George Pimentel Palha
Engenheiro agrônomo – pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Sinara de N. Santana Brito
Engenheira agrônoma e mestre e doutoranda em Agronomia/Horticultura – UNESP
sinara.santana@unesp.br
Harleson Sidney Almeida Monteiro
Engenheiro agrônomo, pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Mestre e doutorando em agronomia/horticultura, na Universidade Estadual Paulista (UNESP)
A irrigação por gotejamento é uma técnica essencial no cultivo de citros, desempenhando um papel crucial na garantia de uma florada robusta e, por conseguinte, na promoção da produção agrícola sustentável.
No contexto específico dos citros, a eficiência desse sistema de irrigação se destaca, proporcionando um fornecimento controlado de água diretamente às raízes das plantas.
Papel da irrigação
Ao considerar a irrigação por gotejamento na florada, torna-se evidente seu papel fundamental na maximização da produtividade e na qualidade dos pomares de citros, consolidando-se como uma prática indispensável no manejo agrícola contemporâneo.
Fisiologicamente, uma planta emite sua floração para gerar frutos e, consequentemente, sementes, com o objetivo de dispersão e a perpetuação da sua espécie. Com isso, ter um sistema de irrigação se mostra muito útil, levando em conta que o ciclo da planta tende a ser controlado e impedindo possíveis impactos futuros na planta. Isso é especialmente importante quando a planta se encontra em seu estado mais vulnerável, em momentos de deficiência nutricional e estresse hídrico por falta de água.
Balanço hídrico
É entendível que melhoras na produção são consequência das boas práticas, como o balanço hídrico necessário entre solo e planta. O sistema de irrigação localizado, que nesse caso é o gotejamento, garante um melhor controle sobre o uso da água, atingindo diretamente as raízes e fazendo com que a planta utilize de 85 a 95% da água disponibilizada pela irrigação, quebrando o aborto de flores ou frutos jovens de citros.
Tal abortamento acontece devido à falta de nutrientes, por não ocorrer a fotossíntese nas folhas maduras e, portanto, não chegar às folhas jovens, flores e frutos, que são caracterizados como drenos na planta, responsáveis por manter uma boa produção, seja ela na safra ou entressafra.
Pontos positivos do gotejamento
A irrigação por gotejo disponibiliza a água de forma localizada, diretamente na raiz, e tem o nível de deriva nulo, levando em conta que fica o mais próximo do solo possível, com pouco contato com o vento e com a radiação solar direta em plantios já estabelecidos, ou seja, a maior perda de água por evaporação não acontece.
Tais características são observadas principalmente em regiões com climas tropicais semiúmidos com duas estações.
Em períodos de seca ou baixas concentrações de chuva, observam-se desafios com a mudança climática que se estabelece anualmente, que se agravam se permanecer a seca sem disponibilização de água necessária, afetando diretamente o solo e, consequentemente, a planta.
Os períodos de poucas chuvas influenciam diretamente a quantidade de água que o solo pode manter retida e disponível para a planta, sem estar inundado, mantendo equilíbrio de aeração e água nas regiões próximas das raízes das plantas.
Com o solo em equilíbrio hídrico adequado, o ciclo metabólico da planta permanece em plena e ininterrupta saúde, resultando em um produto final de melhor qualidade para os consumidores, especialmente em termos de tamanho e concentração de açúcar no fruto.
Na fisiologia da planta, uma concentração adequada de água é essencial para a divisão celular. Assim, é crucial compreender que o tratamento da cultura com uma irrigação apropriada assegura uma divisão celular mais pronunciada no fruto, conferindo-lhe um tamanho mais atraente aos olhos dos consumidores.
Doçura do fruto
Quanto à concentração de açúcar no fruto, é fundamental monitorar o nível de fotossíntese realizado pela cultura ao longo dos dias. Afinal, quanto maior a fotossíntese, mais fotoassimilados são produzidos, sendo esses açúcares simples distribuídos entre os drenos da planta. No caso do fruto, isso resulta em uma maior concentração de graus brix (ºbrix).
A fotossíntese da planta é afetada no momento que a umidade fica muito baixa e a capacidade de campo não tem água suficiente para suprir as necessidades da cultura, agregado a uma alta temperatura onde a cultura começa a ter grandes perdas de água por transpiração.
