Nilva Terezinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (UniPinhal)
Algas são seres que podem ser classificados nos reinos Monera, Protista e Plantae. São unicelulares em sua maioria, podendo ser autótrofos ou heterótrofos. Alguns possuem carotenoides e clorofilas, facilitando assim a fotossíntese, e se desenvolvem em lugares exclusivamente aquáticos ou úmidos, com disponibilidade de luz, em água doce ou salgada, onde são capazes de absorver do meio os nutrientes necessários para seu desenvolvimento (Vidotti e Rollemberg, 2004).
O Brasil é considerado um país rico em diversidade de macroalgas marinhas, que se distribuem em toda costa, sendo no Nordeste a maior diversidade e abundância.
Os produtos derivados de extratos de algas são produzidos principalmente a partir de espécies que habitam águas salgadas. Ascophyllumnodosum (L.) Le Jolis destaca-se dentre as espécies de algas marinhas comumente utilizadas (Ugarte et al., 2006), e tem sido muito estudada por suas propriedades que incluem desde a promoção de crescimento vegetal ao uso na alimentação humana e animal.
Potencial agrícola
Atualmente, a utilização de extratos de algas vem ganhando popularidade devido ao seu potencial uso para agricultura orgânica e sustentável. O atual interesse pela preservação do meio ambiente tem estimulado o desenvolvimento de métodos alternativos de controle de pragas e doenças e fertilização do solo.
Ao contrário dos fertilizantes químicos, os extratos de algas são biodegradáveis, não tóxicos, não poluentes e não perigosos para os seres humanos e animais. O efeito benéfico da aplicação de extrato de algas marinhas é resultado de muitos componentes que podem funcionar sinergicamente em concentrações diferentes, embora o modo de ação ainda permaneça desconhecido.
Os extratos de algas marinhas podem se enquadrar como uma das referidas alternativas: são organismos ricos em compostos bioativos. Tais organismos são pouco empregados para o controle de doenças de plantas e poucos trabalhos se referem à atividade antifúngica.
Ainda, as algas marinhas são fontes de antibióticos com ampla e eficiente atividade antibacteriana, porém, são poucos os estudos da ação sobre bactérias fitopatogênicas.
Efeito bioativador
A maior parte das pesquisas com algas marinhas está direcionada ao seu efeito bioativador e têm apontado o potencial de uso dos extratos de algas para incrementar o desenvolvimento vegetal, algumas vezes com consequentes aumentos na produção; sendo também relatado aumento da tolerância vegetal a estresses bióticos e abióticos.
Estas pesquisas mostram que, mesmo em baixas concentrações, os produtos à base de extratos de algas afetam o desenvolvimento vegetal, sugerindo que os derivados dos extratos de algas possuem compostos bioativos.
De modo geral, a matriz orgânica dos extratos é caracteristicamente complexa, sendo composta de nutrientes (macro e micro), aminoácidos, oligossacarÃdeos e hormônios vegetais (Sharma et al., 2012).
Especificamente os extratos de Ascophyllumnodosum são constituÃdos por citocininas, auxinas, ácido abscÃsico, giberelinas, betaÃnas e alginatos (Mackinnon et al., 2010), existindo ainda compostos não identificados que possuem atividade similar a de alguns hormônios vegetais e que também podem estimular sua produção nas plantas (Khan et al., 2009).
Entretanto, a composição (quantidade e tipos de compostos) destes produtos pode ser alterada em função da espécie de alga utilizada para a confecção do extrato, bem como sua época de coleta; método de extração e adição de outros compostos (principalmente macro e micronutrientes).
Mesmo com a presença de alguns compostos bioativos, as respostas das plantas podem variar, pois dependem tanto do método (tratamento de sementes, pulverização foliar e/ ou irrigação), quanto das dosagens e frequências de aplicação, variando também com a espécie de planta e cultivar selecionada, estação do ano e localização geográfica do cultivo, dentre outros fatores. O fato é que múltiplos processos fisiológicos, bioquímicos e genéticos estão envolvidos nas respostas vegetais e os efeitos observados a partir das aplicações podem ser diretos ou indiretos.
Resultados
Atualmente, as algas são utilizadas nas formas secas ou em extratos, comercializadas em nível mundial como bioestimulantes e/ou fertilizantes. Efeitos positivos desses fertilizantes já foram verificados sobre o crescimento e desenvolvimento de plantas, obtendo-se, consequentemente, aumento nos rendimentos das colheitas.
Todas as culturas podem ser beneficiadas pela aplicação de fertilizantes à base de algas marinhas, devido a sua riqueza em nutrientes e componentes orgânicos presentes na composição química. Mas são nas culturas olerícolas que os pesquisadores estão obtendo resultados mais satisfatórios nos últimos anos.
Por exemplo, para o cultivo de alface, o uso de fertilizante de algas pode proporcionar um aumento de até 37% no peso de uma unidade da planta. Já para a batata, o uso de fertilizante de alga possibilitou ganhos no número de tubérculos emitidos por planta, além de proporcionar um aumento no diâmetro da batata colhida.
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