Emerson Trogello – Engenheiro agrônomo e professor – IF Goiano Campus Morrinhos – emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Ricardo Souza Lima – Engenheiro agrônomo e coordenador de sementes – Complem Agrícola – Morrinhos – ricardo.lima@complem.com.br
Francisco José Levinski – Engenheiro agrônomo e representante comercial – Sementes Oilema – francisco@sementesoilema.com.br
A cultura da soja continua a avançar em importância dentro do setor agropecuário. Segundo o último relatório da Conab, de abril de 2021, estimou-se uma área semeada de aproximadamente 38 milhões de hectares, com uma produtividade média de 3.523 kg ha-1, culminando em uma produção de 135 milhões de toneladas de grãos. A produtividade vem aumentando gradativamente, ano após ano, o que nos torna competitivos em relação a outros mercados.
A produtividade da cultura da soja depende de inúmeros fatores, mas podemos resumi-los como sendo a interação da genética com o ambiente. Desta forma, é imprescindível escolher uma variedade de soja adequada para seu ambiente, fazer com que esta variedade chegue com potencial de germinação e vigor de sementes, e garantir o melhor ambiente produtivo para que a mesma expresse seu potencial. Vários destes fatores ambientais, infelizmente, não conseguimos controlar.
A genética
As sementes sempre foram o insumo primordial para se ter uma colheita de sucesso, o pontapé inicial de uma jornada desafiadora que em média, atualmente, se resume entre 100 a 120 dias (Cultura da Soja).
O melhoramento genético vem trabalhando incansavelmente para buscar materiais que atendam as demandas do campo. Uma das principais conquistas deste processo de melhoramento foi a seleção de materiais com período juvenil longo, o que contribuiu para que a cultura da soja se expandisse para o centro-oeste brasileiro, e agora para as novas fronteiras agrícolas.
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Atualmente, com o advento das novas tecnologias, as sementes trazem em seu DNA, além da função básica de perpetuar a espécie, uma série de melhorias genéticas, como: controle dos principais insetos pragas para a cultura, resistência às principais doenças, seletividade a herbicidas que controlam plantas invasoras e tolerância ao déficit hídrico.
Tais melhorias genéticas possibilitaram uma ampla adaptabilidade da cultura e, consequentemente, o atingimento de tetos produtivos nunca antes imaginados, colocando o Brasil como o maior celeiro mundial da cultura da soja.
Como se não bastasse, o incremento de soluções ao DNA das plantas, a pesquisa de forma incansável se atentou para o desenvolvimento de novos indivíduos (cultivares), por meio de cruzamentos diversos em busca de características como o ciclo de vida do material, configurações morfológicas desejáveis (arquitetura de plantas, tamanho e formato de folhas), tudo com a finalidade de otimizar o cenário produtivo, possibilitando a implementação de uma segunda cultura dentro do período chuvoso e a extração máxima do potencial fisiológico.
As novas tecnologias
Atualmente autorizado pelo mercado regulador para produção e comercialização, possuímos três tecnologias de soja que são denominadas como:
þ Convencional: cultivares mais antigas que não possuem em seu DNA adoção de transgenia.
þ RR: a soja RR possui um evento transgênico que confere tolerância ao herbicida glifosato, tecnologia desenvolvida pela Monsanto. O glifosato é um herbicida pós-emergente, não seletivo, de amplo espectro de controle de plantas daninhas, com ação sistêmica.
þ Intacta RR2 PRO®: um dos principais e exclusivos benefícios da tecnologia é a proteção contra as principais pragas da cultura da soja. A resistência a lagartas é conferida por uma proteína Bt (Cry1Ac), que possui alta eficácia contra a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens), a broca-das-axilas (Crocidosema aporema) e a lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens). Confere também tolerância ao herbicida glifosato.
Para as próximas safras, novas tecnologias prometem chegar ao mercado, ampliando leques de resistência e sendo mais uma ferramenta de manejo para o produtor, apenas aguardando liberação do mercado regulador.
Assim, a Intacta 2 Xtend é a terceira geração de biotecnologia de soja – a segunda com tecnologia Intacta – que a Bayer traz ao mercado brasileiro. Além das pragas-alvo da tecnologia Intacta 2 Xtend (falsa-medideira, lagarta-da-soja, lagarta das maçãs e broca-das-axilas), o lançamento oferece proteção adicional contra Helicoverpa armigera e Spodoptera cosmioides.
