Nos últimos anos, testemunhamos uma revolução gigante no setor agrícola. Os produtos biológicos, que vão desde biofertilizantes a agentes de controle de pragas, estão se destacando como protagonistas na agricultura sustentável.
O apelo à sustentabilidade e preservação dos recursos naturais tem impulsionado o crescimento deste mercado, transformando a forma como cultivamos nossos alimentos.
Christiane Abreu de Oliveira Paiva, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, mostrou o que está por trás desse crescimento e os benefícios que os produtos biológicos estão trazendo para a agricultura.
Segundo a pesquisadora, uma das principais razões para o aumento da popularidade dos produtos biológicos é o apelo à sustentabilidade e à preservação dos recursos naturais. “O uso de insumos provenientes de fontes renováveis e com menor emissão de CO2 é essencial para não agredir o ar, a água e o solo. Além disso, é importante que esses insumos sejam provenientes de fontes naturais, não sintéticas, e que não utilizem combustíveis fósseis em seu processo de fabricação”, enfatiza Christiane.
A evolução fitossanitária
Produtos biológicos são conhecidos por sua capacidade de substituir produtos químicos, como fertilizantes, fungicidas e inseticidas. Eles atuam de maneira sutil no solo e nas plantas, sem causar danos ao meio ambiente. “Essa abordagem é crucial para enfrentar os desafios ambientais que o planeta enfrenta hoje”, pondera a pesquisadora.
Outro ponto importante destacado por ela é a resistência crescente a patógenos e indiretamente aos produtos químicos. Os produtos biológicos são altamente eficazes no controle dessas ameaças em várias culturas, levando a um reconhecimento crescente por parte dos produtores rurais e consultores técnicos.
A revolução dos produtos biológicos não para por aí. Um exemplo de destaque é o sucesso dos inoculantes na cultura da soja. “Hoje, o produtor quase não precisa mais aplicar nitrogênio na soja, pois essa bactéria é capaz de fixar o nitrogênio do ar de forma natural, transformando-o em uma molécula solúvel que a planta consegue absorver. Portanto, o inoculante entrega nitrogênio de forma gratuita e simples para a planta”, explica Christiane.
Este inoculante é apenas um dos muitos produtos biológicos que estão revolucionando a agricultura, e que já está sendo utilizado na quase totalidade das áreas de soja. A economia de toneladas de ureia e bilhões de dólares na cultura é um exemplo concreto dos benefícios econômicos e ambientais que essas tecnologias podem oferecer.
Além da soja, outros cultivos, como o feijão, estão adotando as soluções biológicas, resultando em aumentos significativos na produtividade.
Outra novidade são os inoculantes solubilizadores de fósforo, desenvolvidos pela Embrapa e pela iniciativa privada, além de outros promotores de crescimento, que vêm abrindo caminho para o futuro biológico.
Vamos falar de inoculação?
O pesquisador da Embrapa Soja, Marco Antonio Nogueira, esclarece que a inoculação da soja com bactérias fixadoras de nitrogênio é um dos exemplos mais consistentes de uso de um insumo biológico na agricultura em substituição a um insumo químico, no caso o fertilizante nitrogenado.
“A soja cultivada no Brasil tem praticamente todo o nitrogênio que necessita, cerca de 80 kg por tonelada de grãos, suprido pela fixação biológica de nitrogênio (FBN) e ainda deixa N no solo nos resíduos da cultura, o qual será aproveitado pela cultura seguinte. Essa prática destaca o país no cenário mundial na produção de grãos com mais eficiência e sustentabilidade”, relata.
Além do benefício econômico que representa uma economia de mais de US$ 15 bilhões anualmente, a inoculação também evita emissões de CO2-equivalente de mais de 180 milhões de toneladas a cada safra.
Simbiose
O processo da FBN na soja se dá pela simbiose com bactérias do gênero Bradyrhizobium, que formam nódulos nas raízes de onde obtêm abrigo, proteção e nutrição.
Em troca, estas capturam o nitrogênio atmosférico (N2) que, pela ação da enzima nitrogenase, é reduzido à forma amoniacal e, na sequência, é convertido em compostos nitrogenados que são exportados para a planta.
Marco Antonio afirma que o emprego de estirpes elite de Bradyrhizobium selecionadas pela pesquisa nos inoculantes assegura o suprimento de N para a cultura, mesmo em altos níveis de produtividade.
