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Utilização de adubos orgânicos, condicionadores de solo e bioestimulantes

Autores

Elisamara Caldeira do Nascimento
Pós-doutoranda – PPG Agricultura Tropical – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
elisamara.caldeira@gmail.com
Talita de Santana Matos
Pós-doutoranda PPG – Ciência do Solo – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRuralRJ)
Davidson Henrique Cordeiro
Graduando em Agronomia – UFMT
Glaucio da Cruz Genuncio
Professor do departamento Fitotecnia e Fitossanidade – UFMT
glauciogenuncio@gmail.com

Créditos Luize

Adubar é uma ação global que tem por objetivo simultâneo melhorar a saúde e a fertilidade do solo e garantir a nutrição das plantas. A utilização de adubos orgânicos, condicionadores de solo e bioestimulantes, portanto, são um plus a mais, proporcionando melhorias nas características físicas e biológicas do solo, condição ideal para as frutas.

Conheça melhor

O adubo orgânico consiste em uma mistura de produtos animais e/ou vegetais em vários estádios de decomposição, resultantes da degradação química, biológica e da atividade sintética dos microrganismos.

A matéria orgânica é fonte de energia e nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico, mantendo o solo em estado dinâmico e exercendo importante papel em sua fertilidade. A adubação orgânica tem como princípio a manutenção e ativação da vida do solo. Ao repor os nutrientes e a energia, os ciclos biogeoquímicos naturais são ativados e podem ser otimizados.

Porém, a simples substituição dos adubos minerais pelos orgânicos pode levar à queda significativa de rendimento. Existe um tempo necessário para a conversão de sistemas convencionais para os orgânicos. Esse tempo depende da acomodação dos processos ecológicos às novas condições. Em vez da rapidez das respostas da adubação com fertilizantes químicos solúveis, é a vez da estabilidade das respostas dos fertilizantes orgânicos de base biológica.

Segundo classificação da Embrapa (2001), os adubos podem ser gerados basicamente por duas formas – vegetal ou animal. Resíduos de origem vegetal podem ser eventualmente reduzidos em tamanho por pequenos animais e ser putrefeitos por organismos já nele presentes, ou que vêm do solo.

Sua função de fornecedor de nutrientes, como de quase todos os outros resíduos, depende basicamente do material empregado em seu preparo. É grande a quantidade de restos vegetais remanescentes das safras. O arroz e o trigo deixam de 30 a 35%, e o algodão, cana e milho cerca de 50 a 80% da massa original em forma de resíduo orgânico.

Já o adubo orgânico de origem animal mais conhecido é o esterco, que é formado por excrementos sólidos e líquidos dos animais e pode estar misturado com restos vegetais. Sua composição é muito variada. São bons fornecedores de nutrientes, disponibilizando rapidamente o fósforo e o potássio.

Todos os adubos fornecem nutrientes, que estão na forma orgânica, devendo ser mineralizados para aproveitamento pela planta. Além de fornecerem nutrientes, eles melhoram a estrutura física, química e biológica, aumentam a capacidade de troca catiônica (CTC) e a matéria orgânica do solo.

Sua decomposição é lenta e os nutrientes são liberados em menor quantidade para as plantas. Por outro lado, contribuem para o acúmulo de matéria orgânica no solo.

Forma líquida

Os adubos orgânicos líquidos liberam maior quantidade de nutrientes para as plantas, mas em muitos casos possuem uma relação carbono (C) e nitrogênio (N) alta e podem não suprir as quantidades de N necessárias para o crescimento das plantas.

Desta forma, o material utilizado na produção de adubos deve ser avaliado para que a qualidade nutricional das plantas não seja prejudicada. Além disso, o manejo da produção, com rotação de culturas, alternando gramíneas e leguminosas, é essencial para se ter um resíduo orgânico de qualidade.

A produção de adubos orgânicos sólidos deve sempre passar por um processo de estabilização dos materiais, principalmente os de origem animal, para se evitar contaminação e proliferação de patógenos. A compostagem, a vermicompostagem, adubação verde e o biofertilizante são os adubos orgânicos mais conhecidos e viáveis economicamente.

Condicionadores de solo

Os condicionadores de solo são substâncias orgânicas com cadeias carbônicas iguais ou semelhantes às presentes na natureza. Estes compostos são oriundos da extração de turfas ou de minas e podem ser sintetizados industrialmente.

