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Lavanda: lavoura colorida, perfumada e rentável

Imagem de arquivo

Letícia Silva Pereira Basílio
Engenheira agrônoma, mestre em Agronomia/Fitotecnia e doutoranda em Agronomia/Horticultura – Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ (UNESP – Botucatu)
leticia.ufla@hotmail.com

O cultivo comercial de lavanda, embora consagrado em países como a França, Bulgária, Rússia e China, ainda se encontra em fase introdutória no Brasil. Estima-se que o mercado mundial de óleo essencial de lavanda seja em torno de 200 mil toneladas anuais produtores.

Na França, maior país produtor de lavanda, existem mais de 5.000 ha de área plantada, envolvendo em torno de 1.000 produtores rurais. Em nosso país, a maior parte dos óleos essenciais, incluindo o de lavanda, é importada de outros países.

O Brasil já chegou importar cerca de 71 toneladas deste óleo por ano, e nos registros de dados mais atuais, de 2013, as importações de óleos essenciais giraram em torno de US$ 2.517 milhões/ano. Além disso, grande parte da área plantada em território nacional se destina a áreas paisagísticas, jardins sensoriais ou voltados ao turismo, e não à extração do óleo da planta.

Importância econômica

O cultivo de lavanda é importante, pois seu óleo essencial é empregado na indústria de higiene e perfumaria, na confecção de perfumes, sabonetes e desinfetantes; na indústria alimentícia, principalmente como aromatizantes, e também na produção de mel de qualidade diferenciada; na indústria farmacêutica e medicinal, já que exibem efeitos terapêuticos, como atividade sedativa, relaxante muscular, analgésica, expectorante, antidepressiva, dentre outros fins.

A produção

Algumas cultivares apresentam suas pequenas flores não só na tonalidade arroxeada, mas também é possível encontrar lavandas com flores rosadas e brancas. Sendo assim, a produção de óleos essenciais, principalmente o de lavanda, não é somente uma atividade viável, mas muito rentável.

Os custos anuais variam entre R$ 1.600 a R$ 2.000/ha, levando em consideração desde a implantação do lavandário, adubações de correções e cobertura, capinas, até a colheita. 

A lavanda é uma planta perene, de ciclo longo e que pode ser explorada comercialmente por até quinze anos. Nos primeiros anos a produção é muito inferior (em alguns casos, atingindo até 200 kg/ha) mas passa a atingir seu melhor entre o segundo e quinto ano, com produção estimada em até 04 t/ha.

Um hectare de lavanda produz aproximadamente 3.500 a 4.500 quilos de flores secas, que se transformam em torno de 53 a 67 quilos de óleo essencial de lavanda. No Brasil, vende-se o quilograma de óleo na faixa de R$ 100 a R$ 135.

No Brasil, a produção comercial se concentra na região sul e sudeste, favorecida pelo clima. As cultivares mais utilizadas são a Lavandula angustifolia, a “lavanda tradicional” mais conhecida e consagrada mundialmente, e a Lavandula dentata, conhecida como “wild french lavander” (lavanda selvagem francesa) ou “lavanda brasil”, por se desenvolver muito melhor no clima brasileiro que o europeu.

Há um plantio de L. dentata no Sul de Minas Gerais, na cidade de Monte Verde, ainda com uma produção pequena destinada à fabricação regional de cosméticos e medicamentos. Outro local já registrado de cultivo de lavanda no Brasil é na cidade de Cunha (SP), onde a L. angustifolia é cultivada juntamente com outras plantas aromáticas, como o alecrim. O Lavandário, empresa rural nesta cidade, é destinado ao turismo para visitação da lavoura e os produtos de óleos essenciais destinam-se à fabricação de cosméticos e fins gastronômicos.

Por fim, na cidade de Morro Reuter, único município gaúcho que planta comercialmente a cultura, 15 famílias se dedicam à atividade para extração de óleo, em cerca de três hectares, substituindo áreas de milho. Além disso, a cidade sedia a Festa Nacional da Lavanda, com programação cultural, exposições e grande incentivo à cultura e seus produtos.

