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quarta-feira, maio 1, 2024
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Manejo nutricional para altas produtividades em tomate

A qualidade do fruto do tomate afeta os níveis de compostos bioativos e a sua aceitação pelos consumidores

Fabrício Teixeira de Lima Gomes
Engenheiro agrônomo e mestrando em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
agro.fabriciogomes@gmail.com

O tomateiro (Solanum lycopersicum L.) é a segunda hortaliça mais importante no mundo, atrás somente da batata. É uma excelente fonte de nutrientes, vitaminas e compostos bioativos importantes para a saúde humana, incluindo compostos fenólicos e carotenoides, como o licopeno.

Nutrição correta garante alta produtividade

Devido à sua composição, tem sido considerado um alimento funcional ou nutracêutico, o que significa que o consumo regular de tomate pode prevenir e/ou atuar sobre algumas doenças humanas.

Elementos essenciais

O tomateiro é uma das hortaliças mais exigentes em nutrientes. Existe uma produção de aproximadamente quatro toneladas de matéria seca de parte aérea para oito a doze toneladas de matéria seca de frutos.

Para sustentar toda essa produção, a parte aérea deve apresentar teores de nutrientes e uma taxa fotossintética adequada, fazendo-se necessário a reposição dos nutrientes que são redistribuídos da parte área para os frutos, evitando que as folhas entrem em senescência, garantindo a atividade fotossintética, essencial para a formação dos frutos.

De modo geral, as plantas necessitam de 17 nutrientes, sendo divididos em orgânicos: carbono, oxigênio e hidrogênio, obtidos do ar e da água, e minerais, obtidos do solo ou substrato.

Os nutrientes minerais podem ser divididos em macronutrientes, quando absorvidos ou exigidos pelas plantas em maiores quantidades (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes, quando absorvidos ou exigidos pelas plantas em menores quantidades (boro, cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, níquel e zinco).

Nitrogênio: constituinte de aminoácidos, da molécula de clorofila e enzimas, além de atuar na formação de hormônios, fitoalexinas e fenóis. Fundamental para desenvolvimento da parte aérea, aumentando a capacidade fotossintética da planta e, consequentemente, a produtividade. Entretanto, doses excessivas podem levar ao crescimento exagerado do caule e das folhas, o que resulta no acamamento das plantas. 

Fósforo: essencial nas transformações energéticas de processos como fotossíntese, respiração, síntese de aminoácidos, carboidratos, lipídeos, etc. O tomateiro apresenta baixa eficiência na absorção do nutriente, dessa forma, mesmo em solos de fertilidade construída, a dose utilizada é superior à necessária para a produção de grãos e cereais. A deficiência de fósforo pode resultar em menor número e peso de frutos, o que influencia diretamente na produtividade.

Potássio: um dos nutrientes mais exigidos pelo tomateiro, apresentando importante função como ativador enzimático e regulador osmótico. Além disso, é importante na síntese de carotenoides, como o licopeno, responsável pela coloração vermelha do fruto. Sua deficiência resulta no amadurecimento desuniforme do fruto, produção de frutos ocos, além de reduzir seu valor nutricional. No entanto, doses elevadas de potássio podem induzir a deficiência de cálcio.

Cálcio: componente dos pectatos, constituintes da parede celular. Além disso, atua na ativação de algumas enzimas que agem no metabolismo do fósforo, no desenvolvimento radicular, na germinação do grão de pólen e crescimento do tubo polínico, sendo, portanto, fundamental no processo de fecundação. Uma característica importante é que o cálcio é imóvel no floema, portanto, não ocorre sua redistribuição entre os órgãos da planta. Sua deficiência característica é conhecida como “podridão apical”, que se caracteriza como uma mancha preta na região apical do fruto.

Magnésio: é constituinte da molécula de clorofila e um importante ativador de enzimas que atuam no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. Sua deficiência resulta no amarelecimento entre as nervuras das folhas do baixeiro das plantas.

Enxofre: constituinte de aminoácidos e, consequentemente, proteínas, glicosídeos, coenzimas e vitaminas. Sua deficiência resulta na redução da taxa fotossintética e de proteínas devido à maior relação do N solúvel/N proteico.

Boro: micronutriente fundamental para o processo de divisão e alongamento celular. Em sua ausência, o tecido meristemático não se desenvolve, levando à morte dos pontos de crescimento. Além disso, os frutos podem apresentar a exposição da placenta, conhecido como “lóculo aberto”, muito comum em tomates pluriloculares, mais exigentes no nutriente.

