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O solo de volta às suas origens

Adoção de técnicas voltadas para a regeneração e produtividade do solo ganham força nos mercados nacional e internacional, trazendo redução de custos em até 70% e benefícios ao meio.

Foto Alessandro Guieiro

O uso de bioinsumos na agricultura cresceu nas principais plantações do País em 2022, segundo revelam dados da SoluBio, empresa que atua na produção de insumos biológicos nas fazendas.
Esse número confirma o potencial da alternativa que vem chamando atenção de produtores rurais e do poder público no Brasil e no mundo, além de consolidá-la como uma das principais apostas do agronegócio para 2023.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mais de 560 produtos biológicos estão registrados no País, sendo que mais da metade dos registros ocorreu apenas nos últimos três anos.

Não dá para adiar

Durante a 27ª Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP27), realizada no Egito em novembro passado, representante do Mapa, Cleber Soares, afirmou que há uma estimativa de que 20% dos insumos químicos utilizados na agricultura passarão a ser substituídos pelos bioinsumos até 2025.
Aliado a isso, de acordo com relatório recente do Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês), metade da área agrícola do planeta está esgotada, fazendo com que cerca de US$ 400 bilhões sejam perdidos anualmente.
No Brasil, estima-se que haja 22,1 milhões de hectares de áreas de pastagens severamente degradadas, conforme mapeamento realizado pela MapBiomas – rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia, que produz levantamentos sobre cobertura e uso do solo.
Uma solução para esse problema seria a agricultura regenerativa. O uso de bioinsumos pode atuar como recurso para a recuperação de pastagens degradadas, evitando o desmatamento e garantindo o aumento da produção de alimentos e matéria-prima.
Além disso, aliar a produção com a regeneração do solo pode gerar 62 milhões de empregos e movimentar US$ 1,4 trilhão por ano até 2030, aponta o WEF. O manejo biológico dentro das próprias fazendas, isto é, on farm, contribui ainda reduzindo em até 70% os custos para os produtores rurais. “Isso mostra que estamos em um caminho mais sustentável dentro da agricultura. Uma nova era em que o impacto socioambiental deve vir em primeiro lugar, tanto para garantir a segurança alimentar da população, quanto para preservar o ecossistema em que vivemos”, afirma Maurício Schneider, CEO e cofundador da SoluBio.

Foco

O manejo regenerativo tem como foco uma agricultura sustentável, por meio da regeneração do solo, de uma maior biodiversidade e uma estabilização de todo ecossistema – o que, invariavelmente, possibilita um solo mais equilibrado e, consequentemente, uma maior disponibilidade de nutrientes e uma microbiota mais ativa no solo e para as plantas.
Ainda, um maior equilíbrio deste ecossistema permite uma menor incidência de pragas, doenças e nematoides, por conseguinte, uma redução no uso de defensivos químicos para o seu controle.

Produção de hortaliças

Dentre as possibilidades de um sistema regenerativo para a produção de hortaliças, destaca-se o uso de práticas que permitam a redução de insumos químicos, as quais são bastante difundidas na produção de outras culturas, como a integração lavoura-pecuária e o plantio direto, mas em hortifrúti são pouco utilizadas.
No entanto, argumenta Luiz Eduardo Pannuti, CPO da SoluBio, é possível ter uma agricultura mais regenerativa por meio da redução de fertilizantes e pesticidas. “Quando se fala na redução de fertilizantes químicos, o foco é fazer uma rotação de culturas adequada e que possibilite o aporte e fixação de nutrientes importantes, como exemplo, o nitrogênio. O uso dos bioinsumos vem ganhando bastante destaque nesse sentido”.
Atualmente, existem bactérias e fungos capazes de aumentar a fixação de nitrogênio e a captação no solo por meio do crescimento radicular das plantas, assim como disponibilizar nutrientes como fósforo e potássio, os quais estavam indisponíveis para sua absorção.
Ainda, é possível utilizar diferentes fontes de adubos orgânico. Luiz Eduardo aponta que uma maior biodiversidade de culturas plantadas durante a produção de hortaliças pode proporcionar uma menor infestação de pragas e doenças, mantendo-as em equilíbrio e abaixo do nível de dano econômico.
Tudo isso ocorre por meio de uma atuação direta dos inimigos naturais e da quebra do ciclo de um patógeno ou praga, quando rotacionadas as culturas hospedeiras. “Estes fatores reduzem diretamente a necessidade das aplicações de pesticidas. Dentro dos bioinsumos, também existe uma ampla oferta de microrganismos capazes de exercer um excelente controle de pragas, doenças e fitonematoides.

