Ernane Miranda Lemes
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia
José Geraldo Mageste
Engenheiro florestal, Ph.D. e professor da UFVJM/ICIAG-UFU
LÃsias Coelho
Engenheiro florestal, Ph.D. e professor – ICIAG-UFU
A borracha natural é extraída da árvore de seringueira, principalmente da espécie Hevea brasiliensis. Ela é um produto estratégico para as economias e para a indústria mundial.
Apesar de a seringueira ser de origem amazônica, o Brasil não é autossuficiente na produção de borracha, produzindo apenas 47% do que consome (IBGE, 2016). O restante da borracha é importado do sudeste asiático.
Clones de seringueira mais produtivos e tolerantes à geada, ventos fortes, pragas e doenças, como o mal das folhas (Microcyclusulei), não só aumentam a produtividade de borracha como também a estabilidade da produção ao longo do tempo.
Estas características reduzem os gastos com a condução do seringal. Existem muitos clones de seringueira disponíveis no mercado, o que permite seu plantio em diversas regiões do País, principalmente nas chamadas “regiões de escape“, onde existe o ataque do fungo Microcyclusulei, mas de forma não epidêmica.
Além dos cuidados silviculturais, existe grande influência da composição genética dos clones na produtividade. A implantação de seringais rentáveis passa pela escolha de clones de rápido crescimento (possibilitando sangria precoce aos 4,5 – cinco anos) e boa resposta à aplicação de bioestimulantes.
Clones não adaptados às condições locais de clima e solo resultarão em baixas produtividades e elevados custos de produção. Outro fator que influencia a formação do seringal é a resistência a ventos. Na China, este é um fator muito considerado no melhoramento dos clones de seringueira, uma vez que há clones sensíveis à quebra de galhos e copa por ventos fortes, ou mesmo altamente suscetíveis às doenças (Furtado et al., 2008; Moraes e Moraes, 2008; Moraes et al., 2013).
Temor das florestas
O mal das folhas, causado pelo fungo Microcyclusulei, é a mais séria doença foliar da seringueira e um dos principais problemas para o estabelecimento dos seringais na América do Sul. Esta doença está ligada apenas à espécie Hevea brasiliensis, e ocorre em toda região tropical, onde não há um período seco bem definido.
Nas regiões equatoriais, no Sudeste Asiático, um fungo apodrecedor do sistema radicular tem sido o maior desafio fitossanitário. No Brasil, o nematoide de galha, causado por Meloidogyneexigua, é a doença mais destrutiva do sistema radicular da seringueira.
As raízes finas são atacadas pelo nematoide e ficam permanentemente comprometidas, absorvendo precariamente água e sais minerais, comprometendo a nutrição da planta e, consequentemente, reduzindo a produção de látex para a produção de borracha. Outro agravante dos danos ao sistema radicular é a intolerância da seringueira aos períodos de seca (veranicos).
Danos
Entre os danos causados por ambas as doenças, o mal das folhas e o nematoide de galha, estão: a desfolha prematura das árvores e o aumento da incidência de doenças oportunistas que podem levar a seringueira à morte. Portanto, clones de seringueira que apresentem resistência ou tolerância a estes males devem ter preferência para o plantio.
Nas “regiões de escape“ nunca se deve formar seringais que não sejam de materiais clonais. O chamado “pé franco“ (planta originada de uma semente) deve ser evitado a qualquer custo, mesmo que a semente tenha vindo de um plantio clonal.
Dentre as vantagens do uso do clone está a uniformidade do povoamento. Os indivíduos de um mesmo clone, mesmo sob condições climáticas similares, apresentam baixa variabilidade quanto ao vigor, à espessura de casca, à produtividade e à tolerância às pragas e doenças.
Esta uniformidade facilita o manejo da eficiência do plantio. Outro aspecto muito positivo do uso de clones de seringueira é a estabilidade da qualidade do látex produzido, o que é interessante para a indústria de produção da borracha.
Opções
Dentre os clones disponíveis no mercado brasileiro, principalmente visando atender as condições edafoclimáticas das “regiões de escape“, estão: RRIM 600 – é um clone asiático (Rubber ResearchInstituteofMalasya), produtivo e o mais plantado em larga escala no Brasil, no entanto, é altamente suscetÃvel ao mal das folhas.
É um clone de porte alto, com caule vertical e de rápido crescimento inicial. Os ramos aparecem tardiamente e formam grossas bifurcações que podem quebrar com ventos fortes se não houver condução devida da copa. A quebra de plantas em produção pode induzir ao aparecimento de clareiras no seringal adulto. Não se consegue fazer a substituição da planta e o ideal é uma condução da produção.