Pensando Estrategicamente, por Antônio Carlos de Oliveira. Texto original publicado no Diário de Uberlândia.
O Rio Grande do Sul, um estado com grande destaque no cenário brasileiro, enfrenta atualmente a maior catástrofe climática de sua história. Com um passado marcado por batalhas e um espírito resiliente, o estado vê-se agora em meio a um desafio que transcende as fronteiras do compreensível, enfrentando danos em uma escala que rivaliza com “estados de guerra”.
Atualmente, 445 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul foram severamente impactados por chuvas torrenciais, afetando cerca de 90% do estado. Esta catástrofe resultou no deslocamento de mais de 630 mil pessoas e na morte de aproximadamente 147 indivíduos, além de 127 ainda desaparecidos, alterando dramaticamente a paisagem e a vida da região.
As inundações e tempestades deixaram estradas destruídas, pontes colapsadas e instalações industriais arruinadas, representando um impacto econômico sem precedentes. Estima-se que as perdas financeiras alcancem bilhões de reais, não apenas em danos diretos, mas também em interrupções na produção e no transporte de commodities agrícolas e industriais.
O governo federal e o governo do Estado do Rio Grande do Sul estabeleceram uma linha de crédito emergencial de R$ 500 milhões para auxiliar nas fases iniciais de reconstrução após as recentes enchentes. Esta medida é crucial para iniciar a recuperação das áreas afetadas e oferecer suporte às comunidades em meio a essa crise devastadora.
A reconstrução será um desafio hercúleo, demandando investimentos massivos e de longo prazo. Restaurar a infraestrutura vital para a agricultura e pecuária, como estradas rurais, sistemas de irrigação e armazéns, será crucial para a recuperação da produção agrícola. Da mesma forma, a reconstrução das indústrias de processamento de alimentos, têxtil, couro e calçados exigirá investimentos substanciais. O custo total para reconstruir a infraestrutura danificada pode ultrapassar várias dezenas de bilhões de reais, representando um ônus significativo para as finanças públicas e privadas.
O impacto vai além do tangível, as perdas humanas, são apenas a superfície de um abismo de dor e trauma que se estende por toda a região. Milhares de pessoas viram suas casas serem arrastadas pelas águas, perderam seus meios de subsistência, animais de estimação, plantações e negócios que representavam gerações de trabalho e dedicação.
Muitos enfrentam o desafio de reconstruir suas vidas sem os entes queridos, enquanto outros carregam traumas psicológicos que podem perdurar por anos, se não forem adequadamente tratados.
Programas de apoio psicológico e de fortalecimento comunitário são essenciais nesse processo de cura, demonstrando que, além de reconstruir infraestruturas, é crucial investir no bem-estar emocional e psicológico dos indivíduos para realmente superar a magnitude desta catástrofe.
A descontinuidade das atividades escolares em todos os níveis do ensino interrompeu o aprendizado de milhares de crianças e jovens, comprometendo seu desenvolvimento educacional e social em longo prazo. Além disso, a destruição de hospitais, postos de saúde e creches limitou o acesso aos serviços de saúde, crucial neste momento de crise, exacerbando o risco de doenças e agravando o estado de vulnerabilidade da população.
Estruturas de lazer, tão importantes para a coesão e o bem-estar comunitário, também foram severamente afetadas, deixando as comunidades sem espaços de escape e recreação num momento em que mais precisam de alívio psicológico. A situação nos presídios, já precária, tornou-se ainda mais crítica, com danos que comprometem a segurança e as condições de vida dos detentos.
Essas perdas vão além dos custos materiais; refletem-se profundamente no tecido social e emocional da comunidade. As pessoas deslocadas de suas localidades não são apenas números; são histórias de desespero, luta e resiliência. O custo emocional e psicológico para os sobreviventes e para toda a comunidade é imenso e exigirá um compromisso contínuo com programas de apoio e recuperação a longo prazo para reconstruir não apenas as estruturas físicas, mas também as vidas que foram irrevogavelmente alteradas.
O recente desastre não é apenas uma tragédia local, mas uma crise que exige uma resposta em âmbito nacional, testando a fortaleza e a unidade do Brasil. As cenas de devastação abrangem de cidades inundadas a comunidades rurais isoladas, com estradas destruídas e escolas arruinadas, impactando profundamente a vida de milhares de famílias. Os números não apenas quantificam a destruição, mas falam das histórias de desespero e da urgente necessidade de reconstrução e apoio emocional.
O desafio de reerguer o Rio Grande do Sul é monumental, exigindo um esforço coletivo que ultrapassa as barreiras partidárias e ideológicas. Governos locais, estaduais e federal, juntamente com a sociedade civil, devem unir forças para restaurar não apenas a infraestrutura física, mas também para fortalecer a resiliência das comunidades contra futuras catástrofes. É fundamental investir em sistemas de alerta precoce e em práticas sustentáveis que possam mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos.
Este momento de reconstrução deve também ser uma oportunidade para repensar e reformular políticas públicas, garantindo que a urbanização e a agricultura não apenas atendam às necessidades econômicas, mas que também sejam sustentáveis e seguras. Além disso, a solidariedade entre os estados, reforçando o pacto federativo, é crucial para distribuir de maneira equitativa o apoio e os recursos necessários.
Nesse contexto, a tragédia se transforma em um catalisador para a reflexão sobre a capacidade do Brasil de prevenir e responder a desastres, unindo a nação para além de suas diferenças. A verdadeira medida da resiliência brasileira será vista na capacidade de transformar essa adversidade em ação coletiva para um futuro mais seguro e unido. Este é um momento decisivo para o Brasil demonstrar que pode transcender divisões em nome de um bem maior e mais duradouro para toda a sociedade.