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Morango: Cultivo orgânico, agricultura integrada e resíduo zero

Autores

Mário Calvino Palombini
Engenheiro agrônomo e proprietário da Vermelho Natural
vermelhonatural@hotmail.com
Créditos: Shutterstock

A agricultura convencional, que foi baseada na “revolução verde”, trouxe os conceitos atuais de agricultura. Inclusive a utilização de defensivos agrícolas químicos, como a principal forma de controle fitossanitário, teve seu valor relevante na produção de alimentos, mas são tecnologias conceituais oficializadas em 1968, existentes há aproximadamente 50 anos.

Os novos conhecimentos desenvolvidos desde esta época possibilitaram vários outros tipos de conceito e aprimoramento de tecnologias. Atualmente, possuem outros três sistemas em evidência operando no mundo. A agricultura orgânica (terminologia brasileira) e agricultura integrada evoluíram para o sistema Resíduo Zero.

O sistema orgânico baseia-se no conceito de que a produção de alimentos e demais produtos vegetais é feita sem a utilização de fertilizantes e defensivos agrícolas sintéticos, além de não utilizar reguladores de crescimento ou aditivos sintéticos para a alimentação dos animais.

No sistema orgânico são aceitos defensivos agrícolas não sintetizados, de fonte natural, no entanto, estes defensivos podem conter ingredientes ativos químicos que necessitam passar pelos marcos regulatórios governamentais, por todos os testes tradicionais adotados pelos defensivos químicos sintéticos e, caso necessário, indicar sua toxidade, tempo de carência, dosagens, formas de aplicação, além de todas as informações necessárias para o seu registro. 

Integração de métodos

A Agricultura integrada se baseia em um sistema agrícola de produção de alimentos de alta qualidade que utiliza defensivos fitossanitários naturais, incluindo inimigos naturais, agentes biológicos produzidos ou não em laboratórios (fungos, monitorizas e bactérias)  e manejos fitossanitários alternativos,  em substituição, quando possível, aos defensivos químicos sintéticos.

Na prática, adota técnicas da agricultura orgânica integrada com as convencionais, promovendo uma redução gradual e significativa dos fatores de produção prejudiciais ao ambiente e ao ser humano de modo a assegurar, a longo prazo, uma agricultura viável e mais saudável.

Na produção integrada é essencial a preservação e melhoria da fertilidade do solo e da biodiversidade, além da observação de critérios éticos e sociais. Além disso, obriga o planeamento abrangente de diversos aspectos, pelo que terão de ser feitas análises periódicas das áreas de cultivo. Além disso, é, também, pedido ao agricultor o acompanhamento regular da atividade agrícola em cadernos de campo.

Resíduo Zero

O sistema Resíduo Zero trata da evolução da agricultura integrada, em que os defensivos agrícolas químicos sintéticos e naturais foram reduzidos e/ou substituídos por agentes biológicos e sistemas alternativos de controle fitossanitário.

Somente é considerado resíduo zero quando esta redução chegou ao ponto de não possuir residual químico detectável em uma análise química nos produtos agrícolas comerciais, e por este motivo são considerados isentos de resíduos de defensivos químicos e naturais.

Mas, neste sistema são aceitas adubações químicas com restrições, quando não representam risco ao meio ambiente e ao ser humano. Possui como definição oficial: “Compreende quando os produtos agrícolas comercializados apresentam resíduos de moléculas ativas encontradas em uma determinação analítica com valores abaixo de 0.01 ppm”.

Para o morangueiro

No caso especifico da cultura do morango, estão em andamento três propostas de sistema de produção. Em relação à produção orgânica, as dificuldades se encontram por não terem, assim como no sistema convencional, uma solução com eficiência agronômica aceitável para os problemas de doenças de solo.

Tanto as soluções biológicas como Trichoderma ssp quanto as plantas inibidoras de doenças de solo não possuem uma eficiência adequada, embora sejam úteis no manejo. As únicas soluções eficientes são a esterilização do solo ou o sistema de produção em substrato inerte.

Existem algumas tentativas de produção orgânica em sistemas de prateleira em substrato, mas a dificuldade passa a ser a adubação orgânica, ou seja, como fazer uma fertirrigação com o equilíbrio de nutrientes para todas as fases fisiológicas da planta (crescimento vegetativo, floração e maturação de frutos) com adubos solúveis em água, não causando entupimento de bicos de irrigação, sem utilizar adubação química.

Devido a estas dificuldades, abre-se a oportunidade de discutir se realmente existe a necessidade da proibição de todos os adubos químicos, se podem ser considerados no sistema orgânico adubos à base de sais solúveis em água, levando em consideração que, ao utilizarmos de forma correta, não existe nenhuma comprovação de dano ao meio ambiente ou à saúde humana.

Viabilidade

Para a agricultura integrada, a utilização da produção em substrato, em sistemas erguidos em prateleira com fertirrigação por gotejamento utilizando adubações químicas {a base de sais solúveis em água e em ambiente protegido com a plasticultura, abriu a oportunidade de um enorme desenvolvimento tecnológico, permitindo uma rápida e eficiente substituição dos tratamentos fitossanitários químicos sintéticos por fitossanitários químicos naturais, tratamentos biológicos e a utilização de técnicas alternativas. Isso possibilitou a redução significativa de resíduos de pesticidas no fruto.

Estas alterações estão viabilizando a substituição gradual da agricultura integrada para o sistema de resíduo zero. Mas, devo salientar que na Europa, entre o início de uma agricultura integrada até atingir um estágio de resíduo zero, decorreram 20 anos de pesquisa.

Este período de desenvolvimento agregou outras vantagens. Os avanços tecnológicos possibilitaram uma melhora na qualidade do fruto, ganho de produtividade, melhorias na administração das atividades da propriedade, otimização da utilização dos insumos de produção e, por consequência, significativas melhorias nos resultados econômicos.   

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