O Brasil é um dos maiores produtores de algodão do mundo e o segundo maior exportador da fibra. Porém, o escoamento da produção ainda enfrenta grandes desafios para se tornar mais eficiente.
Com o objetivo de entender o que impacta o transporte da pluma de algodão, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) nos trouxe alguns aspectos que envolvem a logística do produto e como garantir que ele chegue à indústria mantendo a alta qualidade da fibra.
Concentração de embarques em Santos
De acordo com Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa, o porto de Santos é o maior da América Latina e é responsável por 97% de todos os embarques de algodão brasileiro. “A consequência disso é a aglomeração de embarques em um único local, o que gera problemas logísticos e aumenta o custo do transporte, já que a distância até o porto se torna uma barreira”, pontua.
Grande distância
Outro desafio, segundo Alexandre, são os produtores da região de Mato Grosso, por exemplo, que percorrem cerca de 2.100 km até o porto, enquanto a Bahia, um dos maiores produtores de algodão do País, precisa percorrer mais de 1.600 km até Santos.
Para Schenkel, essas distâncias acabam encarecendo o transporte e gerando a necessidade de uso do modal rodoviário para o escoamento da produção.
Contaminação do algodão
Outro desafio que enfrenta o transporte da pluma de algodão, destacado pelo especialista, é a limpeza dos caminhões de terceiros, utilizados para transporte de outros produtos, que podem contaminar o algodão.
O risco de incêndio também é um ponto que preocupa, já que a fibra é altamente inflamável.
Modal rodoviário
Em 2022, 80% da exportação brasileira de algodão em pluma dependeu exclusivamente do modal rodoviário. “Diferente de grãos, o algodão é transportado em contêineres para a exportação. Há poucas opções de rotas ferroviárias com esse modal no Brasil. Outro ponto importante é que há baixa disponibilidade de contêineres no Brasil, o que faz com que eles não viajem normalmente para o interior do País, como ocorre nos EUA, por exemplo”, completa o presidente da Abrapa.
Qualidade da fibra de algodão
A qualidade da fibra de algodão pode ser afetada durante o transporte e armazenamento. A capa dos fardos é frágil e não funciona como proteção de sujeiras das carrocerias. Óleo, areia, soja e grãos podem se misturar facilmente à fibra e condenar parte do fardo para o comprador.
Medidas para garantir a qualidade da fibra de algodão
Check list de carroceria de caminhões nas unidades de beneficiamento para identificar sujeiras é um fator determinante. Alexandre destaca também a importância do correto carregamento dos fardos e disposição nas carrocerias. “Caso os fardos não sejam corretamente carregados, aumenta o atrito entre eles e também o risco de incêndio”, explica.
Impacto na competitividade
A logística eficiente pode impactar diretamente na competitividade do setor de algodão brasileiro. Para o comprador, receber um fardo íntegro, sem sujeira ou contaminação, é fundamental.
Qualquer problema de qualidade pode prejudicar a imagem do produto no mercado e comprometer todo o trabalho do campo e do beneficiamento.
Alexandre afirma que, para melhorar a logística da pluma de algodão, são necessários investimentos em mais ferrovias, com a logística de contêineres inclusa, e melhorias das estradas existentes.
“A logística é um fator determinante para o sucesso do setor e, portanto, é necessário investir em soluções que garantam a eficiência e a qualidade do transporte e armazenamento da pluma de algodão”, conclui o especialista.