A Bayer informa que o amplo controle de plantas daninhas na cultura da soja é um dos pilares da nova Plataforma Intacta 2 Xtend. Este benefício complementa a tolerância ao glifosato com a tolerância ao dicamba. O herbicida auxilia no controle de plantas daninhas de folha larga e pode ser aplicado antes da semeadura ou até no plantio da soja.
Implementando a tecnologia
Tão importante quanto a tecnologia embarcada nas cultivares de soja, o conhecimento técnico dos materiais e seu posicionamento assertivo são fatores extremamente relevantes na busca por melhores produções.
A grande gama de cultivares disponíveis no mercado possibilita um posicionamento in loco, exigindo a interpolação de diversas variáveis como nível tecnológico de manejo empregado no solo, capacidade tecnológica para aplicações de produtos fitossanitários, histórico de chuvas da região, histórico de doenças e pragas.
O técnico responsável pelos posicionamentos de plantio tem uma grande responsabilidade para que se obtenha sucesso na lavoura. Uma atualização constante e observação ininterrupta a campo são imprescindíveis.
As novas tecnologias serão posicionadas como mais uma ferramenta no controle de insetos-pragas e plantas daninhas, entretanto, é importante que o manejo desta tecnologia seja integrado a outros métodos de controle, visando ampliar a duração desta tecnologia e não selecionar populações resistentes de bióticos.
Recomendações
Para o sucesso na implementação das novas tecnologias, precisamos seguir um passo a passo:
O primeiro passo é conhecer as cultivares disponíveis para serem alocadas;
O segundo passo é entender a necessidade do agricultor no que se refere ao ciclo de vida do material ou grupo de maturação;
O terceiro passo é entender a capacidade tecnológica do agricultor e saber que nem todo agricultor está apto a plantar todos os materiais disponíveis. Existem níveis de exigência específicos para a extração do maior potencial de cada cultivar;
O quarto passo é conhecer as características edafoclimáticas da região e coincidir com o nível de exigência dos materiais. Buscar históricos de precipitação, luminosidade e temperatura na região de semeadura é fundamental para a escolha e posicionamento da genética;
O quinto passo, e talvez mais importante, é que a escolha da genética deve levar em conta a área do produtor, sua fertilidade natural e sua capacidade de investimento, bem como a incidência de doenças e época de plantio, e a presença de nematoides deve ser levada em conta pela recomendação de variedades adequadas a determinado produtor.
O sexto passo é: de posse do mapa de fertilidade das áreas, posicionar as populações adequadas de plantio. Um plantio com estande abaixo do que é necessário acarreta risco produtivo se não interpolado com a característica morfológica de engalhamento da planta, densidade de grão e rusticidade do material. Já um plantio com estande acima do necessário expõe as plantas a uma competição por luz, vegetação excessiva, maior pressão de doenças e maior tendência a acamamento. Existem pré recomendações populacionais, entretanto, para extração do máximo potencial são necessários ajustes de acordo com cada situação.
Equívocos
Neste processo de implementação, um dos principais erros é generalizar as recomendações, sem considerar as características do produtor, da área e da região. Determinado material está indo muito bem no vizinho, o que não quer dizer que de regra irá bem em sua área. É necessário observar capacidade tecnológica e o nível de exigência das cultivares.
Este erro pode ser minimizado com a contratação de profissionais capacitados para o posicionamento dos materiais. É importante, ainda, qdquirir sementes de origem inquestionável e parcerias com sementeiras idôneas que entregam sementes com qualidade.
Custo da tecnologia
Enfim, muitos agricultores reclamam que os custos com insumos estão cada vez maiores, e que as margens de lucratividade diminuíram. Estes custos variam de acordo com o preço do grão, que é o principal componente formador de preço.
A precificação é feita tendo como base o germoplasma e os royalties. Germoplasma é a semente propriamente dita e o royalty é a taxa paga pelo uso da tecnologia inserida nas sementes a seus desenvolvedores. Aumentando o custo do grão, como vimos nesta safra 2020, teremos em si um incremento no custo de semente, o que também observamos.
Nesta safra, o custo ha-1 estará girando entre R$ 500 e R$ 800, variando de acordo com o consumo de cada de material. O agricultor deve analisar, no entanto, não somente o valor numérico, mas a relação de “troca” entre o grão colhido e a semente comprada.
Como referência, a alta no custo médio por hectare de uma cultivar iPRO da safra 2020/21 para a safra 2021/22 é de aproximadamente 40 a 50%. Entretanto, a relação de troca deverá ser 10 a 15% menor.
É extremamente importante assim, analisar o perfil do produtor e as características da área, para que a recomendação seja o mais assertiva possível e que se consiga extrair o maior potencial produtivo do material genético para aquele ambiente proporcionado.