Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor – Instituto Federal Goiano
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
Erasmo Ribeiro da Paz Filho
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e pós-doutorando – CEBIO do Instituto Federal Goiano
erasmoribeiro91eng@gmail.com
Gabriela Araújo Martins
Engenheira agrônoma, mestra em Olericultura e Nematologia Agrícola – Instituto Federal Goiano – Campus Morrinhos
gabriela.martins@estudante.ifgoiano.edu.br
Os nematoides, conhecidos como inimigos invisíveis, estão entre os problemas fitossanitários mais importantes da agricultura brasileira, pois são capazes de interferir negativamente na absorção de água e de nutrientes pelas plantas, causando uma expressiva redução de produtividade.
Os prejuízos causados pelos nematoides variam de 10 a 90% da produtividade das lavouras. Assustador, principalmente levando em conta que existem ferramentas atuais, modernas e sustentáveis para evitar os prejuízos.
Principais nematoides e impactos nas plantas
Os nematoides parasitas de plantas, ou simplesmente fitonematoides, são animais microscópios em forma de vermes que vivem escondidos no solo. Estes causam grandes prejuízos à agricultura mundial, pois afetam principalmente os sistemas vasculares da planta, impactando negativamente a absorção de água e minerais para executar os processos vitais das plantas.
Os fitonematoides mais importantes pertencem ao gênero Meloidogyne spp. e as principais espécies que se encontram associadas a diversas culturas no Brasil são: Meloidogyne javanica, M. incógnita e M. enterolobii.
Reconheça os sintomas
Também conhecidos como nematoides de galhas radiculares, as espécies desse gênero induzem o aparecimento de sintoma clássico, ou seja, a formação de engrossamentos, chamados de galhas no sistema radicular, causados pelo seu parasitismo de hábito sedentário das fêmeas desse nematoide.
Um nematoide fitoparasita bastante importante devido aos danos que ocasiona nas raízes são do gênero Pratylenchus spp. Esse fitonematoide provoca nas raízes lesões ocasionadas pela penetração e movimentação, além de abrir porta para outros fitopatógenos, como fungos e bactérias.
Esse fitoparasita tem uma gama de hospedeiros bastante ampla, englobando soja, café, milho, sorgo, cana-de-açúcar, feijão, algodão, hortaliças, dentre outros.
O nematoide de cisto Heterodera glycines encontra-se bastante disseminado, sendo o mais importante para a sojicultura brasileira. Este verme penetra e infecta as raízes das plantas de soja e estabelece um sítio de alimentação. As fêmeas, quando completam seu ciclo de vida, transformam-se em cistos, permanecendo viável no solo por muitos anos.
Outro nematoide que vem ganhando destaque no cenário atual pela sua crescente densidade populacional em raízes e solo de diversas culturas é o gênero Helicotylenchus, que causa lesões nas raízes, impedindo a absorção eficiente de água e nutrientes para a parte área das plantas.
As principais espécies presentes no Brasil que atacam várias espécies de importância agrícola são Helicotylenchus dihystera e H. multicinctus.
Ataque severo
A distribuição agregada dos fitonematoides e seu ataque severo nas lavouras causam reboleiras, com plantas subdesenvolvidas, folhas cloróticas que, muitas vezes, são confundidas com sintomas nutricionais ou fitotoxidez.
Os principais sintomas observados na lavoura que estão associados ao parasitismo de fitonematoides são: galhas no sistema radicular, lesões necróticas nas raízes mais jovens e murcha durante as horas mais quentes do dia.
Em algodão, um sintoma típico do ataque de Rotylenchulus reniforme são folhas carijó. No caso de parasitismo de M. enterelobii em goiaba, as folhas ficam com a tonalidade arroxeada, indicando o ataque do nematoide nas raízes.
Em plantas de soja parasitadas por nematoides de cisto, podem-se observar os cistos de coloração marrom a dourada nas raízes, um indicativo do ataque do nematoide.
Principais ferramentas modernas e sustentáveis
Devido ao grande impacto econômico causado pelos nematoides e à complexidade no controle, pesquisadores e profissionais da área têm buscado por soluções eficazes, sustentáveis e economicamente viáveis.
Assim, o manejo de nematoides tem envolvido uma abordagem que integra diferentes métodos, combinando estratégias químicas, genéticas, culturais, biológicas e alternativas.
Quando o assunto é controle de nematoides, não se recomenda utilizar apenas um método para reduzir sua população. Por isso, o manejo integrado tornou-se uma prática amplamente recomendada. A prática consiste em utilizar dois ou mais métodos de controle, combinando os químicos, biológicos, culturais e genético, garantindo resultados satisfatórios.
No manejo integrado é possível utilizar diversas práticas em conjunto para garantir redução na população dos nematoides. Um exemplo prático muito utilizado é o manejo cultural, que envolve a rotação de culturas com plantas não hospedeiras dos nematoides presentes na área, associado ao controle biológico.
A integração desses dois métodos promove uma redução mais eficaz na população de nematoides, criando uma interação entre eles, já que a rotação de culturas e palhada fornece alimento para os fungos e bactérias benéficos se multiplicarem e controlarem os nematoides.
Um a um
A utilização do manejo químico tem sido uma estratégia importante adotada por produtores rurais no controle de nematoides, principalmente em culturas anuais como soja, milho, algodão, entre outras.
Esse efeito positivo se deve à alta eficácia de controle e à proteção das plantas na fase inicial de cultivo, até 30 dias após a semeadura.
