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Manejo integrado de pragas no abacateiro

Franciely da Silva PonceEngenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESPfrancielyponce@gmail.com

Claudia de Lima Toledo Engenheira agrônoma e doutoranda em Agronomia/Proteção de Plantas – FCA/UNESPclaudia.lima.toledo@gmail.com

Santino Seabra JúniorEngenheiro agrônomo, PhD e professor – Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat)santinoseabra@hotmail.com

Abacate – Crédito: Shutterstock

O Brasil é um dos maiores produtores de abacate (Persea americana Mill), uma fruta popular, muito apreciada na culinária, em vitaminas e saladas. Dentre as variedades cultivadas estão a Breda, Fortuna, Geada, Margarida, Ouro Verde, Quintal e o Avocado (Hass). Cerca de 10% dos frutos produzidos são destinados ao abastecimento do mercado interno, e 90% da produção é destinada à exportação, sendo uma das principais frutas exportadas, tendo como destino o México e Estados Unidos.

A maior concentração da produção de abacate está nos Estados de São Paulo (21.216 t), Minas Gerais (50.751 t), Paraná (20.003 t), Rio Grande do Sul (4.520 t) e Distrito Federal (3.050 t).

Pragas

No cultivo de abacate, ocorrem diversas pragas que prejudicam a produção e a qualidade dos frutos. A maioria dessas pragas são lepidópteros (mariposas e borboletas) e coleópteros (besouros), que promovem o broqueamento dos frutos, caule, ramos e desfolha. Identificar corretamente a praga é um dos princípios do manejo integrado de pragas (MIP).

Para tanto, é preciso conhecer as características das pragas e seus hábitos, o que facilita o monitoramento, identificação e posicionamento correto das ferramentas de controle.

Broca-do-abacateiro

A principal praga do cultivo de abacate é broca-do-abacateiro (Stenoma catenifer). O dano ocorre durante a fase jovem do inseto, em que as lagartas recém-emergidas perfuram a casca do fruto, alimentando-se da polpa e, por vezes, do caroço.

Nas galerias acumulam as fezes e restos de alimento, o que promove apodrecimento local e a formação de uma crosta esbranquiçada. A broca-do-abacateiro compromete a qualidade dos frutos, além disso, trata-se de uma praga quarentenária em países importadores de abacate, como Estados Unidos, o que faz com que o cuidado seja redobrado.

Os danos aos frutos podem ocasionar a queda precoce dos mesmos, reduzindo a produção das plantas. Os frutos brocados não são aceitos no mercado consumidor.

Os adultos são noturnos e ficam sobre a copa das árvores de abacate ou em plantas próximas as árvores. Os ovos são depositados na superfície dos frutos próximos ao pedúnculo e cada fêmea pode colocar em média 250 ovos, dependendo da temperatura. A temperatura é um fator relevante no manejo da praga, sendo indicativo de rápida multiplicação.

O cultivo de variedades com frutificação em períodos distintos contribui para a permanência da praga na área, devido à disponibilidade de alimento. O monitoramento deve ser feito semanalmente, com a vistoria dos frutos, observando principalmente a área do pedúnculo, onde as fêmeas depositam seus ovos.

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No entanto, o uso de armadilhas de feromônio possibilita um monitoramento mais efetivo, com menor uso de mão de obra e as infestações são diagnosticadas ainda no início, aumentando a chance de êxito no posicionamento da ferramenta de controle. Para o monitoramento da broca-do-abacateiro é recomendado o uso de uma armadilha tipo delta contendo feromônio para três a cinco hectares, enquanto que para controle recomenda-se ao menos três unidades por hectare.

Tabela 1. Pragas secundárias do cultivo de abacateiro.

Praga Danos Controle Imagem da praga  
Lepidoptera  
Deuterollyta majuscula (Pyralidae)   Desfolha Químico; biológico. 1
Pteurourus scamander (Papilionidae)   Desfolha Químico; biológico. 2
Saurita cassandra (Arctiidae) Desfolha Químico; biológico. 3
Nipteria panacea (Geometridae)   Desfolha Químico; biológico. 4
Coleoptera  
Heilipus catagraphus (Curculionidae) Na fase larval, os insetos recém-eclodidos fazem galerias em troncos, raízes e frutos. Podem ocasionar a morte de plantas jovens e danos aos frutos. Os adultos se alimentam das folhas e frutos do abacateiro. O controle é feito pela catação dos insetos, remoção de ramos atacados e aplicação de fungicida no local. Controle químico. 5
Heilipus rufipes (Curculionidae) 6
Apate terebrans (Bostrychidae) Os insetos constroem galerias no tronco e ramos das árvores. Em alta infestação podem levar à morte da planta. Controle químico (pulverização dos locais atacados). 7
    Ácaros    
Oligonychus yothersi; Oligonychus persea Provocam danos diretos aos frutos e às folhas, causando um aspecto áspero de lixa na casca e redução da fotossíntese e qualidade dos frutos. Controle químico, cultural e biológico.  8

Prejuízos

Os danos ocasionados pelas pragas são diretos aos frutos e indiretos, atacando as folhas, caule, raízes e ramos. A broca-do-abacateiro proporciona perdas diretas e, apesar de se alimentar das folhas, o principal dano é feito ao fruto.

Os demais lepidópteros-praga citados ocasionam desfolhas, reduzindo a fotossíntese e, consequentemente, a produtividade. O nível de controle dificilmente é atingido, sendo pragas de importância secundária.

