Guilherme José Ceccherini
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
ceccherini93@gmail.com
O Trichoderma atua sob diversas formas contra os fungos patogênicos, destacando-se a produção de metabólitos tóxicos e de enzimas extracelulares, competição por nutrientes e nichos de colonização, além de indução de resistência na planta hospedeira.
No caso do morango, o Trichoderma tem se mostrado uma ferramenta eficiente contra nematoides.
Como funciona
A alta capacidade reprodutiva do Trichoderma, assim como sua eficiente utilização de nutrientes e forte agressividade contra fitopatógenos, é o que lhe confere sucesso como agente de biocontrole.
Porém, tudo vai variar de acordo com a cepa, condições ambientais, tipo de cultivo associado ao manejo nutricional, assim como pH e concentração de ferro. Os fungos do gênero Trichoderma, por encontrarem-se no solo, possuem potencial antagonista aos patógenos que habitam este local, já que são micoparasitas necrotróficos.
O micoparasitismo é um meio direto que envolve o crescimento, seguido do enrolamento e formação de estruturas semelhantes a apressórios, degradando a hifa do patógeno pela secreção das enzimas líticas.
Além dos mecanismos de efeito direto, como a antibiose, com a secreção de metabólitos secundários voláteis e não voláteis como quitinases, proteases e celulase, que provocam a degradação da parede celular do fungo, antagonismo pelos nutrientes e espaço físico, apresenta crescimento agressivo e rápida colonização do substrato.
Antagonismo
O Trichoderma é considerado um fungo antagonista, pois produz enzimas líticas que degradam a quitina, polímero componente principal dos ovos dos nematoides.
Fungos do gênero Trichoderma spp. podem suprimir nematoides de forma direta e indireta, por meio de competição, parasitismo, produção de metabólitos tóxicos, como enzimas líticas (proteases, lipases, glucanase e quitinase) que degradam a parede celular de fungos e nematoides do solo. Nesse tipo de controle há o parasitismo direto de ovos e juvenis.
A produção de compostos antibióticos tóxicos, quando em contato, causam toxidez, enquanto enzimas hidrolíticas causam a degradação física da parede celular dos nematoides. Já as proteases atuam na degradação de proteínas envolvidas no desenvolvimento dos mesmos.
Recomendar, em conjunto, efetuar o uso adequado de práticas que reduzam a população das espécies, como adubação verde, rotação de culturas, plantas antagonistas, incorporação de matéria orgânica, controle biológico e monitoramento populacional.
Direto na planta
Microrganismos antagonistas, como o Trichoderma, produzem secreções e liberam enzimas hidrolíticas que atuam na parede celular do nematoide, degradando-a.
Durante a competição, ocorre disputa de nutrientes e de espaço pelo antagonista. Dessa forma, um fitonematoide que tentar infectar a raiz encontrará outro microrganismo no lugar, produzindo, além da barreira física, moléculas antimicrobianas letais.
Outra maneira que Trichoderma pode ser benéfico é pela indução de resistência ou ativação do mecanismo de defesa da planta. Isso ocorre porque alguns genes das plantas estão condicionados a expressarem resposta a infecções, podendo, através de patógenos ou estimulado a partir do Trichoderma, levar à ativação do mecanismo de defesa das plantas que produzem metabólitos e enzimas como as fitoalexinas, quitinases e glucanases.
SAR e ISR
Assim, há uma resposta de hipersensibilidade, implicando nas defesas relacionadas ao ácido salicílico, compreendendo assim o mecanismo de resistência sistêmica adquirida (SAR).
É importante reconhecer a possibilidade de que a planta desenvolva resposta de resistência sistêmica induzida (ISR) ao Trichoderma. Isso porque este fungo regula os níveis de etileno na planta e produz auxinas que atuam como antagonistas do ácido salicílico e regulação de ácido jasmônico/etileno, induzindo resposta ISR.
O morangueiro
Entre os fitonematoides mais comumente encontrados em cultivos de morango, temos, segundo Arieira et al. (2008), o Meloidogyne hapla, Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Pratylenchus vulnus, Pratylenchus penetrans, Aphelenchoides besseyi, Aphelenchoides ritzemabosi, Aphelenchoides fragariae, Longidorus elongatus, Ditylenchus dipsaci, e Helicotylenchus dihystera.