“Desde que passou a ter importância comercial no país nos anos 50, a soja é inoculada. Embora seja conhecido do produtor há várias décadas, o inoculante usado nos primórdios da cultura da soja no Brasil evoluiu muito até os dias atuais, tanto em termos de eficiência das estirpes, quanto em concentração de células, pureza e qualidade da formulação. Essa evolução é resultante da pesquisa científica alinhada à indústria de inoculantes, ambos ajustados às normativas legais elaboradas em conjunto com o Ministério da Agricultura e Pecuária”, discorre.
Dá pra ficar sem?
A inoculação é essencial em áreas de primeiro ano de cultivo de soja, ou onde a leguminosa não é cultivada há muito tempo, pois as bactérias fixadoras de N2 estão em baixa população ou ausentes no solo.
Entretanto, mesmo em áreas frequentemente cultivadas com soja, é vantajoso realizar a inoculação a cada safra, durante a instalação da cultura, via sementes ou sulco de semeadura.
Pesquisas mostram ganhos médios na ordem de 8% em produtividade, resultantes da inoculação anual da soja em áreas tradicionais de cultivo, representando um grande retorno econômico e ambiental frente ao baixo custo do inoculante.
O pesquisador da Embrapa Soja acrescenta que, além da inoculação anual com Bradyrhizobium, a Embrapa passou a indicar, desde a safra 2013/14, o uso conjunto de uma segunda bactéria para a inoculação da soja, em um processo denominado de coinoculação.
Nesse caso, além do tradicional Bradyrhizobium, também são empregadas estirpes selecionadas de Azospirillum brasilense, que já eram recomendadas para as culturas de milho, trigo e arroz desde 2009/10.
“A capacidade de FBN dessas estirpes de A. brasilense é modesta quando comparada à de Bradyrhizobium; contudo, o principal processo pelo qual elas beneficiam as plantas consiste na síntese de fitormônios, que promovem o crescimento vegetal, principalmente o sistema radicular. Esse processo favorece, inclusive, a nodulação da soja por Bradyrhizobium e a FBN, pela ampliação do sistema radicular, além de aumentar o volume de solo explorado, favorecendo a absorção de água e nutrientes, incluindo maior aproveitamento dos fertilizantes químicos”, explica Marco Antonio.
Ele lembra que as plantas de soja coinoculadas com Bradyrhizobium e Azospirillum apresentam nodulação mais abundante e precoce, com ganho médio de produtividade de 16%, o dobro do proporcionado pela inoculação anual apenas com Bradyrhizobium.
Cuidados
Assim como qualquer outro insumo, o uso adequado do inoculante vai refletir nos seus benefícios à cultura. O primeiro ponto que se deve ter em mente é que o inoculante contém organismos vivos que não toleram condições estressantes além de certos limites.
Por isso, algumas medidas simples ajudam a preservar a viabilidade das bactérias contidas nos inoculantes durante o transporte e armazenamento, e durante e após a aplicação.
A esse conjunto de medidas Marco Antonio denomina Boas Práticas de Inoculação. “Sabe-se que a viabilidade das células das bactérias do inoculante começa a entrar em declínio quando a temperatura ultrapassa 30ºC e essa queda é maior quanto maior for o tempo de exposição. Portanto, esse limite de temperatura precisa ser observado nas várias etapas, desde a saída da indústria até o inoculante chegar ao solo junto com as sementes”.
Um fator que agrava a mortalidade das bactérias é a mistura com produtos químicos empregados no tratamento de sementes e, por isso, é preciso conhecer previamente a compatibilidade desses insumos com o inoculante. Caso sejam incompatíveis, é preciso fazer uma separação espacial ou temporal da aplicação, para que o inoculante não seja prejudicado.
Altos e baixos
Mesmo frente aos baixos custos e à alta qualidade dos inoculantes comercializados no Brasil, Marco Antonio observa a tentativa de se produzir “inoculantes” na propriedade, num sistema chamado “on farm”.
“Essa é uma iniciativa que apenas tumultua o mercado de um insumo que é essencial para o sucesso da cultura da soja no Brasil e demandou décadas de pesquisas para chegar ao nível tecnológico hoje observado, com inoculantes de última geração, com alta concentração de células, pureza e longevidade”, lamenta.
Uma gama de amigos
Os produtos biológicos envolvem microrganismos vivos como fungos, bactérias e vírus, que estão se destacando, ainda, como promotores de crescimento das plantas, beneficiando a saúde do solo e aumentando a produtividade de maneira sustentável.