Créditos Pixabay

Como plantar

O plantio pode ser feito por meio de semeadura direta e de mudas (estaquia). As sementes podem ser semeadas no local definitivo ou em bandejas e vasos, neste caso sendo transplantadas quando as mudas estiverem grandes o bastante para serem manuseadas. As sementes geralmente germinam em duas a seis semanas.

Para a propagação por estaquia, os ramos podem ser cortados com cerca de 10 cm de comprimento, retirando as folhas da parte inferior, que ficará enterrada no solo. Embora a semente de lavanda seja bem mais barata (por volta de R$ 6 o pacote com 300 g) e enraíze melhor, o plantio por sementes implica problemas como quebra de dormência, baixo vigor e crescimento lento das plantas.

O espaçamento entrelinhas mais utilizado é de 1,20 m e de 0,40 m entre plantas, resultando em até 20 mil plantas por hectare, dependendo do porte da variedade cultivada e das condições de cultivo.

A planta não é muito exigente em tratos culturais, mas é essencial o cultivo em solos bem drenados (uma vez que é sensível ao excesso de água), arenosos, leves, moderadamente férteis e com pH entre 6,5 e 7,5. O ideal são solos calcários, que devem permanecer levemente úmidos durante a fase inicial de crescimento.

Quando bem desenvolvida, a lavanda é resistente a períodos de seca e pode ser irrigada. Necessita de luz solar direta por pelo menos algumas horas, diariamente. A L. angustifolia exige duas podas anuais, uma logo após o florescimento (primaveira), onde as gemas laterais são cortadas, e outra no outono, quando, além das gemas laterais, se cortam também as gemas apicais.

Cuidados

É muito importante retirar as plantas invasoras que estiverem concorrendo por recursos e nutrientes, processo que normalmente é feito de forma manual. É recomendado, ainda, que se cortem os ramos mais velhos, já que estes se tornaram lenhosos com o decorrer do tempo.

É uma cultura que apresenta poucas pragas e doenças características, sendo a maioria relacionada ao manejo incorreto e excesso de umidade, como Botritys e Fusarium.

É recomendado, na implantação da cultura, 500 kg/ha de adubo NPK 10-10-10. É preciso que o adubo incorpore bem ao solo antes de ocorrer o plantio. Para adubação de cobertura recomenda-se a aplicação de 80 a 100 kg/ha de nitrogênio, em três ou quatro aplicações durante o crescimento das plantas e na pós-colheita.

A adubação com nitrogênio é importante, pois o nutriente favorece o aumento do comprimento do caule e a produção das inflorescências. Para a produção de 100 kg de inflorescência, estima-se que a lavanda retire cerca de 08 kg de nitrogênio, 02 kg de fósforo e 08 kg de potássio do solo.

Colheita

A colheita deve ser realizada nas primeiras horas da manhã, a fim de se obter maior concentração dos óleos essenciais. As flores são colhidas assim que se abrem e as folhas podem ser colhidas quando necessário, mas são menos apreciadas do que as flores.

O óleo essencial é extraído apenas das flores recém-colhidas. Deve-se retirar em torno de um terço, ou metade da parte aérea, ou deixar até três conjuntos de folhas, ou ainda três nós com gemas, para propiciar a rebrota nos outros ciclos.

Armazenagem

O armazenamento para secagem após a colheita deve ser feito em local seco, arejado e fora de incidência solar direta. É importante que as flores recém-colhidas permaneçam longe de umidade e altas temperaturas, para evitar volatilização e escurecimento do óleo que será extraído.

O cultivo de lavanda para a produção de óleos essenciais é um negócio com boa rentabilidade, que aguça todos os sentidos e inspira por seu aroma marcante e único, além de sua indescritível beleza.

