O Manejo Integrado de Pragas, ou MIP, como é mais conhecido, não é uma estratégia nova. Seu conceito surgiu pela primeira vez na década de 1930. No entanto, a inovação tecnológica do setor agrícola fez dessa antiga prática algo muito mais moderno e eficiente.
Antes de ter esse nome, o MIP era chamado de “controle integrado de pragas” e tinha o objetivo de controlar insetos-praga e os problemas decorrentes. Ou seja, era uma prática que visava garantir produtividade, com a menor interferência possível do agricultor na lavoura.
Posteriormente, incluiu-se no conceito de praga todos os organismos com ação prejudicial à produtividade da lavoura. Para isso, além dos insetos, foram incluídos os patógenos e plantas daninhas, o que levou a uma maior abrangência do nome “controle integrado de pragas” para manejo integrado de pragas.
No entanto, com o advento da revolução verde, tecnologias modernas e muita ciência foram sendo incorporadas às práticas de manejo, maquinários e também insumos utilizados na lavoura.
Com isso, a revolução verde priorizou a proteção de plantas diante do menor sinal de ameaça, contribuindo para um aumento expressivo da produtividade global, principalmente nos países em desenvolvimento.
No entanto, o uso prolongado de algumas tecnologias resultou no aparecimento de problemas, como:
• Surgimento de novas pragas;
• Aparecimento de novas plantas daninhas;
• Degradação do solo;
• Perda de eficiência de algumas tecnologias;
• Redução da produtividade.
Nesse momento, a maior conscientização sobre os sistemas de produção agrícola viu na filosofia do MIP uma forma de equilibrar o uso das diferentes tecnologias, entre elas a adoção de práticas que otimizassem o controle natural de pragas e doenças, levando também em consideração a redução de danos ao ecossistema. Tudo isso alinhado à produção agrícola e às mudanças nas tendências dos consumidores, que estão cada vez mais preocupados com a sustentabilidade.
Afinal, o que é o MIP?
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é um conjunto de medidas que dá suporte para a tomada de decisão no controle das adversidades do campo, podendo ser definido como o uso de várias técnicas, baseadas na ciência e no combate às pragas nas lavouras.
O MIP é capaz de preservar e aumentar os fatores de mortalidade natural, mantendo a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico. Porém, para que possamos entender melhor o MIP, é necessário definir alguns conceitos:
• Dano Econômico (DE): é a quantidade mínima de injúria causada pela praga que justifica a aplicação de determinada tática de manejo.
• Nível de Dano Econômico (NDE): é a menor densidade populacional da praga que causa dano econômico.
• Nível de Controle (NC): é a menor densidade populacional da praga na qual táticas de manejo necessitam ser tomadas para impedir que o NDE seja alcançado.
• Nível de Equilíbrio (NE): é a densidade populacional média de inseto por um longo período de tempo, não afetada por temporárias intervenções no controle da praga.
Portanto, o MIP é um conjunto de medidas que visa manter as pragas abaixo do nível de dano econômico (NDE). Essas medidas são aplicadas quando a densidade populacional da praga atinge o nível de controle (NC). Dessa forma, quando a população de pragas se mantém abaixo do NC, ela está em nível de equilíbrio (NE).
É importante ressaltar que dentro do MIP são utilizadas técnicas de controle de pragas que incluem tanto os defensivos biológicos, quanto os químicos, e muitas outras tecnologias que possam auxiliar o agricultor a aumentar a sua produtividade. Representa uma forma de usar toda a inovação tecnológica do setor agrícola de forma planejada, harmoniosa e sustentável.
Os componentes do MIP
Existem quatro componentes principais no modelo moderno de MIP e que abordam várias opções no manejo das culturas. Essas alternativas levam em consideração as particularidades e os recursos disponíveis para cada produtor realizar o seu planejamento, auxiliando na tomada de decisão. Os quatro componentes a serem estudados são:
Conhecimento e recurso: para implementação do MIP é necessário ter o conhecimento das opções de manejo para determinada cultura em uma certa área. Além disso, é importante conhecer também a biologia das principais pragas e os potenciais danos que podem causar às plantas. Conhecer os recursos disponíveis e adequá-los à produção permite que o produtor faça uma melhor escolha da estratégia a ser adotada.
Planejamento e organização: uma vez que se tem o conhecimento sobre a cultura e os recursos disponíveis para sua produção, é importante realizar o gerenciamento da lavoura por meio de práticas regulares, entre elas: coleta de dados sobre o desenvolvimento das plantas, das ferramentas e insumos utilizados, bem como o monitoramento da população de pragas, por exemplo.
Comunicação: é importante manter um fluxo de transferência de informações entre as diferentes fases de produção. Para que isso ocorra da melhor forma, devem ser realizados treinamentos periódicos para manter a equipe atualizada e que seja capaz de garantir não só um manejo responsável, mas a segurança do trabalhador. Equipes bem treinadas são capazes de identificar ameaças à produção agrícola e de executar com precisão as estratégias de manejo.
Manejo de pragas: o MIP preza que o controle de pragas e doenças deve ser realizado por meio de estratégias que equilibrem e gerenciem a população de determinada ameaça a níveis que não causem perdas econômicas, sendo essa prática mais eficaz do que eliminar ou erradicá-la (exceto pragas invasoras recém-introduzidas).