A pesquisadora Christiane Paiva afirma que os produtos biológicos funcionam como verdadeiros aliados da agricultura sustentável. “Eles podem ser divididos em duas categorias principais: agentes de controle biológico e promotores de crescimento. Esses produtos são baseados em microrganismos que desempenham papéis essenciais no controle de pragas, doenças e na melhoria da saúde do solo”.
No caso dos agentes de controle biológico, eles são utilizados para o controle de nematoides, lagartas e doenças do solo. Já microrganismos como Trichoderma e Bacillus são exemplos desses agentes, que produzem substâncias antifúngicas e nematicidas, inibindo o crescimento de fungos e atacando os ovos e a forma adulta dos nematoides.
Esses agentes também protegem as raízes, impedindo a entrada de pragas e doenças do solo. Além disso, existem agentes de controle biológico que atuam no controle de vetores de doenças, como a cigarrinha, matando o inseto pela colonização. Alguns exemplos desses agentes, citados pela pesquisadora, são a bactéria Bacillus thuringiensis e o vírus baculovírus, que controlam lagartas de milho, soja e outras culturas.
Esses são apenas alguns exemplos para ilustrar o mecanismo e modo de ação da maioria dos produtos biológicos no controle de doenças.
Aliados do manejo integrado
Muitos microrganismos podem contribuir para o aumento da produtividade, pois atuam em conjunto com produtos químicos no manejo integrado. Além disso, existem microrganismos que ajudam as plantas a tolerar estresses climáticos, como a seca e o granizo.
Um exemplo são os Bacillus aryabhattai, produtos biológicos desenvolvidos pela tecnologia da Embrapa, que melhoram a hidratação da raiz da planta durante a seca. “Essas bactérias colonizam a raiz e produzem substâncias benéficas, como betaína e prolina, que diminuem o estresse hídrico e o efeito da salinidade. Atuam, também, como moléculas osmoprotetoras, reduzindo a perda de água das plantas por osmose. Portanto, têm o poder de atuar na região da raiz da planta, ajudando-a a tolerar situações de estresse hídrico e altas temperaturas nas lavouras”, esclarece Christiane.
ENTENDA!
Inoculantes ð melhoram a fertilidade do solo
Biofertilizantes ð atuam na ciclagem do nitrogênio e fósforo, além de serem promotores de crescimento das plantas.
Ambos produzem hormônios e substâncias benéficas que aumentam a raiz e a absorção de água e nutrientes, resultando em maior produtividade das plantas.
Sem contraindicações
Esses microrganismos ajudam a liberar substâncias da matéria orgânica do solo, como os colonizadores e mineralizadores de fosfato, que ajudam na ciclagem do fósforo. Nos solos tropicais, os microrganismos são importantes para liberar o fósforo, que fica preso nas partículas do solo.
Existem vários tipos de inoculantes biológicos no mercado, e outros à base de pseudomonas. Além disso, há microrganismos promotores de crescimento que atuam na melhoria da nutrição das plantas.
Christiane esclarece que os bioinsumos são formulados com base em células vivas de microrganismos, o que significa que eles praticamente não contêm produtos sintéticos. “Exceto por alguns aditivos que são adicionados para melhorar a qualidade do bioproduto, a concentração principal desses produtos são as células vivas dos microrganismos, que são naturais e não sintéticas”.
O resultado são fontes renováveis, que não causam danos ao meio ambiente. Esses insumos não emitem substâncias tóxicas ao meio ambiente e também não são formulados com substâncias que consomem combustíveis fósseis durante o processo de fabricação.
Além disso, não há emissão de CO2 ou outros gases tóxicos para a atmosfera ou que contribua para o efeito estufa. Portanto, por se tratarem de produtos naturais e de base biológica, há efeito positivo no solo, no ar e na água.
Culturas em destaque
Atualmente, a cultura que mais se beneficia com o uso de produtos biológicos é a soja. “Os produtores não precisam mais utilizar adubos nitrogenados, o que resulta em uma economia significativa. Em vez disso, eles utilizam um inoculante que custa cerca de R$ 2,00 por hectare”, informa a pesquisadora da Embrapa.
Outras culturas, como cana-de-açúcar, milho e gramíneas, também se beneficiam do uso de agentes de controle biológico, como bactérias e fungos, que ajudam no controle de pragas de solo e doenças.