Cloro: importante cofator da enzima que catalisa a fotólise da água com a liberação de O2, além de atuar como ativador enzimático. Sua deficiência é caracterizada pelo murchamento das folhas velhas, seguido de clorose que evolui para necrose.

Cobre: participa de processos como fotossíntese, respiração, distribuição de carboidratos, além de estar envolvido no mecanismo de resistência às doenças fúngicas nas plantas. Sua deficiência não é tão comum, sendo o excesso mais frequente devido ao uso de produtos fitossanitários que apresentam o elemento em sua composição.

Ferro: constituinte das hemoproteínas e das proteínas com grupo Fe-S, estando, portanto, envolvido na biossíntese de citocromos e da clorofila. A deficiência de ferro reduz o crescimento das plantas, podendo ocorrer em aplicações de doses excessivas de calcário ou de outros fatores que favoreçam o aumento do pH.

Manganês: essencial para a síntese da clorofila, podendo também afetar a disponibilidade do ferro. A deficiência e manganês é pouco comum, assim como o cobre, em função da aplicação de defensivos à base desse nutriente.

Molibdênio: envolvido no metabolismo do nitrogênio, sendo esta, portanto, a sua principal função na planta. A principal forma de fornecimento do nutriente tem sido via semente, o que garante melhor uniformidade e eficiência da aplicação em função da baixa dose utilizada.

Zinco: relacionado ao metabolismo de carboidratos, proteínas, fosfatos e na formação de auxinas, RNA e ribossomos, além de ser componente enzimático. Na deficiência de zinco ocorre o encurtamento dos entrenós, além de deformação e redução do tamanho das folhas. Elevadas doses de fósforo podem induzir a deficiência de zinco devido à inibição não competitiva na absorção do nutriente.

Ação do selênio e silício

Além dos elementos considerados nutrientes de plantas, existem aqueles que, embora não sejam nutrientes, quando fornecidos em baixas concentrações, promovem benefícios às culturas, como por exemplo, o selênio e o silício.

A aplicação de selênio tem demostrado retardar a senescência das plantas e o amadurecimento dos frutos, reduzindo as perdas pós-colheita, atribuído principalmente à sua capacidade de aumentar as defesas antioxidantes.

Além disso, diversos estudos têm demostrado a eficiência do selênio em atenuar efeitos de diferentes estresses abióticos, tais como salinidade, seca, temperatura extrema e estresses por metais tóxicos.

O efeito benéfico do silício se deve, principalmente, à formação de uma barreira física nas células epidérmicas, pela deposição do elemento, impedindo a penetração de hifas de fungos e o ataque de insetos como afídeos.

O silício permite que as folhas fiquem mais eretas, o que aumenta a interceptação luminosa e a taxa fotossintética, além de reduzir o acamamento das plantas.

Ponto de partida

A análise do solo é essencial para definir a quantidade de nutrientes a serem aplicados e a melhor forma de aplicação, garantindo que os nutrientes sejam disponibilizados para as plantas nos estádios de desenvolvimento adequados, aumentando a eficiência da adubação.

Um dos principais fatores que influenciam na disponibilidade dos nutrientes para as plantas é o pH do solo, que pode ser corrigido pela calagem, com a aplicação de calcário. A disponibilidade de macronutrientes, como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre e do micronutriente boro é baixa em pH menor que 5,0.

Os micronutrientes cobre, ferro, manganês e zinco apresentam a disponibilidade reduzida à medida que aumenta o pH do solo, enquanto o oposto é observado para o cloro e o molibdênio.

Dessa forma, deve-se realizar a correção visando atingir um pH que resulte na maior disponibilidade dos nutrientes, que se encontra entre 5,5 e 6,5 e saturação por bases entre 70 e 80%.

Além da correção do solo, a análise do solo permite definir as doses de nutrientes a serem aplicadas com base no teor disponível no solo e na exigência da cultura, proporcionando uma adubação equilibrada, evitando que ocorra deficiência e/ou toxidez, além de evitar a aplicação de fertilizantes sem necessidade, o que pode reduzir o custo de produção.

Novas tecnologias

Os fertilizantes organominerais têm sido apresentados como uma fonte alternativa de nutrientes. É composto por uma mistura física de fertilizantes minerais e orgânicos, oriundos principalmente do processo produtivo dos setores sucroalcooleiro, de suínos e aves.

Essa combinação permite uma liberação lenta e gradativa dos nutrientes, o que permite que a cultura absorva os nutrientes em quantidades adequadas em cada fase de desenvolvimento.

