Valéria Rosa Lopes
Doutora em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e engenheira agrônoma na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e ParnaÃba (CODEVASF)
Reginaldo Fragoso
Mestre em Agronomia e proprietário da Biocert Controle de Pragas
A broca do colmo (Diatraeasaccharalis) é considerada uma das principais pragas da cultura da cana-de-açúcar, uma vez que os danos causados por ela trazem prejuízos expressivos aos produtores e às usinas.
A cada 1% de intensidade de infestação dessa praga, estima-se que são perdidos 0,25% de açúcar, 0,20% de álcool e 0,77% de peso. Isso se deve ao fato de que os danos podem ser diretos e indiretos.
Os danos diretos são aqueles provocados pela broca e se caracterizam pela presença de galerias nos colmos da planta, podendo levar à quebra dos colmos e morte da gema apical, principalmente em plantas jovens (o chamado “coração morto“).
Os danos indiretos são causados pelo complexo de fungos oportunistas, como os da podridão vermelha Colletotrichumfalcatum e Fusariummoliniforme, que causam a inversão da sacarose nos colmos, reduzindo a qualidade do caldo.
O dano econômico pode variar muito e depende da idade do canavial, das fases mais suscetíveis,dos tratos culturais que eliminam os inimigos naturais, seguido por áreas próximas de matas e de vinhaça, onde ocorrem maiores infestações da praga. Uma estratégia interessante é a adoção de variedades resistentes e o monitoramento de pragas.
Por onde ela anda
A praga (mariposa) vem de áreas próximas ou até mesmo distantes, de plantios de cana infestados ou de outras culturas também atacadas por ela, como o milho, sorgo e arroz. A mariposa também pode permanecer e se multiplicar em talhões ainda não colhidos e à espera da colheita e, por esse motivo, não mais monitorados, ou ainda na cana bisada.
A fêmea geralmente realiza a postura dos ovos (de cinco a 50) nas folhas da planta, onde as lagartas se alimentam migrando para a bainha da folha, penetrando nos colmos após a primeira ecdise na base dos entrenós. Dentro do colmo as lagartas constroem galerias, permanecendo lá por 40 a 60 dias. Por este motivo, o controle químico dessa praga tem sido pouco eficiente, pois o produto não consegue atingir a praga dentro do colmo da planta.
Os ovos são sensíveis à dessecação, ficando ressecados em condições de umidade inferiores a 70%. A longevidade dos adultos é de quatro a sete dias, dependendo das condições ambientais. Dessa forma, a infestação pela praga depende das condições ambientais, mas também de outros fatores, como a presença de hospedeiros alternativos à praga, aplicação indevida de agrotóxicos que reduzem a população de inimigos naturais, redução do monitoramento e controle da praga, além do uso de variedades suscetíveis.
Sendo assim, o monitoramento constante do canavial, realizando amostras frequentes e em quantidades adequadas, é essencial para o controle adequado dessa praga.
Monitoramento e aplicação
O monitoramento deve ser feito a partir do 3º -4º mês após o plantio, quando começam a aparecer os primeiros colmos. O levantamento é realizado em dois pontos por hectare, sendo cada ponto constituÃdo por cinco metros lineares, analisando-se os dois lados da rua, totalizando assim 10 metros lineares por ponto, método mais efetivo de levantamento que determina o nível da população.
Deve-se contar o número de entrenós atacados e então estimar o Ãndice de infestação (II), pela fórmula: Ãndice de infestação (II) = 100 x (nº de internódios atacados/nº total de internódios).
O ideal é iniciar o controle sempre que este Ãndice for superior a 3%.
É essencial definir o momento exato da aplicação, que deve ser determinado pelo monitoramento de adultos da broca da cana-de-açúcar (mariposas) em campo, utilizando armadilhas adesivas com feromônios da praga.
Atualmente, o controle biológico da broca tem sido o mais eficiente, e devido à difusão da tecnologia, é mais fácil obter as vespas, Cotesiaflavipes, e as microvespas, Trichogrammagalloi, sendo a primeira utilizada para o controle na fase de lagarta e a outra ainda na fase de ovo.
O monitoramento de adultos auxilia na tomada de decisão, que é importante para ter resultados com alta eficiência. A liberação da microvespa deve ser realizada no início da infestação da praga em campo. Desse modo, constrói-se um histórico de ocorrência da praga por talhão e/ou da infestação.
Constatada a praga, recomenda-se que sejam realizadas entre três e quatro liberações semanais (uma cartela/semana/ha), que contenham cerca de 50.000 a 100.000 parasitoides.
Ao localizar os ovos da broca na cultura, as microvespas realizam o parasitismo controlando a praga. As larvas de Trichogrammagalloi se alimentam do embrião da praga, e num período de apenas nove dias ocorre a emergência de um novo parasitoide, que atacará um novo ovo da praga, iniciando um novo ciclo.
Já as vespas da Cotesiaflavipes depositam seus ovos no interior da lagarta e as larvas passam a parasitar a lagarta após a eclosão dos ovos. As larvas da vespa se alimentam do interior da lagarta, que morre exaurida, não conseguindo completar seu ciclo.