Autores
Gerarda Beatriz Pinto da Silva
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia
gerardabeatriz@hotmail.com
Maike Lovatto
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando – Universidade Estadual de Maringá (UEM)
A nutrição de plantas é uma das áreas de estudo mais importantes na agronomia e setores afins. A otimização da utilização de fertilizantes está entre os principais focos de pesquisa na agricultura. Quando estes são utilizados de maneira adequada, evitam contaminações ambientais e proporcionam condições ideais para a exploração do potencial produtivo das culturas. Portanto, o desenvolvimento de produtos e técnicas que permitam melhorar, cada vez mais, a utilização de fertilizantes na agricultura é de grande importância.
Essencialidade do nitrogênio
O nitrogênio pertence a um grupo de nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas, sendo um dos exigidos em maior quantidade. Este nutriente participa de diversos processos metabólicos e fisiológicos da planta, modulando a expressão do seu potencial produtivo.
Devido a sua importância econômica e pelos efeitos danosos que pode causar ao meio ambiente quando utilizado inadequadamente, o nitrogênio tem sido um dos nutrientes mais estudados em nível mundial.
As hortaliças folhosas (alface, chicória, repolho, entre outras) necessitam de quantidades apropriadas de nitrogênio para o seu crescimento e desenvolvimento. Tanto a quantidade como a qualidade da produção destas culturas são alteradas de acordo com a disponibilidade do nutriente.
Portanto, o manejo adequado e racional da fertilização nitrogenada visando maximizar a quantidade e a qualidade da produção, aliado à minimização dos custos, torna-se fundamental para o cultivo destas hortaliças.
Adubação nitrogenada em folhosas
A determinação da quantidade de nitrogênio a ser aplicada é realizada, geralmente, com base no teor de matéria orgânica do solo. Portanto, é necessário a realização de análise química do solo antes do plantio.
Para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a adubação nitrogenada para hortaliças folhosas, bem como as demais culturas agrícolas, é feita de acordo com as recomendações do Manual de Calagem e Adubação para estes Estados.
Na tabela 1 estão demonstradas as quantidades de nitrogênio a serem fornecidas de acordo com a cultura e o teor de matéria orgânica do solo.
Tabela 1. Recomendação de adubação nitrogenada para as culturas da alface, chicória, almeirão, rúcula, repolho, brócolis e couve-flor, de acordo com o teor de matéria orgânica do solo
Teor de matéria orgânica no solo (%) | Nitrogênio kg de N ha-1 | ||
Alface, chicória, almeirão e rúcula | Repolho | Brócolis e couve-flor | |
≤ 2,5 | 180 | 260 | 260 |
2,6 – 5,0 | 140 | 180 | 180 |
≥ 5,0 | ≤100 | ≤100 | ≤100 |
Fonte: Manual de calagem e adubação para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (2016)
Devido ao seu ciclo relativamente curto e à sua elevada exigência nutricional, o cultivo de hortaliças folhosas demanda um manejo nutricional adequado e planejado. A fertilização nitrogenada parcelada no tempo é uma alternativa para melhorar o aproveitamento dos nutrientes pelas plantas, pois evita a toxidez por excesso em alguns momentos e a deficiência em outros.
De maneira geral, no momento do plantio de hortaliças folhosas é recomendada a aplicação de 20 kg de N/ha-1. Para a alface, deve-se aplicar no 10°, 20° e 30° dia após o plantio, 20, 35 e 45%, respectivamente, do restante de nitrogênio determinado na análise química do solo.
Para o almeirão, chicória e rúcula é recomendada a aplicação no 14° e no 21° dia após o plantio de duas doses de 50% do restante de nitrogênio determinado na análise química do solo. Para o repolho, brócolis e couve-flor, deve-se aplicar 20% entre o 10° e o 15° dia após o plantio, 40% entre o 30° e 45° dia após o plantio e 40% após a formação da cabeça para o repolho. Já no início da formação do botão floral, para o brócolis e a couve-flor o restante de nitrogênio deve ser aplicado de acordo com a análise química do solo.
Em sistema de plantio direto de repolho, brócolis e couve-flor, deve-se reduzir em 30% as doses indicadas e, ainda, caso as plantas apresentem coloração verde intenso, a última aplicação pode ter a dose reduzida em até 50%.
A ureia é a fonte de nitrogênio mais utilizada no mundo, principalmente devido ao baixo custo deste fertilizante por unidade de nitrogênio fornecida. Entretanto, estima-se que aproximadamente 40 a 70% do nitrogênio aplicado na forma amídica (ureia) pode ser perdido pela ocorrência de três processos distintos de natureza física, química e biológica (Tabela 2).
