21 C
Uberlândia
segunda-feira, dezembro 2, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosMadeira comercializada de espécies ameaçadas

Madeira comercializada de espécies ameaçadas

Boletim da série Timberflow, do Imaflora, mapeia as espécies vulneráveis mais exploradas e mostra que mercado nacional é responsável por 94% desse consumo

Entre 2010 e 2020, foram movimentados no Brasil 7,3 bilhões de metros cúbicos de madeira em tora de espécies ameaçadas, volume que representa 6% do fluxo de madeira nas transações nacionais. Os dados inéditos são revelados na 11ª edição do Boletim Timberflow, iniciativa do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Entre as 60 espécies sensíveis comercializadas, 32 pertencem à categoria Vulnerável
Crédito: Miriam Lins

O boletim foi desenvolvido a partir da Plataforma Timberflow, ferramenta criada para dar mais transparência à cadeia produtiva da madeira no Brasil com base nos dados dos sistemas oficiais de controle de produtos florestais (DOF/Sinaflor, SISFLORA Mato Grosso e Sisflora Pará), e é o primeiro mapeamento que consegue listar quais foram as espécies ameaçadas comercializadas em toda a década, identificar os principais estados produtores e consumidores e quais são os produtos gerados com essas espécies.

“Após um trabalho desafiador de análise de dados de espécies, superando as barreiras de acesso e inconsistências de nomenclatura, chegamos a uma lista com 60 espécies e respectivos status de ameaça Para isso, consideramos as espécies florestais constantes na lista vermelha da IUCN e as listadas nos instrumentos legais e portarias nacionais editadas pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2014, 2021 e 2022. Esse esforço foi feito para chamar a atenção para o tema da comercialização dessas espécies madeireiras e propor, junto com todos os atores do setor, uma discussão de caminhos para a manutenção da biodiversidade e da integridade setor florestal”, explica a consultora da iniciativa de legalidade florestal do Imaflora, Maryane Andrade.

Entre as 60 espécies sensíveis comercializadas, 32 pertencem à categoria Vulnerável (VU), 27 à classificação Em Perigo (EN) e a apenas 1 à categoria Criticamente em Perigo (CR). A principal diferença é que as espécies classificadas como VU ainda podem ser exploradas em Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), respeitando critérios de manutenção das espécies, enquanto aquelas na categoria EN e CR têm a sua exploração proibida.

Ameaça

O principal estado produtor de espécies ameaçadas é Mato Grosso, com 55% da produção, seguido pelo Pará (25%), Rondônia (10,3%). Os três fazem parte da Amazônia Legal e também são historicamente os maiores produtores de madeira da região.

O estudo concluiu que o mercado nacional foi responsável pela compra de 94% dessa produção, sendo a região Centro-Oeste (35%) o principal destino destas madeiras, seguido pela região Norte (27%). Entre as espécies ameaçadas presentes nas transações de madeira, destacam-se a itaúba, a garapeira, o angelim, o cedro, o cumaru-de-cheiro e o acapu, que juntas, representam mais de 82% da produção total.

Grande parte do volume comercializado de espécies Críticas (CR) e Em Perigo (EN) se deu nos anos que antecedem a promulgação da IN MMA n.º 1, de 12 de fevereiro de 2015, pelo IBAMA – que proíbe a aprovação de Planos de Manejo Florestal de espécies dentro dessas classificações.

A partir de 2016, os dados indicam uma redução na exploração dessas espécies como um impacto positivo dos instrumentos legais, mas comprovam que a legislação ainda não foi suficiente – em 2020, foi registrada nos bancos de dados oficiais a exploração de 18.348,97 metros cúbicos de madeira em tora de espécies dentro das classificações CR e EN.

Espécies ameaçadas são comercializadas com baixo valor agregado

A maior parte da madeira proveniente dessas espécies sensíveis (94%) são destinadas a produtos pouco nobres, como madeira serrada bruta, que por si só representa 60% dos produtos comercializados, juntamente com outros derivados como resíduos industriais, cavacos e lascas, toretes e mourões.

A outra parte mínima da produção é destinada a produtos finais com maior valor agregado, como pisos, compensados e lâminas.

