Autores
Rhaiana Oliveira de Aviz
Mestranda em Produção Vegetal – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE-UAST) rhaianaoliveiradeaviz@gmail.com
Luana Keslley Nascimento Casais
Engenheira agrônoma – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
luana.casais@gmail.com
Luciana da Silva Borges
Doutora e professora – UFRA, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Horticultura da Amazônia (Hortizon) e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (NEA)
luciana.borges@ufra.edu.br
No cenário agrícola atual, o uso do solo se torna cada vez mais intenso, demandando formas de manejo que possam conservar e contribuir para a melhoria das características físicas, biológicas e químicas do solo. Uma alternativa sustentável de fertilização do solo é o uso dos fertilizantes organominerais.
Composição
Os fertilizantes organominerais são gerados a partir da combinação de composto orgânico e adubos minerais. Essa categoria de fertilizante foi enquadrada na legislação em 1982, e de acordo com a Instrução Normativa nº 25, de 23 de junho de 2009, os fertilizantes organominerais devem ter, em sua composição, no mínimo 8% de carbono orgânico, CTC de 80 mmolc.kg-1, 10% de macronutrientes isolados (N, P, K) ou em mistura (NP, NK, PK, NPK), 5% de macronutrientes secundários e 30% de umidade (Rabelo, 2015).
Os adubos orgânicos, ou compostos orgânicos, apresentam baixos níveis de macronutrientes primários (N, P, K), e a complementação desses nutrientes auxilia na melhora da qualidade desse adubo.
Além disso, quando misturada a matéria orgânica, esses nutrientes são liberados ao solo mais lentamente, evitando perdas por lixiviação ou volatilização, e também aumentando a eficiência do consumo pela planta (Isah, 2014).
Nesses fertilizantes há maior acumulo de nutrientes, em relação aos demais tipos de adubos, e também devido à característica de liberação gradual dos nutrientes, os fertilizantes organominerais podem ser utilizados em menores quantidades sem perder sua eficiência. Isso barateia os custos de produção e de transporte.
Quem pode usar?
O fertilizante organomineral pode ser usado tanto pelo pequeno quanto pelo médio e grande produtor. Existem empresas que comercializam esse produto, contudo, também podem ser fabricados na própria propriedade.
A base do fertilizante é a compostagem, que é a mistura e processo de decomposição de resíduos orgânicos vegetais e estercos, como exemplo a palha de arroz, serragem, resíduo de soja, cama de aviário, entre outros. Com a obtenção da compostagem, a adição dos nutrientes minerais deve obedecer a necessidade da cultura e análise química do solo (Royo, 2010).
Benefícios proporcionados
Os benefícios que o organomineral proporciona ao solo, relacionados à melhoria das características físicas, químicas e biológicas, tem impacto no bom desenvolvimento do sistema radicular, pois cria condições adequadas, como boa aeração, melhorando a circulação de ar e água, por exemplo, fazendo com que esse órgão consiga ter uma maior exploração do solo, absorvendo mais nutrientes e água. Esses fatores têm influência direta no desenvolvimento da parte aérea.
Além disso, também a presença de matéria orgânica proporciona maior estabilidade em relação à temperatura e umidade, e ela também funciona como condicionador de solo, favorecendo a alta capacidade de troca de cátions (Ferreira et al, 2013).
Como implantar a técnica
No mercado, esse fertilizante está disponível tanto na forma sólida e granulada, quanto líquida (concentrada). O uso do fertilizante na forma sólida para aplicação em culturas já estabelecidas deve ser realizado em sulcos abertos na projeção da copa da planta, que é o local onde há maior absorção pelas raízes. Após aplicação é necessário realizar irrigação no local. Já o produto na forma líquida pode ser aplicado por pulverização ou fertirrigação.
Dependendo da cultura que será cultivada, se o plantio for por meio de sementes, esse fertilizante também pode ser aplicado na linha de plantio durante a semeadura, ou incorporado ao solo por gradagem antes dessa etapa.
Caso o plantio seja por mudas, o fertilizante deve ser distribuído em toda a área útil e incorporado ao solo por gradagem, 15 dias antes do transplante, ou também pode ser feita a aplicação na cova, durante o transplante das mudas (Oliveira Filho, 2014)
Produtividade
As boas produções relacionadas ao uso dos fertilizantes organominerais estão relacionadas ao melhor aproveitamento dos nutrientes em detrimento dos adubos apenas minerais, que fazem a liberação gradativa dos elementos essenciais, deixando-os menos suscetíveis a perdas e proporcionando adequado aproveitamento pela cultura.
