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O legado do plano real: inflação, juros, desemprego e crescimento após 30 anos

Antônio Carlos de Oliveira/Reprodução

PENSANDO ESTRATEGICAMENTE POR ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA. Texto publicado originalmente no Diário de Uberlândia.

O Plano Real, lançado em 1994, foi uma resposta necessária à grave crise hiperinflacionária que assolava o Brasil, com taxas de inflação que superavam 80% ao mês. O programa foi a mais ampla medida econômica já realizada no Brasil e tinha como objetivo principal o controle da hiperinflação que assolava o país.

Utilizou-se de diversos instrumentos econômicos e políticos para a redução da inflação, que chegou a 46,58% ao mês em junho de 1994, época do lançamento da nova moeda. A idealização do projeto, a elaboração das medidas do governo e a execução das reformas econômica e monetária contaram com a contribuição de vários economistas, reunidos pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso.

O presidente Itamar Franco autorizou que os trabalhos se dessem de maneira irrestrita e na máxima extensão necessária para o êxito do plano, o que tornou o Ministro da Fazenda no homem mais forte e poderoso de seu governo. Assim, Fernando Henrique, que estivera à frente do Ministério entre maio de 1993 e março de 1994, elegeu-se Presidente do Brasil em outubro do mesmo ano. Hoje, após três décadas, é oportuno refletir sobre os objetivos do plano e sua efetividade em termos de inflação, taxa de juros, desemprego e PIB.

O QUE É INFLAÇÃO
A inflação refere-se ao aumento contínuo e generalizado dos preços em uma economia. Esse fenômeno pode ser categorizado em três tipos principais:

Inflação de demanda: ocorre quando a demanda por bens e serviços supera a capacidade de produção da economia.
Inflação de custos: resulta do aumento dos preços dos insumos necessários para a produção de bens e serviços.
Inflação inercial: surge do comportamento dos agentes econômicos que, habituados a períodos inflacionários, aumentam sistematicamente os preços para se protegerem da inflação futura.
A inflação pode ter efeitos devastadores na economia, corroendo o poder de compra e desestabilizando o ambiente econômico. Atualmente, o índice de inflação no Brasil, medido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), está em aproximadamente 3,86% para o ano de 2024

HISTÓRICO DA INFLAÇÃO NO BRASIL
Entre as décadas de 1980 e 1990, o Brasil experimentou uma hiperinflação, com taxas médias anuais de inflação de 233,5% na década de 1980 e de 499,2% na década de 1990. As causas desse fenômeno incluíam o aumento dos gastos públicos, a elevação do endividamento externo e os choques externos, como a crise do petróleo de 1973. A economia brasileira enfrentava desvalorização da moeda e uma expansão monetária descontrolada para financiar a dívida externa, resultando em inflação crônica e uma constante correção monetária.

PLANO REAL
O Plano Real, implantado durante o governo Itamar Franco, teve como pilares a estabilização econômica e a criação de uma nova moeda, o real. A estratégia envolveu a desindexação da economia, a abertura às importações e a implementação das âncoras cambial e monetária. A Unidade Real de Valor (URV) foi um passo crucial, desatrelando temporariamente a inflação dos preços e preparando o terreno para a introdução do real em julho de 1994.

CONTROLE DA INFLAÇÃO PELA TAXA DE JUROS
Para manter a inflação dentro da meta estabelecida, o governo utiliza a taxa básica de juros, a Selic, como principal instrumento de política monetária. Elevando os juros, o governo desestimula o consumo e, consequentemente, reduz a pressão sobre os preços. Essa estratégia tem sido fundamental para ancorar as expectativas de inflação e estabilizar a economia.

TAXA DE JUROS E SEUS EFEITOS
A taxa de juros é a remuneração cobrada pelo empréstimo de dinheiro, funcionando como um parâmetro para todas as transações financeiras. No Brasil, a taxa Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), é utilizada para controlar a inflação. A redução da Selic tende a estimular a economia, enquanto sua elevação busca conter a inflação.

Atualmente, a taxa Selic no Brasil está em 10,50% ao ano, conforme decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil.

DESEMPREGO
O desemprego é a situação em que indivíduos em idade de trabalhar estão em busca de emprego, mas não conseguem se colocar no mercado. As formas de desemprego incluem:

Cíclico: relacionado a crises econômicas.
Estacional: flutuações sazonais da demanda por trabalho.
Friccional: transição entre empregos.
Estrutural: desajuste entre oferta e demanda de trabalho.
A taxa de desemprego é um indicador crucial da saúde econômica de um país, sendo que atualmente é de 7,9% no primeiro trimestre de 2024, conforme divulgado pelo IBGE. Esse índice representa um aumento em relação ao trimestre anterior, refletindo um total de 8,6 milhões de desempregados no país

CRESCIMENTO ECONÔMICO
Segundo o boletim Focus, divulgado na segunda-feira (10) pelo Banco Central (BC), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) fechará 2024 em 2,09%, o mesmo índice de quatro semanas atrás.

REFLEXÃO SOBRE OS 30 ANOS DO PLANO REAL
Desde a implantação do Plano Real, o Brasil conseguiu controlar a hiperinflação e estabilizar a economia. A taxa de inflação reduziu-se significativamente, trazendo mais previsibilidade para o ambiente econômico. No entanto, o país ainda enfrenta desafios como altos níveis de juros, desemprego e necessidade de reformas estruturais para sustentar o crescimento econômico.

A estabilização monetária promovida pelo Plano Real foi um marco, mas para alcançar um desenvolvimento econômico sustentável, o Brasil precisa continuar a implementar políticas que incentivem a produtividade, a competitividade e a criação de empregos. A manutenção de um ambiente macroeconômico estável é essencial para promover a confiança dos investidores e o bem-estar da população.

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