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Manejo do mofo-branco em hortaliças

 

Ailton Reis

Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador da Embrapa Hortaliças

ailton.reis@embrapa.br

Carlos Alberto Lopes

Engenheiro agrônomo, PhD e pesquisador da Embrapa Hortaliças

carlos.lopes@embrapa.br

Hélcio Costa

Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador do Incaper

helciocosta@incaper.es.gov.br

Crédito Arquivo Embrapa
Crédito Arquivo Embrapa

Na agricultura intensiva, sistema em que é cultivada a maioria das hortaliças, predomina o cultivo contínuo de espécies em uma mesma área. Neste sistema, é muito comum a presença de solos compactados, pequena diversidade de cultivares e rotação de culturas inadequada, que resultam em alta densidade de propágulos de patógenos no solo. Esta situação, aliada à incidência de temperaturas e umidades favoráveis, favorecem a ocorrência de doenças causadas por microrganismos polífagos, dentre os quais se destaca o fungo Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo-branco. Essa doença ocorre principalmente sob condições de alta umidade do ar e do solo, bem como irrigação em excesso.

O mofo-branco

O mofo-branco, que também pode atacar grandes culturas como soja, girassol e feijão, é um problema sério para o cultivo de algumas hortaliças, tais como o tomate, a batata, a ervilha, as brássicas e a alface, em especial quando cultivados em solos contaminados e sob condições de temperatura amena e alta umidade.

Em todas estas hospedeiras, seu controle químico é difícil de ser feito devido à dificuldade de se atingir os sítios de infecção, próximos ao solo, pois este fica encoberto pelo dossel da cultura. Além disso, sua ampla gama de hospedeiros restringe as opções para rotação de culturas em áreas já infestadas, praticamente se restringindo às gramíneas, que podem não ser economicamente interessantes para os produtores.

Sintomas do mofo-branco em batata - Crédito Arquivo Embrapa
Sintomas do mofo-branco em batata – Crédito Arquivo Embrapa

Sintomas

Os sintomas do mofo-branco são muito semelhantes nas diversas culturas. Iniciam-se normalmente na junção do pecíolo com a haste, aproximadamente de 10 a 15 cm acima do solo, onde se percebe a formação de micélio branco abundante sobre as partes atingidas, em que as flores e folhas desprendidas ficam retidas.

O início da infecção geralmente coincide com o ‘fechamento’ da cultura e o florescimento, quando pétalas de flores senescentes são colonizadas pelo fungo que, a seguir, infecta outros órgãos da planta. Os tecidos dos ramos atacados são invadidos e, com a expansão da necrose, a planta pode apodrecer, morrer, e transmitir a doença para as plantas vizinhas.

Os ramos doentes se tornam desbotados, esbranquiçados a cinza claros, secos, se assemelhando a ossos de animais. Nesta fase, desenvolvem cavidades internas pela destruição da medula, que são preenchidas com micélio e escleródios do patógeno. Os escleródios são estruturas escuras e endurecidas, similares a fezes de rato, que têm a função de promover a sobrevivência do fungo na ausência da planta hospedeira. Frutos, tubérculos e raízes tuberosas também são atacados e apodrecem, podendo desenvolver um mofo-branco e escleródios na superfície.

Epidemiologia

O mofo-branco é uma doença de clima ameno e úmido, muito severa quando as temperaturas variam de 15 a 21ºC. A ocorrência de alta umidade do ar e água livre nas plantas por um certo período de tempo favorece a germinação das estruturas de resistência do fungo, os escleródios, um importante fator para o ciclo da doença. A germinação dos escleródios pode ser miceliogênica, ou seja, quando o micélio é produzido a partir do escleródio, ou carpogênica, quando uma estrutura de frutificação chamada de apotécio é produzida a partir dos escleródios.

Sob condições favoráveis, os escleródios de S. sclerotiorum germinam gerando apotécios, que produzem uma grande quantidade de ascósporos. Estes são ejetados e facilmente transportados pelo vento e podem infectar plantas em um raio de 50 a 100 metros da fonte produtora.

Para que a germinação carpogênica ocorra, os escleródios devem receber luz suficiente para a emissão dos estipes e formação dos apotécios. Caso contrário, só ocorrerá a germinação miceliogênica, ou seja, a produção de micélio, que é capaz de penetrar tecidos sadios das plantas hospedeiras quando em contato com eles.

Foto 03 Outra cultura que sofre com os ataques do mofo branco é o tomate - Crédito Arquivo Embrapa
Outra cultura que sofre com os ataques do mofo branco é o tomate – Crédito Arquivo Embrapa

Em áreas livres de S. sclerotiorum, quando o inóculo não está presente no solo, uma epidemia de mofo-branco pode ser iniciada por meio do uso de sementes contaminadas, internamente pelo micélio dormente do fungo, ou com escleródios transportados junto ao lote de sementes.

O micélio dormente, presente nas sementes, pode manter sua viabilidade por mais de três anos. Quando semeadas, e sob condições favoráveis de umidade e temperatura, o micélio se desenvolve e dá início à infecção. Muitas das sementes assim contaminadas podem não germinar, mas podem produzir micélio e escleródios.

O fungo S. sclerotiorum é uma espécie altamente polífaga, já tendo sido registrado atacando mais de 400 hospedeiras diferentes no mundo. No Brasil, a lista de hospedeiras também é bastante extensa, incluindo um grande número de hortaliças (Tabela 1).

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