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Mal-das-folhas da seringueira: Todo cuidado é pouco

Autores

Tais Santo DadazioEngenheira agrônoma, doutora em Proteção de plantas e professora de Fitopatologia – FIB e Unisalesianotais.dadazio@hotmail.com

Roque de Carvalho DiasEngenheiro agrônomo, mestre em Proteção de Plantas e doutorando em Agronomia – UNESP/FCA roquediasagro@gmail.com  

Leandro Tropaldi Engenheiro agrônomo, mestre em Agricultura, doutor em Proteção de Plantas e Professor de Plantas Daninhas – UNESP-Dracenal.tropaldi@unesp.br

Seringueiras_Crédito: Edson Luiz Furtado

A seringueira (Hevea brasiliensis) pertence à família Euphorbiaceae, e é uma espécie florestal nativa da região Amazônica que apresenta importância econômica mundial, por ser a principal fonte de borracha.

Também denominado como mal-sul-americano e queima-das-folhas, é considerada a doença mais grave da cultura, cuja ocorrência é restrita apenas ao continente americano. Nos países asiáticos, devido às cultivares utilizadas serem todas suscetíveis e o clima altamente favorável,  a doença é tratada como assunto de segurança nacional.

Todo cuidado é pouco uma vez que o fungo é altamente agressivo, de difícil controle e de fácil disseminação na área, especialmente em regiões com condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento da doença, UR 90%, no entanto, de acordo com zoneamento agroclimático para o desenvolvimento da doença no País, realizado pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), há uma vasta área potencial para o desenvolvimento da seringueira, sem risco de epidemias, visto que há estações secas bem definidas.

Sintomas e prejuízos

O mal-das-folhas é causado pelo fungo Microcyclus ulei, um parasita específico do gênero Hevea. A doença tem início quando os esporos (estrutura reprodutiva) do fungo se depositam nas folhas novas. Para que ocorra a infecção, são necessárias pelo menos oito horas de orvalho contínuo, e os esporos penetram diretamente a cutícula.

No caso de água da chuva, como esta escorre rapidamente, leva os esporos para as partes baixas da copa e para o solo, desfavorecendo a doença.

Posteriormente, o fungo se espalha no campo por meio de respingos de chuva e por vento a curtas e longas distâncias. Inicialmente, os sintomas surgem na face inferior da folha, com pequenas manchas necróticas circulares, nas quais há intensa reprodução do fungo, que se manifesta na forma de esporos de aspecto aveludado e coloração verde escura.

Quando a doença se manifesta em condições favoráveis, as lesões se unem e recobrem boa parte da folha, causando necrose e queda do mesmo. A seringueira ainda consegue emitir novas brotações, no entanto, se a desfolha continuar, ocorrem como prejuízos: atraso no crescimento, redução na produção de látex, seca descendente e morte das plantas.

 Nessas condições, observam-se lesões em ramos, pecíolos e frutos jovens.  Além disso, quando os folíolos suscetíveis são infectados até 12 dias de idade até o início da maturação, eles não caem prematuramente e assim, contribuem para a continuidade da doença.

Já quando as condições não são favoráveis ou os folíolos são mais velhos, os danos são menores, pois não ocorre queda dos mesmos.

Incidência

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A doença pode ocorrer o ano todo e pode atingir viveiros, jardins clonais e plantio industrial. Nos viveiros e jardins clonais, a doença pode ter alta incidência, reduzindo a porcentagem de plantas em condições de serem enxertadas. Além disso, plantas desfolhadas não soltam a casca, inviabilizando a enxertia.

 Geralmente a doença se mostra mais agressiva em seringais suscetíveis, em locais de baixada, mal drenados e úmidos, com orvalhos prolongados. Outros fatores ainda podem contribuir para que ocorram epidemias no campo, como a severidade do patógeno, a suscetibilidade da seringueira à doença, presença de inóculo na área, localização topográfica do plantio e do período de troca das folhas.

Vale ressaltar que a desfolha sempre é maior em regiões de baixada. Quando ocorre uma desfolha de 75%, a redução na produção de látex é em torno de 30% (Ferreira, 1989).

Quase todo o território paulista e mineiro, bem como partes do Estado de Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, se mostram impróprias para as graves epidemias do mal-das-folhas.

Práticas eficientes

Em relação ao manejo, existem práticas preventivas, como, por exemplo, o plantio em locais desfavoráveis (zonas de escape) e uso de clones de copa resistentes. Enquanto as medidas curativas, como aplicação de fungicidas, são mais comuns em viveiros, jardins clonais e plantas que irão receber a segunda enxertia, não é recomendado o controle químico em plantas adultas, visto que é uma prática economicamente inviável.

As zonas de escape são áreas que se apresentam desfavoráveis ao desenvolvimento do patógeno. Isso porque apresentam estação seca bem definida, na época de troca de folhas das plantas, sem risco que se tenham epidemias. Como exemplo, o Planalto de São Paulo, o Sul de Mato Grosso, Nordeste de Mato Grosso do Sul, Noroeste de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e o Sul do Maranhão, são áreas em que há condições desfavoráveis e, embora possa ocorrer a doença, não teremos epidemias.

Já nas demais regiões, que apresentam condições favoráveis ao desenvolvimento da doença, deve-se dar preferência ao plantio de clones resistentes de H. brasiliensis, que apresentam uma troca de folhas uniforme, o que normalmente coincide com o período seco e temperaturas mais baixas. Por outro lado, os clones híbridos provenientes do cruzamento de H. brasiliensis e H. benthamiana devem ser evitados, uma vez que apresentam a troca de folhas de maneira desuniforme, e assim, não permitem a quebra do ciclo do patógeno.

Em regiões altamente favoráveis ao desenvolvimento da doença, como é o caso da região Amazônica, que apresenta longos períodos de molhamento foliar e altas temperaturas, o uso de clones resistentes com trocas uniformes de folhas não é suficiente para garantir o controle da doença.

Nesses casos, o plantio deve ser feito com a enxertia de copa, que se mostra altamente resistente ao mal das folhas. Para tal, utiliza-se um porta-enxerto vigoroso e rústico, em um primeiro enxerto com clone produtivo, que resultará em segundo enxerto de um clone resistente.

Controle químico

Como dito, o controle químico é utilizado com maior frequência em viveiros e jardins clonais, e pode ser feito com uma mistura de produtos como Propiconazole e Manzate ou Mancozeb, ou Daconil BR e ainda Chlorothalonil.

Recomenda-se que os fungicidas do grupo dos triazóis seja utilizado em mistura com fungicidas protetores, para evitar o aparecimento de raças resistentes. Embora haja um alto custo nos seringais adultos, as aplicações podem ser realizadas no período de reenfolhamento das árvores até que as folhas atinjam a maturidade. 

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