Nos campos brasileiros, perfume da lavanda está no ar

Da França para o Brasil, o perfume inesquecível das lavandas já pode ser sentido na cidade de Cunha, no interior paulista. O Lavandário é uma propriedade rural na estrada que liga Guaratinguetá a Paraty, com seis hectares estampados pelo azul inesquecível dessas flores que, no início, eram apenas um hobby para a proprietária Fernanda Freire, mas hoje se tornou uma profissional do setor. Atualmente, o Lavandário faz parte de um roteiro turístico aberto à visitação e também é fonte de renda na extração de óleo essencial.

A propriedade rural, que começou com a plantação de poucos pés de lavanda, e por isso recebeu seu nome, possui 150 mil m². Fernanda Freire explica que existem mais de 200 tipos de lavandas, cada uma com suas especificidades e compostos químicos, mas isso não denota que uma seja melhor que a outra – apenas têm características e perfumes diferentes.

Dentre o gênero Lavandula, a espécie L. angustifolia tem mais de 30 manifestações com flores maiores, menores, roxas, lilases, brancas e rosas. Essa imensa variedade também se manifesta nas outras espécies. Todas as espécies de lavanda têm os mesmos componentes, variando as porcentagens de cada um.

Por sua melhor adaptabilidade ao clima e solo brasileiro Fernanda optou por desenvolver o plantio da L. dentata e da L. stoechas. A primeira tem produzido, em Cunha, floradas durante o ano todo. O Lavandário também cultiva alguns canteiros de outras variedades: L. angustifolia ‘Hidcote Blue’; L. latifolia ‘Grey hedge’; L.multifida ‘Sidonie’ e L. stoecha ‘Pedunculata’.

Por onde começar

O Lavandário não tem uma média de produtividade, pois esta depende das condições climáticas, que influenciam bastante na adaptação da lavanda no Brasil. Por isso, Fernanda dedica também um espaço da propriedade à pesquisa, cultivo e preservação, além de destilação do óleo essencial e desenvolvimento de produtos.

A produtora deixa uma dica para quem quer cultivar lavanda: “uma das coisas mais importantes é o uso frequente do calcário, que ajuda regular a acidez do solo para o pH médio de 6 a 7%, que permite que a planta floresça e se desenvolva bem. A lavanda não gosta de muita água em sua fase adulta, apenas no viveiro, quando precisa ser regada todos os dias. Mas depois de transferida para o campo, ela prefere regiões mais secas e frias”, ensina.

Para Fernanda, plantar lavanda tem vários benefícios, a começar pelo encanto e perfume que embelezam a propriedade, deixando um cheiro muito agradável no campo. Depois vem a extração do óleo essencial, um produto muito importante na produção de cosméticos, como sabonetes, perfumes, cremes, produtos terapêuticos, gastronômicos e na composição de produtos de limpeza.

Doenças e pragas

Em regiões muito úmidas as podas podem enfrentam fungos que prejudicam o desenvolvimento da planta, e por isso é importante plantá-la em regiões pouco chuvosas. Ainda, por ser uma planta de pouco cultivo no Brasil, não há fungos e doenças específicas, assim como produtos direcionados à lavanda, e por isso é fundamental o acompanhamento de um agrônomo para tratar e indicar o melhor fungicida, quando for detectada qualquer doença.

As podas

A empresária explica que para plantar a lavanda não há uma época certa, e a poda pode ser feita durante o ano todo, apenas evitando os períodos chuvosos, porque a planta precisa estar seca para isso, e não entrar no processo de destilação já deteriorada. Com esses cuidados, o Lavandário consegue garantir o ciclo de floração pelo menos três vezes ao ano, que é de onde se extrai o óleo, o carro-chefe da empresa.

O Lavandário permanece florido 365 dias por ano, e para isso Fernanda investe em podas regulares – “toda semana podamos cerca de 500 pés de lavanda, e com isso conseguimos manter o campo sempre em fase de renovação, não todo ao mesmo tempo, mas ao longo do ano. Por isso eu não tenho nunca uma grande produção; normalmente produzimos no máximo quatro litros de óleo por semana, o qual é todo absorvido pelo nosso esquema comercial”.