Entre as opções de manejo que podem ser usadas dentro do MIP, em diferentes estágios da produção agrícola, cabe citar:
• Cultivar resistente: utilização do melhoramento genético para o desenvolvimento de cultivares com características físicas, morfológicas ou bioquímicas que as tornam resistentes ou tolerantes a danos causados por pragas e doenças.
• Controle cultural: adotar boas práticas agronômicas a fim de reduzir a infestação e os danos causados por fatores bióticos. Dentre as estratégias está a escolha de sementes ou mudas certificadas e de qualidade; ajuste da data de plantio para evitar estágios mais propícios à ocorrência de pragas; remoção do material vegetal infectado e realização da limpeza regular dos equipamentos utilizados no campo, para evitar disseminação de doenças pela ação humana; rotação com culturas não hospedeiras de determinada praga para interromper o seu ciclo reprodutivo.
• Controle biológico: ações de preservação dos inimigos naturais benéficos, como parasitoides, predadores, nematoides, fungos, vírus e bactérias naturalmente presentes na lavoura. Além disso, utilização de uma grande variedade de bioinsumos, sempre que possível, de forma complementar aos produtos químicos. A tecnologia de aplicação também deve ser levada em consideração, seguindo as instruções de uso dos produtos biológicos.
• Controle comportamental: avaliação do comportamento da praga para controlá-la por meio da utilização de sinais químicos. Esse tipo de controle utiliza plantas repelentes, iscas e armadilhas com feromônios para interrupção do acasalamento das pragas e consequentemente a redução da população.
• Controle físico: utilização de ferramentas físicas ou mecânicas para eliminação ou captura de pragas como coberturas de redes, estufas, esterilização ou alteração nas condições ambientais.
• Controle químico: utilização de defensivos químicos que tenham pouco efeito sobre os inimigos naturais e polinizadores. Além disso, deve-se também prestar atenção à alternância de ingredientes ativos e, principalmente, aos modos de ação desses produtos, assim como na forma correta de se utilizar o pulverizador, garantindo a deposição do produto na dosagem correta e no alvo desejado. É importante realizar a rotação de defensivos químicos que atuem de maneiras diferentes nas pragas, retardando o desenvolvimento de resistências.
Lembrando que a rotação de tecnologias é a premissa do MIP, sendo essencial para evitar ou retardar o desenvolvimento de resistência das pragas. Por exemplo, a aplicação do mesmo produto com o mesmo modo de ação, safra após safra, pode selecionar indivíduos resistentes e, após algum tempo o defensivo químico não fará o seu controle.
O manejo integrado de pragas na prática
Podemos pensar no MIP como sendo a construção de uma casa. O alicerce (decisões de manejo) é feito pelo conhecimento, tanto do ambiente quanto da lavoura. O conhecimento da lavoura parte do planejamento, que tem como prática o monitoramento das pragas e o desenvolvimento da cultura.
Também no alicerce está a comunicação entre os elos da cadeia de produção, que é feito por meio dos treinamentos. Depois do alicerce, os pilares dessa casa são os tipos de manejo que podem ser utilizados. Entre eles, temos: controle cultural, controle biológico, controle comportamental, controle genético (cultivar resistente), controle físico e controle químico.
Para implementar o MIP em uma lavoura, é necessário compreender os alicerces, para então selecionar as ferramentas mais adequadas dentro de cada pilar e inseri-los na particularidade de cada sistema agrícola.
Fatores que influenciam a adoção do MIP
O grande aumento no número de tecnologias, o tipo de cultura, a extensão da propriedade e a disponibilidade de recursos do produtor irão afetar a forma com que o MIP poderá ser empregado na resolução dos problemas da produção agrícola.
Por isso, as práticas do manejo integrado de pragas podem variar entre aqueles que realizam a estratégia. Dessa forma, o MIP é, por muitas vezes, considerado como uma filosofia que deve orientar o agricultor a realizar um manejo eficiente e sustentável na lavoura.
Alguns produtores irão realizar o MIP com a utilização de técnicas de base científica, combinando ferramentas biológicas, físicas e químicas para identificar e lidar com possíveis problemas causados por pragas. Esses produtores utilizam estratégias que podem minimizar os custos produtivos e danos à saúde e meio ambiente.
Entretanto, alguns produtores realizarão o MIP priorizando técnicas de controle biológico, objetivando a redução da dependência de agentes químicos. Outros focam na rotatividade de substâncias químicas para garantir a eficácia do controle e reduzir a resistência a pesticidas.
Isso porque a implementação do MIP depende também de fatores como condições socioeconômicas, conscientização ambiental, aspectos regulatórios, disponibilidade de ferramentas, preferência do consumidor final e marketing de varejo.
Com isso, o MIP tem sido bastante adotado na agricultura tropical brasileira e tem garantido bons resultados, o que mostra que é possível combater as pragas e doenças por meio dessa estratégia. Além disso, o conjunto de técnicas do MIP, associado à manutenção dos inimigos naturais das pragas nas plantações, favorecem a volta do equilíbrio natural. Essa estratégia aumenta a tolerância abiótica e evita que novas pragas se estabeleçam.