Para o manejo destes parasitas, se recorre muito ao controle químico, entretanto, os nematicidas químicos têm seu uso cada vez mais limitado, devido a sua alta toxidez, risco ambiental, alto custo ou baixa eficácia de controle depois de repetidas aplicações. Além de não serem seletivos, afetam toda a biota do solo.
Ainda, há uma pressão social que torna intensa a busca de métodos alternativos ao químico. Portanto, o controle biológico é promissor contra a infestação de nematoides em diversas culturas, sendo esse método não poluente do meio ambiente, com alta especificidade ao alvo, fácil aplicação e não oneroso, características que o colocam em posição de destaque em relação ao controle de nematoides.
Biológicos
O controle biológico dos nematoides apresenta inúmeras vantagens em relação ao controle químico, dentre as quais se destacam:
1) não causa efeito danoso ao ambiente;
2) não deixa resíduos nos produtos colhidos;
3) não favorece o surgimento de formas resistentes dos 20 nematoides;
4) não causa desequilíbrio na biota do solo, com consequente ressurgimento do problema com maior severidade;
5) potencialmente, pode transformar um solo conducente em supressivo;
6) é de fácil aplicação.
Planejamento
Você deve conhecer todas as vantagens e desvantagens dos produtos bionematicidas, para inclui-los no seu planejamento agrícola sem problemas futuros.
Atualmente, a produção de morango é realizada sob diferentes meios de cultivo e práticas culturais, sendo o mais praticado o cultivo no solo em canteiros elevados com o uso de mulching.
No entanto, em muitos locais vem se adotando o cultivo fora do solo, em sistema de bancada, com o uso de substrato. Contudo, existem vários cenários em que o não controle de nematoides por Trichoderma pode acontecer, por exemplo a falta de espaço e tempo para cultivar adubos verdes ou outras culturas.
Dessa forma, o uso, por si só, do fungo não eliminará 100% dos nematoides da áreas mas contribuirá para reduzir dentro da demanda do produtor que não consegue campo para rotacionar.
Assim, o Trichoderma é uma ferramenta aliada no manejo integrado de nematoides. A combinação entre estas táticas de manejo aumenta o rendimento de morangos em 78,2%.
Em conjunto
Sabe-se que o Trichoderma e a microbiota do solo trabalham de forma sincronizada, trazendo consequências diretas e positivas para plantas do local, como aumento eficiente da absorção de nutrientes e água, indução de resistência a doenças causadas por fitopatógenos e crescimento da mesma.
Contudo, além da atividade direta contra fitopatógenos, alguns compostos produzidos por esse fungo são capazes de alterar substancialmente o metabolismo de plantas hospedeiras.
Fungos do gênero Trichoderma são saprófitos componentes ativos da microbiota do solo, participando de inúmeros processos nesse ambiente.
Os metabólitos secundários são compostos de baixa massa molecular e bastante apreciados no ramo agrícola, podendo exibir uma infinidade de funções biológicas e atuar como protagonistas em diversas interações entre organismos (ex. fungo – fungos, fungo – planta, fungo – microbiota).
Cuidados
Embora as linhagens de Trichoderma sejam encontradas em diversos ambientes terrestres, as que foram escolhidas para uso na produção agrícola dependem de condições mais específicas para atingirem seu máximo potencial de ação no controle.
Para a maioria das linhagens comercializadas no Brasil, a temperatura ideal de crescimento é de 25 ± 20ºC; umidade de 60 ± 10%, pH entre 4,5 – 5,5 e concentração de matéria orgânica acima de 2%.
Entretanto, é importante mencionar que as linhagens de Trichoderma são bastante tolerantes às amplas variações em todos esses fatores, podendo atuar mesmo quando as condições não sejam consideradas as mais adequadas.
Assim, cabe às empresas responsáveis pelos bioprodutos, formulados à base de Trichoderma, fornecerem as informações quanto às faixas de tolerância de seus agentes, principalmente em relação à temperatura, umidade e pH, para que o produtor escolha o produto mais apropriado às suas necessidades e consiga obter o resultado desejado.