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Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora do Curso de Engenharia Agronômica do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (UNIPINHAL)
O emprego de produtos à base de ácidos orgânicos na produção agrícola tem crescido nas últimas décadas em todo o mundo e, mais recentemente, no Brasil. Existe, no mercado nacional, uma série de produtos que contêm ácidos húmicos e fúlvicos (os chamados ácidos orgânicos) extraÃdos de depósitos minerais (leonardita, lignita, etc), solos orgânicos (turfeiras) ou obtidos por humificação de resíduos vegetais.
Benefícios
Os efeitos positivos dos ácidos húmicos e fúlvicos sobre as plantas são justificados por influência positiva no transporte de íons, na absorção dos mesmos, no aumento da taxa respiratória e das reações enzimáticas do ciclo de Krebs, no incremento do conteúdo de clorofila, de ácidos nucleicos e de proteínas.
Os ácidos húmicos e fúlvicos são uma fonte de polifenóis que funcionam como catalisadores da respiração e podem aumentar a resistência das plantas a fatores externos. No processo de decomposição das substâncias húmicas, compostos estimulantes de crescimento, como auxinas e aminoácidos, são formados, o que pode estimular o desenvolvimento radicular e a atividade da microbiota do solo.
A literatura também menciona que a influência dos ácidos húmicos na absorção iônica seria causada pelo aumento da permeabilidade da membrana celular. Assim, os ácidos húmicos e fúlvicos podem melhorar a germinação das sementes, o desenvolvimento das plantas e a produção vegetal.
Para o solo
É de conhecimento geral que os ácidos húmicos interferem diretamente na qualidade física do solo, por promoverem uma aproximação das partículas e, consequentemente, sua união, gerando, dessa forma, uma maior agregação dos solos, o que influi diretamente em outras características do solo como, por exemplo, a densidade, porosidade, aeração, capacidade de retenção e infiltração de água no solo.
O resultado é o aumento da atividade metabólica do vegetal, aceleração dos processos enzimáticos e da divisão celular, crescimento mais rápido da raiz e da parte aérea, o que se reflete na produção vegetal. Tais benefícios já foram relatados por diversos autores e nas mais variadas culturas.
Em teste
 No UniPinhal (Espírito Santo do Pinhal – SP) conduziu-se ensaio para estudar a influência de formulados comerciais contendo ácidos húmicos e fúlvicos na formação de mudas de tomateiro.
O ensaio foi conduzido em casa de vegetação, no setor de Nutrição de Plantas do Curso de Engenharia Agronômica do UNIPINHAL, com tomateiro (Lycopersicon esculentum L.) cv Kombat.
O delineamento estatÃstico foi o inteiramente casualizado, com oito repetições e três tratamentos: controle, adicionado antes da semeadura e logo após a semeadura. O formulado empregado tem a seguinte composição: 10% de ácidos húmicos (p/p), 10,2% de ácidos fúlvicos (p/p) e 0,65% de N (p/p). Extrato húmico total = 20,2% (p/p). O uso do produto foi via drench, aplicando-se 5 ml do produto l de calda-1.
Cada parcela constou de 10 células de bandeja de polipropileno, contendo substrato composto por partes iguais de esterco bovino, areia e terra de barranco, enriquecido com termofosfato e peneirado.
As avaliações foram quanto à germinação de sementes, altura de plantas aos 20 e 30 dias e comprimento de raízes e massa verde e seca, de raízes e parte aérea, aos 30 dias da implantação dos tratamentos.
Resultados
Os resultados obtidos no ensaio, considerando-se todos os critérios, mostram que a inclusão do formulado, em ambas as formas de uso, provocaram aumento no desenvolvimento das mudas de tomateiro, tanto no sistema radicular como na parte aérea, nas condições experimentais.
Tais observações reforçam o relato sobre a influência positiva de tais compostos na respiração e na fotossíntese vegetal, que são processos essenciais na geração de energia, tão necessária para os vegetais.
Já os resultados de avaliação de germinação mostraram que aos seis dias após a semeadura as sementes que receberam os ácidos húmicos e fúlvicos, em pré e pós-semeadura, já estavam 86,70% germinadas. As sementes não tratadas levaram oito dias para atingirem 86,40% de taxa de germinação.
Em avaliação aos 10 dias após a semeadura, todos os tratamentos apresentaram acima de 92% de sementes germinadas, não ocorrendo diferenças entre tratadas ou não. Assim, pode-se considerar que a inclusão dos ácidos húmicos e fúlvicos na produção de mudas de tomate pode ser interessante, uma vez que favorecem a formação das raízes, a velocidade de germinação das sementes e o desenvolvimento da parte aérea.
Porém, alguns cuidados são básicos: atentar às doses, ao modo de aplicação e se o produto tem mesmo ácidos húmicos e fúlvicos (por vezes só indicam que tem carbono orgânico, que pode ser derivado de outros materiais).