Os organominerais para o cultivo de grãos e hortaliças podem substituir o uso de fertilizantes minerais sem haver prejuízos, pois promove a mesma produtividade e, dependendo da fonte orgânica, a produtividade pode elevar acima de 20% do habitual.
Em campo
Em trabalho realizado no município de Uberlândia (MG), avaliando a influência da utilização de fertilizantes organominerais durante o ciclo da cultura do algodão, foi constatado que a adubação mineral pode ser substituída pelo fertilizante organomineral sem quaisquer prejuízos para a cultura. Das fontes de fertilizante organomineral utilizadas, o lodo de esgoto tem um desempenho superior para o desenvolvimento da cultura. (Leite, 2020)
Também foi realizado um trabalho avaliando a eficiência da adubação organomineral e mineral, em cobertura, na produção de tomate industrial, na cidade de Anápolis (GO). Com os resultados, foi possível verificar que o adubo organomineral, em cobertura, proporciona aumento do número de frutos comercializáveis por planta, peso médio de frutos, massa fresca, massa seca de frutos por planta, diâmetro equatorial e da produtividade média da cultura, em relação à adubação somente mineral. (Peres; Terra; Rezende, 2020)
Erros mais frequentes
A qualidade do fertilizante organomineral está diretamente ligada ao material orgânico que deu origem à parte orgânica, ao manejo empregado para a sua produção, ademais pela fonte mineral que fará parte da composição do mesmo.
Um preparo do adubo com materiais apresentando relação C/N inadequada pode fazer com que a matéria orgânica não permaneça no sistema por um período apropriado, ou que a mesma fique indisponível a curto prazo, causando um prejuízo para a cultura implantada, mesmo que tenha a fração mineral na composição.
Como evitar erros
Conhecer a procedência dos componentes que formarão o organomineral é importante para evitar contaminações que refletirão na qualidade e produtividade da cultura. O uso de cobertura no solo também influencia na eficiência do organomineral.
Esse trato cultural proporciona melhorias nas condições do solo, fazendo com que se tenha os espaços porosos com suas concentrações de água e ar mais próximo do ideal, e controle de temperatura, o que acaba por proporcionar a atividade dos microrganismos que têm a função de mineralizar os nutrientes presentes na matéria orgânica.
Conhecer as exigências nutricionais da cultura a ser utilizada é de extrema importância, pois isso evita gastos desnecessários com aplicação de quantidades acima do necessário, o que reflete no custo, e evita que se aplique quantidades inferiores ao requerimento da cultura, o que terá impacto na produção.
Além disso, ter em mãos os dados relacionados à fertilidade do solo resultará em um manejo do adubo mais eficiente.
Custo
Já existem empresas que fabricam esse produto, alguns até formulados com as quantidades exigidas por culturas especificas. O fertilizante na forma sólida pode ser encontrado a partir de R$ 600,00/ton no mercado, enquanto em forma líquida está disponível a partir de R$ 30,00/L de organomineral concentrado.
Na adubação mineral, em sua maioria, a aplicação é realizada de forma parcelada, conforme a eficiência de absorção do nutriente pela cultura. Entretanto, a aplicação de fertilizantes organominerais pode ser realizada apenas uma vez, isso porque os nutrientes que estão na forma mineral serão de imediato absorvidos pelas raízes, enquanto o nitrogênio que está presente na matéria orgânica será disponibilizado gradualmente, aumentando a eficiência de consumo pela planta, e com isso reduzindo custos de adição complementar de nutrientes (Fernandes, 2001).
De acordo com o BNDES (2017), em 2015 a aplicação de macronutrientes primários no campo foi de 13,7 milhões de toneladas. Contudo, foi realizado um levantamento que estimou a quantidade de nutrientes gerados a partir de compostos orgânicos advindos da avicultura, suinocultura e bovinocultura, e esses setores produziram cerca de 5,3 milhões de toneladas de macronutrientes, correspondendo a 38% da demanda nacional de adubação mineral, que poderia ser aproveitado durante o cultivo de diversas culturas.
Em épocas de crise financeira, a utilização fertilizante organomineral também é favorável. Devido à matéria-prima desse fertilizante ser os compostos orgânicos, que são gerados a partir de resíduos de indústrias, há uma redução dos custos de fabricação do produto, o que torna o seu preço mais estável, enquanto que os preços de adubos minerais se elevam mais.
Usando essa tecnologia, o produtor consegue economizar quase 50%, sem comprometer a sua produtividade (Royo, 2010).