Tabela 2. Processos relacionados à perda de nitrogênio no solo
Processos | Descrição |
Ação microbiana | Nitrificação, desnitrificação e imobilização. |
Ação química | Troca, fixação, precipitação e hidrólise. |
Ação física | Lixiviação, escorrimento e volatilização. |
Com o objetivo de diminuir as expressivas perdas de nitrogênio para o meio e a frequência de adubação em decorrência da utilização de fertilizantes nitrogenados convencionais como, por exemplo, a ureia, fertilizantes nitrogenados com liberação controlada do nutriente têm sido desenvolvidos e estudados.
Fertilizantes de liberação lenta
Os fertilizantes nitrogenados de liberação lenta permitem, em uma única aplicação, o fornecimento parcelado de forma contínua e gradual de nitrogênio às plantas, podendo se estender este período de semanas até meses após a aplicação.
Eles ainda reduzem a frequência de adubações e possibilitam a sua aplicação independente das condições ambientais (e. g. umidade no solo), além de evitar a toxicidade por este nutriente em solos ou substratos utilizados na produção de mudas e contaminações ambientais.
Os fertilizantes nitrogenados de liberação lenta são produtos com propriedades de dissolução mais lenta no solo que, em geral, podem ser obtidos mediante mudanças na estrutura dos compostos nitrogenados ou pelo recobrimento dos grânulos com materiais pouco permeáveis.
Categorias
Estes fertilizantes podem ser classificados em três categorias principais, sendo elas os fertilizantes solúveis revestidos ou encapsulados, fertilizantes não revestidos, mas com disponibilidade lenta, e fertilizantes associados a inibidores ou estabilizadores.
A liberação do nutriente em fertilizantes revestidos ou encapsulados ocorre pela degradação da camada impermeabilizadora, a qual promove a liberação lenta e controlada do nutriente. Os mais comuns são revestidos com enxofre (S) ou com polímeros.
Nos fertilizantes associados a inibidores ou estabilizadores, a liberação do nitrogênio é gradual pela inibição da nitrificação e da urease, mantendo o nitrogênio na forma de amônio por um período maior e, consequentemente, evitando a lixiviação do nutriente na forma de nitrato.
A ureia formaldeído é um exemplo desta classe de fertilizantes. Nos fertilizantes não revestidos há uma necessidade de decomposição bioquímica dos compostos responsáveis por controlar a liberação de nitrogênio. Esta proteção tem duração variável, podendo ser de algumas semanas até meses.
Dentre os principais fertilizantes nitrogenados de liberação lenta, a ureia recoberta com enxofre é a classe de produto mais comercializada e, além de ser fonte de nitrogênio, disponibiliza enxofre para as plantas.
A liberação do nutriente é influenciada diretamente pela espessura das camadas de polímero que recobre a ureia. Neste sentido, é possível alterar a taxa de liberação dos nutrientes em função da composição do material de revestimento.
Resultados observados em campo
A utilização de fertilizantes nitrogenados de liberação lenta tem ganhado destaque no cultivo de hortaliças, proporcionado ganhos de produtividade e reduzindo as perdas do nutriente. Pesquisadores têm demonstrado uma maior eficiência na utilização de ureia revestida com polímeros, reduzindo as perdas de nitrogênio na forma de amônia (NH3) por volatilização e elevando a produtividade das culturas.
Em estudos com alface crespa, pesquisadores relatam que utilizando ureia revestida foi possível aumentar a produtividade em 17,63% quando da adubação com ureia tradicional.
Os fertilizantes nitrogenados de liberação lenta são vantajosos para a produção de hortaliças folhosas, pois permitem reduzir a frequência da adubação sem deixar de atender à necessidade gradual do nutriente, melhoram a eficiência de adução e diminuem os custos com aplicação.
De modo geral, o aumento da produção de hortaliças folhosas cultivadas com estes fertilizantes se dá pelo aumento do crescimento vegetativo em função do fornecimento contínuo do nutriente no tempo, além de diminuir as perdas do nutriente. Entretanto, estes fertilizantes, na maioria das vezes, apresentam maior custo do que os convencionais. Isso acontece devido aos complexos processos de fabricação, que envolvem a necessidade de polímeros para o revestimento de alta tecnologia.
A adição de compostos químicos à ureia para estabilizar o nitrogênio é uma das tecnologias mais eficientes, porém, o custo da incorporação de um inibidor de urease resulta em um incremento de 10 a 30% no valor do produto em comparação à ureia convencional. Os fertilizantes recobertos podem custar de 1,5 a 10 vezes a mais que a ureia convencional.