Na cana, há uma tradição de usar insetos considerados inimigos naturais das pragas, como a Cotesia, que se alimenta da broca-da-cana, eliminando-a de várias lavouras.
Demanda crescente
Atualmente, há uma demanda crescente por produtos biológicos nematicidas, pois os produtos químicos não estão mais conseguindo controlar os nematoides de forma eficaz.
Os produtores de soja e algodão têm utilizado quase que 100% de produtos biológicos em seu manejo, devido à resistência aos nematicidas químicos.
O que há de novo?
Uma das grandes inovações no setor de biológicos foi o lançamento do primeiro inoculante para solubilização do fósforo no Brasil. “Anteriormente, já tínhamos inoculantes para fósforo sendo utilizados nos Estados Unidos, Canadá, Índia e Europa, com microrganismos de áreas temperadas. A Embrapa lançou esse novo inoculante em 2019, e na safra de 2020 já foi utilizado para auxiliar no manejo da adubação fosfatada”, conta a pesquisadora.
Essa inovação foi muito bem recebida pelos produtores. No início foram tratados cerca de 350 hectares, e já no segundo ano a área subiu para mais de mil hectares. Hoje, a tecnologia está sendo aplicada em mais de 5 milhões de hectares no Brasil.
Com apenas três anos de lançamento, a expectativa é que ela alcance mais de 10 milhões de hectares de soja e milho. Também já existe registro para sua aplicação na cultura da cana-de-açúcar, visando aumentar a produtividade e economizar no uso de adubos, que são de alto custo.
Cuidados imprescindíveis
Para garantir o sucesso do produtor no uso de produtos biológicos inoculantes, é importante seguir boas práticas. “Esses produtos são compostos por células vivas de bactérias e fungos, que são sensíveis à radiação e ao estresse térmico. Portanto, o produtor deve preparar o produto na sombra e evitar as horas de maior radiação ao fazer a aplicação. Além disso, a aplicação foliar deve ser feita no final da tarde para melhor adesão nas folhas e plantas”, esclarece Christiane.
Ela ainda alerta para a necessidade de que o produtor faça uma calda livre de químicos, que podem afetar a sobrevivência das células bacterianas. É especialmente importante separar o tratamento químico das sementes do tratamento biológico.
Primeiro, deve-se fazer o tratamento químico e deixar secar antes de realizar o tratamento biológico. Em seguida, as sementes devem ser plantadas em até 24 horas para evitar que o produto biológico entre em contato com o químico por muito tempo.
É essencial utilizar produtos registrados pelo Ministério da Agricultura (MAPA) para garantir a eficácia, pureza e ausência de contaminantes, que fiscaliza as indústrias e os microrganismos fornecidos pelos órgãos públicos, como a Embrapa. Além disso, a Anvisa e o Ibama controlam para evitar microrganismos nocivos à saúde e patógenos.
A indústria também contribui para melhorar a qualidade dessas formulações, visando a sobrevivência dos microrganismos no solo e nas sementes, além de garantir a eficiência na colonização das plantas.
É importante evitar a contaminação do solo, da água, das plantas e até mesmo dos seres humanos e animais com esses produtos biológicos. Outro ponto importante, assinalado por Christiane, é seguir sempre a dose recomendada do produto e a concentração adequada para cada tipo de agente ou inoculante utilizado no biofertilizante.
“Ele deve ser integrado juntamente com outras práticas agrícolas que já estão sendo realizadas, sendo considerada uma ferramenta importante dentro do manejo. No entanto, é importante ressaltar que o biofertilizante não irá resolver todos os problemas, mas pode ser uma alternativa para substituir o uso de alguns produtos químicos na lavoura”, diz.
Resultados em campo
Segundo Christiane, os resultados econômicos normalmente são positivos quando se trata de nitrogênio e fósforo. O aumento na produtividade pode variar de 6,0 a 11%.
No caso do inoculante desenvolvido pela Embrapa, tem sido observado um aumento médio de 11% na produtividade do milho e de 6,0 a 7,0% na produtividade da soja. Esses ganhos são devido à melhoria na absorção de nutrientes e à eficiência na formação de raízes que o fósforo proporciona à planta.
Além disso, o manejo biológico com solubilizador de fosfato também contribui para o melhor estabelecimento e maior energia dentro da planta.