Mais saúde para o solo

A agricultura regenerativa promove uma melhor saúde do solo por meio de práticas como a rotação de culturas, cobertura contínua de plantas vivas sobre o solo e o uso de adubos orgânicos.
A rotação de culturas possibilita um maior acúmulo de nutrientes, reduzindo a necessidade do uso de fertilizantes químicos. Em adição ao uso de adubos orgânicos, estas práticas permitem uma nutrição adequada das plantas e uma maior sobrevivência e atividade de microrganismos no solo, que por sua vez, com uma cobertura contínua de plantas vivas, aumenta a matéria orgânica e melhora sua capacidade de retenção de água e nutrientes.

Principais vantagens econômicas

Segundo Luiz Eduardo, a adoção de uma agricultura regenerativa permite ao produtor captar valor de forma direta, como a redução no uso de insumos químicos e aumento de produtividade, bem como indiretamente, pela valorização da marca de sua empresa e/ou produto.
A afirmativa dele se sustenta na base de que insumos químicos costumam ter um valor mais alto em comparação aos biológicos e causam um desiquilíbrio do sistema de produção, assim, necessitam de mais aplicações durante o cultivo, aumentando os custos para o produtor.
Além disso, o uso de insumos biológicos pode ser uma alternativa sustentável dentro da agricultura regenerativa, capaz de reduzir significativamente o custo de produção para hortaliças, bem como ocasionar maior produtividade e rentabilidade.
Por fim, o produtor que utiliza práticas de manejo regenerativo pode captar uma maior valorização de sua marca ou produto, uma vez que a demanda por alimentos produzidos de forma sustentável cresce ano a ano.

Reflexo direto

A melhoria na saúde do solo proporcionada pela agricultura regenerativa é um dos fatores que possibilita maior resistência das plantas às mudanças climáticas, uma vez que, como mencionado anteriormente, essas práticas são capazes de reter uma quantidade maior de água e mais disponibilidade de nutrientes.
Ainda, existem práticas dentro deste sistema de produção que podem ajudar essa resiliência climática, como é o caso de bioinsumos que são capazes de interagir com a rizosfera da planta, produzindo substâncias como exopolissacarídeos e fitohormônios, bem como intensificando a disponibilidade dos nutrientes que não estavam disponíveis para a absorção das plantas.
Essa maior biodiversidade e maior ação dos microrganismos no solo também podem proporcionar uma maior defesa da planta ao ataque de insetos e patógenos, prática que também pode ser potencializada pela aplicação de bioinsumos que auxiliam na indução de resistência da planta ou controle destes patógenos e pragas.
Aliado a uma maior biodiversidade de plantas, a dependência de intervenções para o controle destas pragas pode reduzir drasticamente.

Linhas de pesquisa

Quando comparado a outras lavouras cultivadas no Brasil, pode-se dizer que a agricultura regenerativa em hortaliças é relativamente nova e em desenvolvimento. No entanto, Luiz Eduardo destaca algumas áreas em expansão:

  1. Controle biológico, biofertilização e bioestimulação de plantas: uso de microrganismos benéficos como bactérias, fungos, entre outros; os quais são capazes de exercer um controle efetivo destes problemas fitossanitários, bem como proporcionar uma maior resiliência às plantas cultivadas e até uma maior produtividade.
  2. Melhoria da saúde do solo: práticas de rotação de culturas, culturas de cobertura ou uso de adubos orgânicos, possibilitando um maior equilíbrio e conservação da microbiota do solo.
  3. Tecnologia: uso de sensores de monitoramento do solo, plantas e ecossistema, inteligência artificial, drones e outras tecnologias que possibilitam o aumento da produtividade no mesmo espaço cultivado e com um menor custo de produção.
  4. Produção urbana: jardins verticais são exemplos que possibilitam a utilização de um menor espaço e uma reutilização dos recursos naturais, como a água, além de menor dependência do uso de agrotóxicos e uma maior proximidade do principal mercado consumidor.

Pesquisas

A pesquisa científica tem um papel fundamental na aceleração da adoção das práticas de manejo regenerativo, uma vez que auxilia com a produção de dados científicos e práticos para uma adoção segura dos bioinsumos pelos produtores, o desenvolvimento de novas tecnologias mais eficientes, a capacitação e orientação dos produtores e até o desenvolvimento de políticas públicas e privadas que incentivem financeiramente a adoção deste sistema.
“Ainda há muito o que se estudar e descobrir quanto à agricultura regenerativa, principalmente para a produção de hortaliças e a ciência pode ser uma grande aliada”, conclui Luiz Eduardo Pannuti.

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