Edemar Moro
Doutor, especialista em ILP e professor da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste)
A ILPF é o sistema dos sistemas, ou seja, permite trabalhar com diferentes atividades a fim de melhorar o uso do solo. É uma fábrica que não para, produz o ano todo e cada componente faz as engrenagens do sistema girarem de forma mais eficaz.
Ao longo do ano podem ser intercaladas diversas atividades na mesma área, de modo que a produção global aumenta e se multiplica. A grande vantagem da ILPF é que cada componente utilizado potencializa aquele que o sucederá. Assim, a cada ano que passa o solo terá qualidade e capacidade de produção superior ao ano anterior.
Podemos também definir a ILPF como um sistema que se retroalimenta, ou seja, cada componente produz com os recursos a ele disponibilizados, porém, deixará saldo de energia ao próximo ou ao componente associado. Haverá uma reação a um estímulo de forma cÃclica – na natureza tudo é cÃclico e a ILPF é a que mais se aproxima de um sistema natural, e por essa razão é considerado de alta sustentabilidade.
Culturas envolvidas
As principais culturas utilizadas na integração são as anuais soja, milho e sorgo. A soja é implantada após a dessecação da pastagem, que geralmente é feita em setembro e a semeadura da soja em outubro e novembro, dependendo da região e regularidade das chuvas a partir da dessecação da pastagem.
As culturas do milho ou sorgo também poderão ser implantadas no verão, desde que a região tenha condições climáticas favoráveis. Após a colheita da soja pode-se semear milho, sorgo (segunda safra) ou pastagem. A estratégia de implantar o milho na primeira ou na segunda safra será em função do interesse na venda dos grãos ou produção de silagem.
Em ambos os casos, o ideal é que o milho seja consorciado com capim. O sorgo é preferencialmente implantado no verão (principalmente se a colheita da soja ocorrer a partir da segunda quinzena de fevereiro), o qual também pode ser consorciado com capim.
A implantação da pastagem ocorre em consórcio com milho ou sorgo, ou após a colheita da soja. Para pastejo, apenas de inverno pode ser utilizada a Brachiaria ruziziensis. Mas quando o objetivo é manter o pasto por um ano ou mais, recomenda-se cultivares de Brachiaria brizantha ou de Panicum.
A floresta poderá ser utilizada em regiões que apresentam mercado para comercialização da madeira produzida, e pode ser implantada no verão ou outono. A espécie mais utilizada é o eucalipto em renques de uma, duas, três, quatro e cinco linhas.
Nos primeiros dois anos após implantação do eucalipto, o espaço entre os renques pode ser usado com culturas anuais. A partir do segundo ano o melhor uso será com a pecuária, pois o pasto é menos sensÃvel ao sombreamento.
A ILPF pode ser implantada em qualquer região do Brasil, o que muda são as espécies utilizadas. Porém, sempre há ressalvas – áreas extremamente arenosas e/ou com baixos volumes de chuvas podem inviabilizar as culturas anuais.
Outra ressalva é em relação ao mercado da madeira, pois nem sempre haverá preços que resultem no retorno econômico esperado para todas as regiões
Detalhes que fazem toda diferença
Algumas etapas cruciais devem ser observadas, começando não pela propriedade, mas sim pelo proprietário. É necessário avaliar se ele tem a clareza e visão empreendedora para entender que no início da implantação terá que fazer os investimentos para dar sustentação ao sistema.
A segunda etapa constará de um diagnóstico completo da propriedade para avaliar a aptidão de cada talhão. A partir destas informações se fará o planejamento de como deverá ser implantado o projeto. No planejamento será feito o dimensionamento das máquinas agrícolas necessárias (trator, semeadora, pulverizador…).
Nas áreas exploradas com agricultura será feito o dimensionamento e levantamento dos custos da estrutura para pecuária (curral, cercas, água, planejamento forrageiro e aquisição dos animais). Áreas que nunca foram exploradas com agricultura precisarão ser corrigidas (calagem, gessagem e adubação) de acordo com a análise química e física do solo.
O modelo mais utilizado de ILPF é ó uso da área com dois anos de pastagem seguidos por dois anos de agricultura, e assim sucessivamente. Porém, sempre haverá variações para atender as especificidades de cada propriedade e mercados locais.
Na ponta do lápis
No início da implantação do sistema ILPF, é interessante apresentar os investimentos separados para as atividades agrícola e pecuária.
“Investimento x retorno para pecuaristas: os investimentos em uma fazenda de pecuária que pretende implantar a ILPF serão concentrados em máquinas e insumos para as culturas anuais. Não se pretende aqui fornecer receitas prontas, tendo em vista que cada fazenda poderá trabalhar com níveis de tecnologias diferentes. De forma geral, considerando a soja a ser explorada como cultura anual, o ponto de equilíbrio seria de 45 sacas ha-1, contabilizando os preços atuais da oleaginosa e investimentos corretos em fertilidade do solo. Esse custo inclui máquinas (novas) e insumos, portanto, a colheita de 45 sacas a mais seria o lucro da agricultura, e estaria condicionado ao potencial de cada região de cultivo. Ressalta-se que esse é um valor médio, sendo que há regiões que gastam mais e outras menos.
“Investimento x retorno para agricultores: a princÃpio, parece simples para um agricultor aderir à ILPF, no entanto, é um engano. Comprar máquinas é mais fácil do que montar a estrutura para pecuária. Os investimentos com a pecuária envolvem: cerca convencional e elétrica, curral, água/bebedouros, praças de alimentação, cocho de sal e mãodeobra para montagem de toda a estrutura. Além destes custos, há ainda que se fazer a primeira aquisição do gado,e considerando que pastos pós-soja suportam, em média, cinco animais, o investimento será grande. Se considerarmos a estrutura de dois animais por hectare, o valor seria semelhante aos descritos para agricultura.
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