Aqueles extraídos da natureza apresentam composição variada, porém, de forma geral, são fontes de ácidos húmicos e fúlvicos. Dentre os condicionadores de solo, existem aqueles que ainda têm sua fórmula complementada com micronutrientes e/ou macronutrientes, para se enquadrarem como fertilizantes organominerais.

Os ácidos húmicos e fúlvicos fazem parte da composição orgânica do solo (húmus) e os condicionadores do solo tendem a simular esta composição. O húmus é formado a partir da decomposição da biomassa do solo em compostos orgânicos.

As substâncias húmicas possuem alta capacidade de troca de cátions e estão presentes em solos, águas e sedimentos com matéria orgânica estável sendo originadas da deposição e/ou da degradação de resíduos orgânicos vegetais e animais, do metabolismo biológico destes compostos, da ciclagem do C, H, N e O da matéria orgânica do solo, pela biomassa microbiana e, ainda, da polimerização microbiológica dos compostos orgânicos cíclicos, resultando em substâncias complexas com diferentes pesos moleculares.

Composição

As substâncias húmicas são constituídas de ácido húmico, ácido fúlvico, huminas e ácidos himatomelânicos.

Os ácidos húmicos compõem a maior fração das substâncias húmicas, são precipitados escuros, solúveis em ácidos minerais e solventes orgânicos. Já os ácidos fúlvicos são solúveis em água, soluções ácidas e alcalinas. Apesar de possuírem similaridade estrutural aos ácidos húmicos, apresentam menor peso molecular, maior quantidade de compostos fenólicos e de grupos carboxílicos e uma menor quantidade de estruturas aromáticas.

As huminas compõem um resíduo extraível e correspondem à fração menos humificada das substâncias húmicas. São materiais complexos, quimicamente heterogêneos, inativos, insolúveis em soluções ácidas e alcalinas. Os ácidos himatomelânicos formam suspensões ou soluções coloidais quando em mistura com a água e possuem menor peso molecular do que os ácidos húmicos, mas com composição elementar semelhante.

As substâncias húmicas influenciam diretamente a estrutura física, química e microbiológica dos ambientes onde estão presentes, assim como afetam o metabolismo e o crescimento das plantas.

São usadas como insumos com a finalidade de melhorar as condições do solo para o desenvolvimento, principalmente do sistema radicular das culturas implantadas. As influências na estrutura física ocorrem pela maior retenção de água, melhoria da aeração e, por consequência, maior resistência à erosão devido às suas partículas coloidais, que são capazes de formar uma emulsão em contato com a água.

As melhorias químicas ocorrem em função da atuação como agentes complexantes, o que desfavorece a manutenção de íons metálicos na solução do solo e, assim, promovem redução da toxidez destes elementos. Além disso, aumentam o poder tampão dos solos, reduzindo as variações de pH do meio.

Os bioestimulantes

Bioestimulantes são a mistura de dois ou mais reguladores vegetais ou de reguladores vegetais com outros produtos. Esses produtos agem na degradação de substâncias de reserva das sementes, na diferenciação, divisão e alongamento celulares.

Os bioestimulantes são componentes que produzem resposta ao crescimento das plantas pela melhoria da tolerância aos estresses abióticos. Muitos dos efeitos destes produtos são baseados em sua habilidade de influenciar a atividade hormonal das plantas.

Os fitohormônios são mensageiros químicos que regulam o desenvolvimento normal das plantas pelo crescimento de raízes e parte aérea, além de regularem as respostas do ambiente onde elas se encontram.

Muitos autores defendem que os bioestimulantes são produtos que, quando aplicados nas plantas, reduzem a necessidade de fertilizantes e aumentam a produtividade e a resistência destas ao estresse hídrico e climático.

Diversos estudos mostram que estas substâncias são eficientes quando aplicadas em pequenas concentrações, favorecendo o bom desempenho dos processos vitais da planta, permitindo, assim, a obtenção de maiores colheitas e produtos de melhor qualidade.

Quando as plantas estão sob estresse, os radicais livres ou espécies reativas de oxigênio (superóxido, radicais hidroxilas, peróxido de hidrogênio) danificam as células das plantas e os antioxidantes diminuem a toxidade destes radicais. Plantas com altos níveis de antioxidantes produzem melhor crescimento radicular e de parte aérea, mantendo um alto conteúdo de água nas folhas e baixa incidência de doenças, tanto quando elas estão sob condições ideais de cultivo quanto sob estresse ambiental.

Apesar de ser uma tecnologia em desenvolvimento, a aplicação de bioestimulante parece aumentar o sistema de defesa da planta por incrementar o seu nível de antioxidantes.