A extração de óleo

A etapa de extração do óleo é realizada toda no lavandário, logo após as podas. “Fazemos a poda e depois encaminhamos para destilaria, que processa 100 kg de planta simultaneamente, quantidade que rende meio litro de óleo. Assim, se fazemos uma média de quatro destilações por dia, vamos ter dois litros de óleo/dia. Já nas semanas chuvosas não há podas e não destilamos nada”.

Os óleos essenciais são extraídos pelo método tradicional no destilador por arraste a vapor, com controle total da produção. Por isso Fernanda garante um puro óleo essencial de lavanda para ser utilizado em aplicações terapêuticas, cosméticas e na gastronomia.

“O óleo essencial da lavanda já era utilizado pelos romanos para lavar roupa, tomar banho, aromatizar ambientes e indicado como calmante, relaxante e para alívio de dores. Com nossos óleos essenciais, desenvolvemos produtos para levar os benefícios da lavanda para a casa do cliente”, justifica a empresária.

Compromisso com o meio ambiente

Para Fernanda, o compromisso com o meio ambiente se traduz na proteção das áreas naturais e manutenção das matas, com sua fauna e flora silvestres. Insetos, répteis e aves convivem no Lavandário e sua população é controlada naturalmente. “Os animais não atacam, mas reagem quando se sentem ameaçados. Por isso, temos áreas demarcadas para o passeio e recomendamos que se evite andar no meio da plantação”.

Cada visitante chega ao Lavandário com expectativas diferentes, muitas vezes baseadas em fotos de campos de lavanda de outros países, com climas diferentes e espécies de lavandas adaptadas a esses climas.

Fernanda explica que a propriedade tem flores de lavanda o ano todo, no total de 40 mil pés plantados e cerca de 10 mil em plena floração, tendo passado por mais de três podas. A meta é chegar a uma plantação com cerca de 100 mil pés. “As plantas mais novas levam cerca de oito meses para florir e estar em ponto de poda. Sempre tem uma área florida porque procedemos uma poda rotativa: semanalmente podamos 300 pés que florescem depois, em três ou quatro meses”, relata.

Assim, no Lavandário o visitante pode ver sempre plantas podadas, outras começando a florir e plantas em fase de poda, além das mudas recém-plantadas que estão em fase de desenvolvimento. “Mas, lembre-se de que, independente da estação, há épocas em que chove muito e há meses em que fica muito tempo sem chover. As flores sofrem um pouco, e não temos tanto controle sobre a paisagem. As lavandas também mudam de cor conforme a luz do dia. Ficam mais ou menos roxas, em sol pleno, de manhã ou no final do dia”, alerta a proprietária.

De cair o queixo

O Lavandário é uma propriedade rural, em região montanhosa, com uma vista linda para as serras. Lá são plantadas lavandas e ervas aromáticas em um terreno que já foi um pasto e após foram mantidas as poucas reservas existentes das matas originais. Isso significa também manter a fauna – há s, insetos, seriemas, lagartos e outros bichos.

Por ser um roteiro turístico e uma questão de segurança, há placas informando sobre os cuidados que se deve ter, principalmente quando se leva crianças e idosos para esse passeio. Os caminhos são de terra ou pedra e podem ser escorregadios.

Para pessoas com dificuldades motoras, Fernanda Freire sugere que acompanhantes subam de carro até a rampa da sede, onde ficam o café e a loja. Do deck, que foi projetado para maior acessibilidade, é possível apreciar a paisagem, observar as flores e sentir o aroma e o clima de relaxamento. Há um estacionamento próximo à rampa.

Perfume de lavanda o ano todo

No Lavandário, há a possibilidade de também adquirir as mudas de Lavandula dentata e, dependendo da disponibilidade, de algumas outras espécies, para levar para casa e manter a beleza de suas flores por perto. “São plantas ornamentais, resistentes e muito aromáticas”, garante Fernanda Freire.

No Brasil, as lavandas florescem o ano todo e podem ser mantidas em vasos pequenos e depois transplantadas para um vaso grande ou para o jardim. “Se for fazer um canteiro maior, use nossas mudas mais desenvolvidas e dê espaço para elas, pois podem crescer bastante”, recomenda a especialista.

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