O manejo genético de nematoides é uma prática sustentável e de baixo impacto ambiental, que oferece bom custo-benefício ao reduzir o uso de nematicidas e insumos agrícolas. A técnica utiliza cultivares resistentes ou tolerantes, que possuem genes capazes de impedir o desenvolvimento e a reprodução dos nematoides.
Algumas plantas têm barreiras naturais que bloqueiam a penetração ou infecção, enquanto outras, via melhoramento genético, conseguem bloquear o ciclo de vida dos nematoides, impedindo que eles se alimentem e se desenvolvam nas raízes.
Vale salientar que novas raças de nematoides podem surgir e superar a resistência genética. Por isso, é importante que o manejo genético seja combinado com outras práticas para garantir sua eficácia a longo prazo.
Métodos alternativos
O uso de métodos alternativos para o controle de nematoides tem ganhado destaque nas últimas décadas, com o objetivo de reduzir o uso de nematicidas químicos e proteger o meio ambiente e a saúde do consumidor.
Entre as alternativas, o manejo com extratos de plantas e óleos essenciais se mostra promissor no controle de fitonematoides. As plantas antagonistas são especialmente importantes, sendo utilizadas em rotação de culturas, adubação verde, ou aplicadas em forma de tortas, extratos ou óleos vegetais.
Plantas com potencial nematicida podem ser medicinais, nativas do cerrado ou de cobertura. Elas produzem substâncias químicas e metabólitos secundários, como alcaloides, saponinas, taninos, xantonas, esteroides e flavonoides, que possuem ação tóxica sobre os nematoides.
Essas substâncias, presentes em plantas de famílias como Meliaceae, Fabaceae e Rutaceae, atuam como uma importante ferramenta no manejo integrado de fitonematoides, contribuindo para o controle biológico sustentável.
Os extratos e óleos vegetais atuam diminuindo a eclosão de ovos, aumentando a mortalidade de juvenis (J2) e retardando o desenvolvimento dos nematoides. Além disso, os metabólitos secundários podem alterar a permeabilidade das membranas dos patógenos, causando sua paralisação ou morte.
Exemplos de plantas com potencial nematicida incluem as brássicas, Tagetes spp., Crotalaria spp., mamona, nim, capim-limão e diversas outras espécies nativas e medicinais.
Métodos culturais
Os métodos culturais desempenham um papel importante no manejo de nematoides, especialmente a adubação com resíduos orgânicos e agroindustriais, como esterco de bovinos, aves, torta de filtro e vinhaça.
Esses materiais melhoram as propriedades físico-químicas do solo e aumentam a atividade microbiana, o que pode ajudar no controle dos nematoides. Durante a decomposição desses resíduos, compostos químicos com atividade nematicida são liberados, contribuindo para a redução das populações de nematoides.
A adubação verde é outro método eficaz, utilizando plantas antagonistas que funcionam como armadilhas para os nematoides. Essas plantas atraem os nematoides para suas raízes, mas impedem que completem seu ciclo reprodutivo.
Um exemplo é o cravo-de-defunto, que libera alfatertienil, uma substância tóxica para nematoides de galhas, ajudando a reduzir sua presença no solo. Assim, a adubação verde combina o uso de plantas com potencial nematicida com técnicas de controle biológico.
Além disso, a rotação de culturas, evitar o plantio sucessivo de plantas hospedeiras e adotar práticas como aração profunda e exposição do solo ao sol são essenciais no manejo de nematoides. Incorporar matéria orgânica no sulco de plantio, usar restos culturais e plantar espécies antagonistas, como mucuna preta, crotalária e cravo-de-defunto, são estratégias eficazes para manter o solo saudável e reduzir as infestações de nematoides.
Tecnologias biológicas
Os agentes biológicos representam uma das soluções mais estudadas no manejo de fitonematoides, devido à sua segurança ambiental e alta eficiência. Dentre os agentes biológicos, fungos como Paecilomyces lilacinus e Pochonia chlamydosporia têm se mostrado eficazes no controle de nematoides.
O fungo Trichoderma spp., em especial, destaca-se por sua ampla aceitação comercial. Ele é capaz de parasitar e colonizar ovos de nematoides, pois esses ovos são compostos de quitinas e proteases, substâncias que o Trichoderma consegue degradar eficientemente.
As rizobactérias, presentes naturalmente na rizosfera, também são amplamente estudadas por suas propriedades no manejo biológico. Elas promovem o crescimento das plantas ao aumentar a disponibilidade de nutrientes e suprimir patógenos.
Entre as rizobactérias, os gêneros Pseudomonas e Bacillus se destacam. O último, em particular, produz toxinas que afetam os ovos de nematoides e interferem na eclosão dos juvenis. Essas bactérias também podem alterar os exsudatos radiculares, desorientando os nematoides juvenis e impedindo que penetrem nas raízes, resultando na morte dos mesmos no solo.
As tecnologias biológicas, como o uso de agentes biocontroladores e inoculantes, têm desempenhado um papel fundamental na redução do impacto de nematoides fitoparasitas na agricultura.
Agentes biológicos como os fungos Paecilomyces lilacinus, Pochonia chlamydosporia e Trichoderma spp., e bactérias antagonistas, como Bacillus subtilis e Pasteuria penetrans, têm demonstrado eficácia ao parasitar ovos de nematoides e limitar sua reprodução.
Esses microrganismos benéficos competem com nematoides no solo e produzem metabólitos secundários tóxicos, reduzindo suas populações.
Além disso, inoculantes biológicos que contêm microrganismos como Bradyrhizobium e Azospirillum promovem a saúde do solo e estimulam as defesas naturais das plantas, o que aumenta a resistência contra os ataques de nematoides.