Autor
Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com
Nos últimos tempos vem ocorrendo uma mudança nos hábitos alimentares da população em geral, em que se observa um aumento no consumo de frutas e hortaliças, marcado pela tendência no consumo de alimentos saudáveis e isentos de resíduos de defensivos químicos.
Neste sentido, a produção de orgânicos constitui uma tendência mundial. Contudo, esta modalidade de cultivo é mais complexa e, a princípio, mais dispendiosa que a convencional. Em contrapartida, o produto final é mais valorizado pelo mercado, tendo em vista também que na produção convencional são utilizados defensivos químicos que não eliminam os problemas fitossanitários.
Esta se torna uma notória opção para o cultivo de fruteiras, visto o potencial alimentício, econômico e social que as mesmas representam. No Brasil, há potencial de empregabilidade e geração de renda do setor frutícola, podendo em alguns casos empregar até seis trabalhadores por hectare, além de contribuir no desenvolvimento das exportações do país.
O mamoeiro (Carica papaya L.) é uma planta de clima tropical cujo centro de origem é relatado na região noroeste da América do Sul. Esta fruteira tem apresentado grande interesse por parte dos produtores pelo fato de seus frutos serem muito apreciados pelos brasileiros. Assim, a procura e, por conseguinte, a demanda em frutos de alto valor nutricional e produzidos com bases sustentáveis e sem risco à saúde do consumidor tem crescido no País.
Os orgânicos
A produção de mamão orgânico de qualidade e saudável é uma realidade e uma ótima opção aos fruticultores, desde aqueles que cultivam pequenas propriedades até os grandes produtores, sendo rentável e interessante na diversificação da produção até a manutenção da sustentabilidade no sistema agrícola.
O valor elevado de mercado das frutas orgânicas constitui o principal incentivo à expansão do cultivo frutícola orgânico. Lembrando que a produção de frutas orgânicas que possam competir com as frutas convencionais em relação à qualidade e, sobretudo, ao valor de mercado, ainda constitui um entrave no processo de desenvolvimento da fruticultura orgânica.
Relacionado a isso, temos ainda a baixa expressividade na produção de produtos genuinamente orgânicos e com selo de certificação. Assim, os produtos orgânicos ainda são considerados pouco acessíveis à população em geral, contudo, com o aumento nos índices de produção, a tendência é que sejam acessíveis e que cheguem à mesa de todos os brasileiros em breve.
Desafios no campo
A agricultura orgânica visa sempre possibilitar um maior grau de sustentabilidade ao agronegócio, sem aplicação de agroquímicos. Segundo o MAPA, pela Instrução Normativa nº 50, de 5 de novembro de 2009, somente poderão utilizar o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica os produtos orgânicos que são originários de locais de produção que passam pelo controle de agências que avaliam a conformidade e que sejam credenciadas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Segundo Souza et al., (2012), embora os alimentos orgânicos se destaquem por sua reduzida toxicidade, maior período de durabilidade e teor de alguns nutrientes em alguns alimentos, são necessários mais estudos que façam a comparação entre os dois tipos visando comprovar a superioridade do seu valor nutricional e para que não haja controvérsias.
No cultivo do mamão orgânico, alguns cuidados devem ser observados, dentre eles:
Ü Escolha de cultivares adaptadas às condições agroecológicas locais;
Ü Diversificação de espécies dentro do ambiente de cultivo;
Ü Plantio das mudas em áreas com exposição ao sol;
Ü Promover o preparo reduzido do solo, evitando a destruição dos coloides presentes no mesmo;
Ü Utilização de adubação orgânica e também o cultivo de plantas que possam funcionar como adubação verde;
Ü Promover a nutrição equilibrada de plantas;
Ü Manejo de plantas espontâneas que atuam como garantia de maior diversidade de organismos benéficos nos agroecossistemas;
Ü Presença de plantas benéficas que auxiliem no controle de pragas e doenças, que realizem a atração de insetos polinizadores, etc.
Ü Utilização de quebra-ventos em regiões com ocorrência de ventos fortes e constantes.
Controle fitossanitário orgânico
O controle de pragas e doenças na agricultura orgânica tem início com o planejamento da propriedade, visando compreender os fenômenos que envolvem o processo produtivo na sua totalidade. Os conhecimentos agroecológicos devem ser aplicados visando maximizar os resultados na produção. Assim, o controle deve se iniciar primeiramente pela escolha da época correta de plantio de cada cultura.
Em seguida, deve-se observar as exigências climáticas da espécie a ser cultivada com a análise de solo das glebas da área de cultivo (calagem e a fosfatagem) à medida que estas forem necessárias. Ressalta-se, ainda, a importância da adoção de práticas que aumentem a proporção de matéria orgânico no solo e a biodiversidade da área para obtenção de melhores resultados no controle de pragas e doenças (Tivelli, 2013).
Investimento
O investimento inicial para o cultivo orgânico é dependente do poder aquisitivo do produtor, pois quanto maior o capital disponível para ser investido, mais radical será a conversão do sistema convencional para o cultivo orgânico, já que ocorre maior expectativa em relação a retornos rápidos. Em contrapartida, quanto menor o recurso a ser investido, mais gradual e lenta será a conversão.
Lembrando que o período de “quarentena”, exigido pela legislação após o final da utilização de insumos não permitidos pelas normas até o produto poder ser vendido como orgânico, de acordo com a Instrução Normativa 007 de 17 de maio de 1999, é de 12 meses para produção vegetal anual e de pastagem perene, e de 18 meses para produção vegetal perene (Brasil, 1999).
Lucro
De acordo com a região em que será implantado o cultivo, a produção do mamoeiro pode ter início entre oito a 10 meses após o plantio das mudas no campo. O mamão orgânico pode atingir patamares de preços de até quatro vezes mais, podendo alcançar 80% da produtividade em relação ao cultivo convencional. Tal fato ressalta sua elevada rentabilidade.
Segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (ORGANIS), a região sul constitui a principal consumidora de produtos orgânicos no Brasil. Em contraposição está a região sudeste, com o menor índice.
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Realidade
Uma realidade no cultivo do mamoeiro no Brasil é a utilização do System Approach no Estado do Espírito Santo, visando à exportação da fruta para o mercado americano. Esse sistema integra as práticas de pré e pós-colheita, possibilitando a exportação da fruta para mercados mais exigentes.
Segundo Jang e Mofit (1994), o System Approach pode ser definido como a integração de fatores biológicos, físicos e operacionais que podem afetar a incidência, a viabilidade e o potencial reprodutivo de uma praga em um sistema de práticas e procedimentos que, juntos, levam à segurança quarentenária, ou seja, a prevenção da introdução e disseminação de pragas ausentes no local de destino do produto (países importadores).