Os besouros citados promovem danos indiretos e se alimentam promovendo redução na produção ou mesmo a morte das plantas. Os ferimentos são porta de entrada para doenças, sendo necessário o tratamento dos ferimentos com fungicidas.

Os ácaros danificam a casca dos frutos, reduzem a qualidade e diminuem a área fotossintética das folhas ao se alimentarem, promovendo a necrose das células.

Manejos preventivo e curativo

No controle da broca-do-abacateiro, a coleta e destruição dos frutos caídos são essenciais para não ocorrer a emergência de novos adultos, tendo efeito preventivo e curativo. O ensacamento dos frutos brocados pode ser usado, sendo uma estratégia no controle da praga, já que as larvas morrem devido à elevação da temperatura dentro dos frutos.

Porém, a destruição dos frutos brocados e o ensacamento irá promover a morte dos parasitoides que eventualmente tiverem parasitado as larvas, reduzindo também a população de inimigos naturais.

A mortalidade natural das pragas no sistema de cultivo é um dos pilares do MIP, para tomada de decisão, e é ocasionada por fatores climáticos como chuva, vento e temperatura, ou por parasitoides, microrganismos ou predadores.

Os inimigos naturais se estabelecem no ambiente de cultivo um tempo depois do estabelecimento da praga, e muitas vezes são prejudicados pela aplicação de inseticidas não seletivos, fungicidas, ou mesmo herbicidas.

Adotar práticas que favoreçam a permanência dos inimigos naturais no sistema de cultivo auxilia na redução das pragas e na necessidade de aplicações de produtos fitossanitários.

No caso de predadores e parasitoides, a presença de plantas com flores é importante, pois servem de alimento e abrigo para os inimigos naturais, como Trichogramma spp. O manejo do sistema produtivo pelo uso de práticas mais sustentáveis, como cobertura do solo, produtos fitossanitários seletivos e respeito aos níveis de controle de cada praga, pode favorecer a presença dos inimigos naturais e melhorar a mortalidade natural do sistema.

A destruição de restos culturais, a remoção e destruição das áreas das plantas afetadas por besouros e ácaros auxilia na redução das infestações, podendo ser utilizada como medida curativa, sem dispensar os demais métodos de controle.

Biológicos

O uso de produtos biológicos, como Beauveria bassiana, é uma alternativa para o controle de insetos como os ácaros, mosca-branca e tripes, com menor impacto sobre o meio ambiente e menor risco de contaminação. Além disso, a aplicação de produtos piretroides visando o controle de das pragas irá promover a reprodução acelerada de ácaros.

Lembrando que, atualmente, não existem inseticidas registrados para o manejo da broca-do-abacateiro, devido principalmente ao hábito da praga, que constrói galerias no interior dos frutos, ficando protegida da aplicação dos inseticidas, o que levou algumas empresas a investirem esforços no sentido de produzir on farm agentes de controle biológico, como os parasitoides de ovos Trichogramma spp.

As liberações inundativas de Trichogramma spp. apresenta eficiência superior a 80% em campo, dependendo da linhagem utilizada, pontos e momento de liberação. Entre as vantagens, podemos destacar:

• Não apresenta seleção de populações resistentes do inseto-praga;

• Os parasitoides de ovos Trichogramma spp. controlam os ovos da praga, impedindo que o dano ocorra;

• No cultivo do abacateiro, o Trichogramma spp. pode controlar, além da broca-do-abacateiro, os ovos das lagartas desfolhadoras citadas anteriormente;

• O custo das liberações de Trichogramma spp. é baixo, quando comparado a outros métodos de controle, como o químico.

• A produção on farm tem apresentado bons resultados, sendo utilizada por grandes produtores de abacate, como o Grupo Jaguaçy (Bauru-SP).

Dentre as desvantagens, estão:

• A produção deste parasitoide tem crescido nos últimos anos, no entanto, a oferta é menor que a procura;

• As biofábricas estão concentradas na região sudeste e a logística é um gargalo da distribuição.

Manejo

O controle biológico no cultivo de abacate utilizando parasitoides do gênero Trichogramma deve ser empregado mediante monitoramento da praga, sendo realizadas as liberações conforme as exigências da cultura.

Por hectare, são recomendados 240 pontos de liberação com uma dose de 500 mil vespas de linhagens já estudadas. Em termos de produtividade, o uso de Trichogramma spp. confere uma redução de 48% dos frutos brocados.

O uso de outros produtos biológicos, como Bacillus thuringiensis, apresenta eficácia elevada no controle de lepidópteros desfolhadores, no entanto, no caso da broca-do-abacateiro, a ingestão desse produto é reduzida, devido ao hábito da praga, comprometendo o controle.

Fungos entomopatogênicos

O emprego de fungos entomopatogênicos, como a Beauveria bassiana, é uma tática eficaz na redução dos ácaros e outros insetos nos cultivos, no entanto, a eficácia irá depender do hábito do inseto e indicação do produto.

A Beauveria bassiana, quando bem empregada, apresenta eficácia de até 80% na redução de pragas, como cochonilhas, ácaros e mosca-branca (Bemisia tabaci). A aplicação deve respeitar as recomendações do fabricante.

O emprego de fungos entomopatogênicos no manejo das pragas deve obedecer aos mesmos cuidados de quando se trata do uso de qualquer outra ferramenta, como monitoramento da praga, identificação correta e aplicação conforme o registro e indicação dos produtos.

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