Vamos às contas
Em relação aos ganhos econômicos, o inoculante vai custar ao produtor duas sacas de soja, mas Christiane garante que o ganho será de cinco a seis sacas na produção. “Ou seja, é um produto que se paga facilmente. O custo médio dele no milho é uma saca, para um ganho de 11 a 12 sc/ha”, calcula.
No caso dos inoculantes, eles conseguem aportar cerca de 300 kg de N por hectare na soja, o que substitui a quantidade de ureia que seria aplicada. Isso resulta em ganhos de produtividade de até 8%. Com o uso de outros produtos complementares, esses ganhos podem chegar até 16% a mais de produtividade, segundo a pesquisadora.
; Custo da ureia por hectare = R$ 500,00 a R$ 800,00
;Custo do inoculante = R$ 8,00
Viabilidade
Caso o fornecimento de nitrogênio para a cultura da soja tivesse que ser efetuado via adubação nitrogenada, seria necessário, para uma produção média de 49 sc/ha, um total de 588 kg ureia/ha (considerando uma eficiência de apenas 60%), a um custo médio de R$ 906,00/ha.
O custo por hectare da inoculação é de R$ 8,00. Ou seja, com o processo de inoculação são economizados R$ 898,00/ha. Se considerarmos os 27,7 milhões de hectares plantados com soja no Brasil, a economia proporcionada pela não utilização de adubos nitrogenados é da ordem de R$ 24,9 bilhões anuais.
É importante ressaltar que a maioria dos fertilizantes utilizados no Brasil são importados. Isso aumenta o custo de produção e nos deixa vulneráveis às variações cambiais, afetando o abastecimento.
Mais de 70% dos fertilizantes fosfatados e mais de 90% dos adubos potássicos são importados. Por isso, o aumento do uso de inoculantes biológicos, principalmente para o nitrogênio, tem se tornado uma alternativa econômica para os produtores.
Eles buscam alternativas aos fertilizantes sintéticos, o que traz uma grande economia para o país, além de diminuir os impactos ambientais causados pela produção convencional.
Aumentos médios de produtividade chegam a 10%
Resultados de experimentos na cultura do milho conduzidos em regiões brasileiras mostram aumentos médios de produção de grãos de cerca de 10%, o que pode corresponder a um ganho médio de até dez sacas por hectare.
“Esses experimentos avaliaram a inoculação combinada com a adubação reduzida de superfosfato triplo, o que pode diminuir o gasto para o produtor com fertilizantes sintéticos”, destaca a pesquisadora Christiane Paiva.
Outro diferencial do uso do inoculante é uma redução significativa no índice de emissão de CO2 na atmosfera. “Com isso, os resultados demonstram que é possível empregar uma tecnologia limpa e de baixo custo na cultura do milho, contribuindo para a sustentabilidade na agricultura, sem perdas para o meio ambiente”, reforça.
A redução no uso desses fertilizantes ainda pode trazer uma diminuição de cerca de 4% nas emissões de gases de efeito estufa gerados no processo de fabricação e transporte desses produtos, bem como dos inseticidas utilizados na agricultura.
Diferenciais
Os inoculantes produzidos com esses microrganismos apresentam menor custo, não causam danos ambientais e ainda podem ser usados para suplementar os fertilizantes. “Além disso, a adição de inoculantes no solo pode acelerar a ciclagem de nutrientes, aumentar a liberação do fósforo presente na matéria orgânica e enriquecer o solo biologicamente. Além disso, esses inoculantes apresentam outros mecanismos de promoção de crescimento para as plantas”, complementa a pesquisadora.
Estudos conduzidos pela Embrapa revelam que há um estoque bilionário de fósforo nos solos, que se encontra inerte e que não pode ser aproveitado pelas plantas.
O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sidney Parentoni, destaca que o inoculante é uma inovação à disposição do produtor no mercado brasileiro. “Em alguns solos de plantio direto, cerca de 88% do fósforo encontra-se em forma orgânica, indisponível para ser absorvido pelas raízes, e precisa ser mineralizado para esse fim. As bactérias solubilizadoras de fosfatos conseguem disponibilizar o elemento para a planta, atuando de forma agronômica nesse grande estoque presente na natureza”, interpreta o pesquisador.
“No caso do milho, por ser uma planta de ciclo curto e altamente exigente em nutrientes, o uso complementar do inoculante à adubação vem ganhando espaço. É realidade conseguirmos maiores ganhos de produção e de produtividade com o uso do produto”, reforça.