Entretanto, deve-se avaliar, juntamente com um técnico, a melhor estratégia para a introdução do organomineral no sistema de produção, pensando na sustentabilidade  do sistema a curto, médio e longo prazos.

Dose ideal

O tomateiro apresenta três fases distintas, e o conhecimento de quando inicia cada uma é essencial para definir o manejo nutricional, seja por meio da aplicação do fertilizante diretamente no solo ou da fertirrigação.

A primeira fase se inicia no momento do transplante das mudas até o florescimento, com duração de 30 a 35 dias. A segunda fase se inicia por ocasião do florescimento e termina com o início da colheita dos frutos, com duração de 40 a 50 dias, após o fim da primeira fase. Por fim, a terceira fase vai do início ao final da colheita.

O suprimento de cálcio e o magnésio deve ser, preferencialmente, através da calagem. Portanto, a escolha adequada do calcário é um fator essencial para garantir a nutrição da cultura nesses nutrientes.

O fósforo deve ser aplicado no sulco de plantio e de forma localizada, em função da sua baixa mobilidade e da elevada capacidade de adsorção do mesmo nos coloides do solo. O nitrogênio e o potássio devem ser fornecidos em cobertura e de forma parcelada, cerca de 15 dias após o transplantio, de preferência via fertirrigação.

No entanto, pode-se fazer a aplicação de uma pequena dose após o transplantio para garantir um início de desenvolvimento seguro à planta.

Dicas essenciais

Na primeira fase de desenvolvimento, devido ao rápido crescimento e produção de biomassa, o fornecimento de nitrogênio é fundamental para garantir o aporte fotossintético necessário para o crescimento e desenvolvimento da cultura.

A partir da segunda fase, e principalmente no período de crescimento e desenvolvimento dos frutos, deve-se manter uma boa disponibilidade de potássio, com uma relação de N:K nas adubações entre 1:2 e 1:3. Os micronutrientes podem ser aplicados via fertirrigação ou por aplicações foliares.

Plantas mais resistentes

A resistência das plantas a patógenos e pragas é determinada por fatores fisiológicos e morfológicos, sendo ambos possíveis de serem alterados de acordo com as condições do ambiente.

A aplicação de fertilizantes afeta diretamente as doenças e as pragas, seja de forma direta, por meio do estado nutricional das plantas, ou de forma indireta, aumentando ou reduzindo o estande de plantas, o que altera a interceptação luminosa e a umidade dentro da lavoura.

Uma planta bem nutrida apresenta uma maior tolerância ao ataque de patógenos e pragas, quando comparada a uma planta que apresenta carência de algum nutriente.  Por outro lado, doses excessivas de nutrientes, como o nitrogênio, podem favorecer a incidência de doenças e o ataque de pragas, por prolongar a fase vegetativa ou, então, retardar a maturidade dos frutos.

O fósforo acelera a maturação dos tecidos, o que atenua a infecção por patógenos que atacam principalmente tecidos jovens. Entretanto, doses excessivas podem levar à maior incidência e severidade de doenças, como a fusariose do tomateiro.

O cálcio pode afetar a incidência de doenças, inibindo a atividade de enzimas pectolíticas, como a galacturonase, que dissolve a lamela média. Essas enzimas são a principal forma de acesso de patógenos aos tecidos das plantas.

Além dos macronutrientes mencionados, os micronutrientes também apresentam importante função no controle de pragas e doenças em plantas, sendo muitos deles utilizados em produtos fitossanitários.

Atenção!

O maior desafio enfrentado pelo agricultor é o elevado custo dos fertilizantes. Para que o manejo nutricional seja eficiente, é necessário que a análise de solo seja realizada em um laboratório de qualidade; com boa interpretação dos resultados na análise de solo, a recomendação feita por um técnico capacitado, e por fim, uma aplicação eficiente, seja diretamente no solo ou via fertirrigação. 

É necessário que os nutrientes sejam disponibilizados na dose, momento, local e com o produto certo, garantindo o sucesso no manejo nutricional da cultura.

O manejo adequado da fertilidade do solo garante maior eficiência na aplicação dos fertilizantes, bem como no melhor aproveitamento dos mesmos pelas plantas, o que resulta em menor consumo de fertilizantes e, consequentemente, menor custo de produção.

Além de reduzir os custos, o manejo da fertilidade do solo e a nutrição adequada da cultura resulta em maiores produtividades e produtos de melhor qualidade.

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