e o etephon (ácido 2-cloroetilfosfonico); empregados de acordo com o nível tecnológico do produtor, a disponibilidade do mercado local, a facilidade de aplicação, recursos financeiros do adquirente e sua eficácia.

Opções

Os indutores de floração devem ser aplicados em períodos com temperatura amena. Em muitos casos, os produtores fazem a aplicação no período noturno ou em dias nublados. 

Foto  1 – Planta com alto vigor vegetativo. (Fonte: Autor)

ð Carbureto de cálcio: é um composto químico que, ao entrar em contato com a umidade, ocorrerá uma reação e será liberado o gás acetileno, o qual influenciará diretamente nos processos fisiológicos da planta, induzindo a cultura ao florescimento.

É comercializado comumente em um agregado sólido, o qual é fragmentado e aplicado uma quantidade de 0,5 a 1,0 grama no centro da roseta foliar da planta e posteriormente é feito o fornecimento de água para que ocorra a liberação do gás acetileno.

O método é utilizado geralmente em períodos chuvosos ou áreas irrigadas com maior disponibilidade de água, com uma predominância por pequenos produtores.

ð Etephon: é o fitorregulador mais utilizado pelos abacaxicultores. Ele é um precursor do ácido etileno, que desempenhará o papel de sinalizador químico na planta, ocorrendo a indução floral como resposta da planta.

A aplicação do Etephon pode ser realizada diretamente no centro da roseta foliar (foto 2) ou pulverizada (foto 3), dependendo da disponibilidade de mão de obra, equipamentos e escolha do produtor. Existem diversas concentrações disponíveis comercialmente, sendo elas: 24 – 48 e – 72%.

Foto 3 – Aplicação pulverizada. (Fonte: Autor)
Foto 2 – Aplicação diretamente no centro da roseta foliar. (Fonte: Autor)

Preparo: 0,5 ml a 1,0 ml do produto comercial por litro de água + ureia a 2% do produto comercial + 7g de Cal hidratada para 20 L de água.

Para 20 litros: 400 g de ureia + 7,0 g de Cal + 20 ml de Ethrel 720.

Para 400 litros: 8,0 kg de ureia + 140 g de Cal + 400 ml de Ethrel 720.

A dosagem do produto comercial depende da época de aplicação e de sua concentração, sendo, por exemplo, recomendado 670 ml do produto comercial Ethrel 720 por hectare nos meses de junho, julho e agosto; 1 L de Ethrel 720 (produto comercial) por hectare nos meses de março, abril, maio, setembro e outubro e 1,3 L de Ethrel 720 (produto comercial) por hectare nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro.

Técnicas pós-indução floral

Devido a relevância mundial do cultivo do abacaxizeiro, cada vez mais buscam-se técnicas que proporcionem o aumento da produtividade e qualidade de frutos para suprir as exigências do comércio nacional e internacional.

Diante disso, algumas práticas pós-indução floral vêm sendo pesquisadas com a finalidade de melhorar as características quantitativas e qualitativas dos frutos. Dentre elas, a prática do rebaixamento vem sendo adotada por muitos produtores de abacaxi da região sudeste do Pará.

Essa técnica consiste na aplicação do Etephon associado a uma subdose de produtos comerciais que possuam na sua formulação 2,4-D, diretamente no centro da roseta foliar (“olho” da planta), após alguns dias da data da indução floral.

A aplicação desses produtos em lavouras com a cultivar Pérola tem resultado na redução do tamanho do pedúnculo do fruto, do número mudas e aumento do peso e mudança do formato do fruto, ou seja, um fruto com formato mais achatado e cilíndrico, semelhante ao da cultivar Smooth Cayenne.

Após cerca de 40 dias da data da realização do rebaixamento é possível notar uma redução do pedúnculo (foto 3B), ou seja, o fruto fica mais retido no interior do centro da roseta foliar. Por outro lado, a planta que não foi submetida ao rebaixamento o pedúnculo ficou maior e mais visível no centro da roseta foliar (foto 3A).

B
A

Foto 3.- Planta sem rebaixamento (A), planta com rebaixamento. (Fonte: Autor)

Na prática

Em estudos preliminares em lavouras de produtores da região sudeste do Pará, foi possível verificar que as plantas submetidas à prática do rebaixamento (Etephon + subdose de 2,4-D) com 20 dias após a indução floral alcançaram um ganho médio de peso por fruto de 320g, quando comparado às plantas que não receberam o rebaixamento.

Assim, conforme o esquema a seguir, considerando uma colheita de 28.000 frutos por hectare, esse ganho de peso de 0,320 kg por fruto resultaria em um aumento de 8.960 kg de frutos por hectare.

Na região sudeste do Pará, 1 kg de fruto é vendido, em média, por R$ 1,50. Desta forma, em um hectare o produtor alcançaria uma receita de R$ 13.440,00 ao adotar a técnica do rebaixamento.

Vale ressaltar que vêm sendo conduzidas mais pesquisas científicas na região com intuito de desenvolver ou elucidar a prática do rebaixamento. 

Esquema 1. Ganho produtivo e financeiro com o rebaixamento do abacaxizeiro.

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