Para não entrar em ponto de murcha permanente, a planta fecha seus estômatos para evitar a perda de água. Com os estômatos fechados, a planta fica impossibilitada de realizar fotossíntese, afinal, é pelos estômatos que entra a energia necessária através da luz.
Grandes períodos de escassez hídrica são um dos principais fatores do declínio do potencial do mercado de citros, além de causar o possível aparecimento de doenças que levam a limitações deste setor produtivo.
Quanto mais novos forem os citros (mudas), maior a tendência de sofrer por estresse hídrico, sendo um dos métodos mais eficazes e usados para combater esse estresse a irrigação por gotejamento.
Sendo assim, durante períodos de escassez de chuva, a irrigação localizada ou por cotejamento contribui para manter os citros com a quantidade de água suficiente para continuar a qualidade de sua produção, sem ter perdas dos frutos ou diminuição do tamanho, com economia de água e de energia, sem comprometer a produtividade da cultura.
Dicas úteis
Dependendo do solo que é usado e da idade da cultura, é necessário a presença de mais de um gotejador para manter a produtividade, o que, de mesmo modo, ainda é uma economia para o produtor, que correria o risco de perder parte ou toda a sua produção de citros por conta de um período de escassez prolongado, além de proporcionar um diferencial em seu pomar, pela possibilidade de produzir frutos maiores e mais doces.
No período de ausência de chuvas, foi mostrado que, se necessário, a planta irá abortar suas flores e frutos, com o intuito de preservar sua energia e manter o mínimo de saúde para que permanecer viva, para que, em uma situação mais favorável, ela faça uma nova tentativa de reprodução e propagação.
A irrigação por gotejamento surge como solução para essa situação, eliminando a necessidade de a planta abortar flores e frutos. Com esse método, a planta direciona sua energia para a produção de frutos, resultando no aumento da produção ou manutenção da constância produtiva, que seria normalmente observada durante o período chuvoso.
Evolução
Há alguns anos, a irrigação era, a princípio, usada exclusivamente na produção de frutas cítricas que eram destinadas para o consumo in natura. Porém, este cenário vem sendo modificado e os grandes produtores de citros para a indústria também têm adotado a irrigação em função dos acréscimos que ela proporciona à produção.
A técnica de irrigação por gotejamento, além de trazer benefícios de aspecto econômico para o produtor, também assegura uma boa floração e pegamento, resultando na produção de frutos de melhor qualidade, principalmente quanto são observados aspectos que levem em consideração o tamanho, peso e quantidade de óleo da casca.
Além disso, ela também pode oferecer melhor desenvolvimento das plantas, adquirindo superfície foliar mais abundante, dependendo, claro, das condições de manejo do pomar e manejo da irrigação por gotejamento.
Prós e contras
A irrigação por gotejamento apresenta custo inicial elevado, em relação aos outros métodos, sistema de filtragem mais suscetível a entupimentos, devido à passagem pequena para gotejar e um nível de manutenção mais técnico e minucioso.
Isso mostra que os ajustes e suas especificações são complexos e devem ser levados em consideração antes e após a sua implantação.
Opções em bicos de gotejo
Há diferentes “bicos” de água para gotejamento, sendo eles: gotejador do tipo online, com reguladores de saída de água, de saídas múltiplas, tubos gotejadores, mangueira ou fita gotejadora, etc.
A orientação técnica é necessária quando se trata de manipular os equipamentos e seu funcionamento, devido às diferentes saídas de água terem pressão de saída diferente.
Neste sistema, o plantio deve ter dois gotejadores por planta. Nos próximos anos, com a árvore adulta e já estabelecida, deve-se colocar quatro gotejadores por planta, em área circular; e para plantas em solos arenosos, recomenda-se de cinco a seis gotejadores.
Para citros, os gotejadores são mais eficientes e econômicos que os microaspersores. Nesta cultura, a irrigação localizada por gotejamento tem grande aceitação pelos citricultores, visto que o sistema traz consigo vantagens econômicas a longo prazo e melhor desenvolvimento de produção.
Agregado a isso, experimentos dão conta de que, em 2021, um citricultor que aderiu o sistema de irrigação por gotejamento, no município de Bebedouro (SP), constatou resultados em seu pomar de aproximadamente 177 mil árvores a redução da morte súbita dos citros, gerando expectativas para boas produções em períodos de estiagem.
O Censo Agropecuário de 2017 mostrou que a irrigação por gotejamento é o sistema mais usado no país, com margem para crescimento devido ao melhor uso da água.