Outra vantagem é a estabilidade do inoculante por causa da sua capacidade de formação de esporos das bactérias selecionadas, permitindo sua adaptação a condições extremas, como temperaturas, pH ou exposição a pesticidas.
Logo ali, no futuro
A pesquisadora da Embrapa afirma que as práticas agrícolas mais sustentáveis estão crescendo em relação ao consumo e uso dos produtos biológicos. “Cada vez mais, os produtores têm aderido a essas práticas, buscando inoculantes, biofertilizantes e agentes de controle biológico, tanto macro quanto microbiológicos, para lidar com pragas e doenças”.
Isso se deve aos excelentes resultados observados na eficácia desses produtos e ao menor impacto ambiental em suas propriedades, o que é especialmente evidente nas análises da qualidade biológica do solo e na observação da biodiversidade.
Há, também, um aumento na produtividade e saúde das lavouras, visto que o uso de produtos biológicos melhora holisticamente a saúde não apenas da planta, mas também do solo, da água e do ar.
“Esses biológicos atuam como protetores das plantas, sendo aliados e parceiros na tolerância a diversos estresses e problemas que podem surgir na propriedade. Então, as perspectivas indicam uma intensificação no uso desses produtos biológicos, marcando uma transição de produtos sintéticos químicos para os biológicos. Em alguns casos, não será possível uma substituição total, mas sim parcial, trazendo benefícios ao produtor em termos de redução dos custos de produção, além de promover o bem-estar social e ambiental”, assinala Christiane Paiva.
Ainda segundo ela, é importante considerar o uso de produtos genuinamente brasileiros, adaptados à nossa agricultura tropical, que enfrenta diversas doenças e pragas exclusivas da região. “Podemos esperar inovações significativas em termos de genética de microrganismos transformados. Isso resultará em produtos mais eficientes e novos agentes de controle biológico, conforme as pesquisas avançam no país e no mundo”, revela.
As futuras pesquisas também visam o controle de plantas daninhas, com o surgimento de bioherbicidas. Produtos inéditos, como bactérias geneticamente editadas, estão sendo desenvolvidos para serem mais potentes na fixação de nitrogênio, solubilização de nutrientes, e no controle de pragas e doenças. Essas inovações prometem impulsionar ainda mais o crescimento desse mercado.
Palavra de produtores
Os produtores demonstram aprovação do produto. Os dados apurados na época do lançamento do BiomaPhos, em agosto de 2019, destacam Luís Eduardo Curioletti, engenheiro agrônomo, que atua como diretor na estação experimental da empresa Agrum – Agrotecnologias Integradas, localizada no sul do país, que relata um aumento de 28% na produtividade do milho graças ao uso do BiomaPhos.
Ele aplicou 100 ml do inoculante em 600 mil sementes, além de 50% da dose recomendada de fósforo solúvel na cultura, em comparação com a área controle. A eficácia do inoculante foi avaliada pela empresa em uma área experimental com sete anos de histórico de cultivo de soja, milho e feijão, sendo esta instituição uma das responsáveis por validar o produto.
“O uso do BiomaPhos provocou uma melhoria significativa na produtividade do milho a partir da dose mencionada, quando comparado com a área de controle. Observamos um aumento no diâmetro do colmo, na altura das plantas, no índice foliar e, consequentemente, no peso do colmo e parte aérea. Além disso, notamos um aumento na concentração de fósforo nos tecidos vegetais. O produto também atrasou o aparecimento dos sintomas de estresse devido à falta de água e oculta os sintomas visíveis de deficiência de fósforo”, descreve o engenheiro agrônomo.
“Na minha opinião, o grande potencial do BiomaPhos está na melhoria da utilização do fósforo e, por conseguinte, no aumento do potencial de produtividade”, pontua.
Já o produtor rural André Ricardo Denardin, do município paranaense de Braganey, obteve um aumento de oito sacas por hectare na produção de soja ao utilizar o BiomaPhos. Ele aplicou o produto na safra 2019 em dez hectares de soja, em um total de 360 hectares cultivados. “Essa área apresenta um nível de fertilidade médio a alto, e foram feitas aplicações de cálculo na fase de pré-plantio e carbonato de cálcio junto com o adubo na linha de plantio”, explica o produtor.
Segundo ele, o kit de inoculação no sulco de plantio foi instalado na semeadora. “Além do aumento na produtividade, as análises de solo comprovaram uma maior quantidade de fósforo disponível para as plantas e um desenvolvimento radicular mais robusto”, conclui.