O acapu (Vouacapoua americana) é um exemplo de espécie em extinção que, apesar dos esforços, de conservação continua sendo explorada. Apenas o acapu representa 2,5% da produção total e acumula uma produção de mais de 188 mil metros cúbicos de madeira em tora.

Apesar da proibição de seu corte pelo seu risco à extinção, sua madeira hoje é comercializada ilegalmente para usos ordinários, como como matéria-prima barata para produção de cercas e mourões de fazendas na Amazônia.

Combate à ilegalidade para unir produção e conservação

Além dos dados sobre o consumo, com o propósito de promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais, o 11º boletim também traz recomendações para mudar esse cenário.

Em primeiro lugar, destaca-se a importância de combater a ilegalidade, fraudes e o vazamento para o mercado ilegal, além de inviabilizar o comércio de espécies EN e CR. Para isso, o refinamento da fiscalização por parte dos governos estadual e federal é essencial. Já os produtores podem apostar em soluções como tecnologias e sistemas de rastreabilidade de cadeias madeireiras e due diligence para garantir que seus produtos sejam de origem legal, sem comprometer a conservação de espécies vulneráveis.

“Os esforços para proteção e conservação das espécies madeireiras amazônicas demandam uma inteligência coletiva e cooperação de todos os elos da cadeia, bem como de governos e mercados. Observamos que a proibição de exploração de determinadas espécies pouco adianta se não houver empenho no combate à ilegalidade. Embora não seja tarefa fácil, é possível reforçar medidas em prol de um setor florestal mais responsável e eficiente”, reforça Maryane Andrade.

O mercado também precisa se adaptar e estimular o consumo de uma maior diversidade de espécies madeireiras. Na nona edição do Timberflow, estão listadas 30 espécies alternativas às mais manejadas que poderiam ser utilizadas em substituição.

No Brasil, também é pertinente estimular que os estados com legislação para compra de madeira incorporem o uso prioritário de espécies alternativas em medidas regulatórias como questão de política pública, como foi publicado também na 10ª edição.

Como subprodutos são o destino da maior parte das espécies ameaçadas comercializadas no Brasil, é necessário investir no desenvolvimento industrial do setor florestal para elevar o valor agregado dos produtos de madeira.

Quanto à exportação destas espécies, é essencial a cooperação internacional para monitoramento e avaliação de riscos de ilegalidade das cadeias produtivas de espécies ameaçadas. Isso pode ser feito, por exemplo, aumentando a exigência de selos de verificação independentes para exportação.

A produção deste boletim teve como um dos principais desafios de  acesso às informações do Ministério do Meio Ambiente, por isso também é indicada a criação de uma base de dados amigável disponível, para superar a barreira de acesso à informação para a conservação das espécies florestais.

O Boletim 11 pode ser baixado no site de forma gratuita, com o objetivo de contribuir com o monitoramento e compreensão dos mercados das espécies ameaçadas amazônicas presentes nos fluxos madeireiros.

Sobre o Imaflora

O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora – é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995, que nasceu sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e a uma gestão responsável dos recursos naturais.

O Imaflora acredita que a certificação socioambiental é uma das ferramentas que respondem a parte desse desafio, com forte poder indutor do desenvolvimento local, sustentável, nos setores florestal e agrícola.

Dessa maneira, o Instituto busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola; colaborar para a elaboração e implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer, de fato, a diferença nas regiões em que atua, criando ali modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em outros municípios, regiões ou biomas do País.

Mais informações: https://www.imaflora.org/

ARTIGOS RELACIONADOS

Casas de madeira, um novo mercado para o eucalipto de MS

A área de florestas plantadas de eucalipto em Mato Grosso do Sul já chegou a 1.000.000 de hectares segundo dados divulgados semana passada pelo...

Nanopartículas previnem fungos em bambus

Estudo “Bambu para uma engenharia sustentável“ faz uso inédito no País de moderno microtomógrafo de raios X Opção mais sustentável às madeiras de reflorestamento, o...

Fosfito no controle de doenças de cedro australiano

Nilva Terezinha Teixeira Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro...

Desbaste de mogno africano: Você sabe fazer?

  Rodrigo Ciriello Diretor comercial da Tropical Flora rodrigo@tropicalflora.com.br   Como continuidade do trabalho de pesquisa e desenvolvimento na produção de mogno africano (Khaya senegalensis), a equipe da...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!