Funcionalidade

A utilização de bioestimulantes aumenta de importância na medida em que se busca atingir o potencial produtivo das culturas, principalmente na ausência de fatores limitantes de clima e solo. Dentre estes produtos que estimulam o desenvolvimento das plantas estão os ácidos húmicos, algas marinhas, vitaminas, aminoácidos e ácido ascórbico.

Os resultados preliminares obtidos por membros da Rede FertBrasil da Embrapa Hortaliças mostram que os mecanismos de ação são relacionados aos estímulos de crescimento e absorção de nutrientes, bem como o funcionamento em nível de campo de determinados produtos comerciais ou produtos produzidos pela Embrapa e produtores.

Como exemplo, vale destacar a utilização de extratos de base aquosa oriundos de húmus de minhoca (ou vermicomposto). No laboratório, tais extratos – chamados comumente de húmus líquido – provaram-se eficientes na estimulação do crescimento de plântulas de diversas olerícolas.

Alface americana, alface romana, alho, batata-doce e tomate são algumas das hortaliças testadas. Verificou-se que essas espécies, uma vez tratadas com húmus líquido, apresentaram estimulação da atividade de enzimas transmembrana (por exemplo, H+-ATPase), que se relacionam com o maior número de raízes laterais e uma maior absorção de nutrientes.

A utilização dos bioetimulantes serve como alternativa potencial à aplicação de fertilizantes para estimular a produção de raízes, especialmente em solos com baixa fertilidade e disponibilidade de água.

Custos

A adubação orgânica já é bastante disseminada no meio rural. No entanto, cada cultura exige cuidados específicos e apresenta diferentes resultados. A cultura do tomate, por exemplo, tem respondido bem a esse tipo de adubação associado à adubação comum e pode garantir uma redução de custo de até 30% para o produtor rural.

Quando se utiliza a matéria-prima da sua propriedade para fazer um composto adequado que possa substituir parcial ou integralmente a adubação mineral, com certeza esse produtor obterá um benefício econômico.

Visão de longo alcance

Em princípio, a utilização de condicionadores de solo pode parecer um gasto a mais dentro da unidade de produção. Contudo, quando pensamos em longo prazo, sua utilização alcança benefícios maiores que os financeiros.

A cadeia produtiva agropecuária gera uma quantidade enorme de resíduos que na maioria das vezes não possui destinação eficiente. A utilização destes materiais no solo, como condicionadores, vem cada vez mais se tornando uma realidade promissora.

Além de melhorar características do solo e eventualmente fornecer nutrientes, a incorporação destes materiais no perfil mantém o carbono em uma forma estável. Desta forma, reduz-se as emissões de CO2 e sequestra-se carbono. Muitos estudos vêm sendo realizados para buscar alternativas comerciais para produção e aplicação de resíduos, com resultados promissores.

O futuro

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a demanda de fertilizantes (N+P2O5+K2O) para utilização agrícola vem crescendo a uma taxa de 1,8% ao ano e deve alcançar pouco mais de 200 milhões de toneladas até o fim de 2018.

Nos últimos três anos, o País importou aproximadamente 20,2 milhões de toneladas de fertilizantes. Se, por um lado, importamos fertilizantes minerais para o aumento e manutenção da produção vegetal brasileira, por outro, jogamos fora esses nutrientes por meio dos resíduos orgânicos da própria lavoura.

 Os resíduos orgânicos agrícolas e urbanos podem ser encarados como fontes potenciais de nutrientes e fontes de produtos de base orgânica (bioestimulantes) para a agricultura moderna.

Como exemplos de bioestimulantes podem ser citados quatro grupos principais de substâncias: os aminoácidos e hidrolisados de proteínas, as substâncias húmicas, os microrganismos e inóculos, e os extratos de algas.

Todos os grupos possuem produtos comerciais disponíveis no mercado brasileiro. A indústria tem colocado tais produtos como solução de destaque para a agricultura sustentável pelos possíveis efeitos positivos sobre a fisiologia vegetal.

Realidade

A utilização de bioestimulantes comerciais na olericultura é uma realidade ainda restrita a um grupo menor de produtores. Parece ser mais comum a utilização de biofertilizantes líquidos, extratos de composto ou vermicomposto e compostos de farelos confeccionados na própria unidade de produção ou adquirido de terceiros.

Todo produto que estimule e promova a redução da utilização de fertilizantes pode propiciar economia, mas é necessário aumentar os esforços de pesquisa para fornecer informações relativas aos possíveis mecanismos de ação, teor de nutrientes, manejo de aplicação e custo-benefício.

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