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Citros e o manejo intenso nas bordas reduz HLB

Autores

Paula Almeida Nascimento
Doutoranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
paula.alna@yahoo.com.br
Deniete Soares Magalhães
Doutora em Fitotecnia e pesquisadora – UFLA
denieteagro@yahoo.com.br
Leila aparecida Salles Pio
Doutora em Fitotecnia e professora de Fruticultura Tropical – UFLA
leilapio.ufla@gmail.com

O Huanglongbing (HLB), também é conhecido como greening, é a doença mais importante da citricultura e ataca todos os tipos de citros (laranjas, limões, tangerinas). É considerada a doença mais destrutiva de citros no Brasil – não há tratamento curativo ou variedades resistentes, representando uma ameaça os pomares do mundo inteiro, sendo classificada como praga quarentenária A2 no Brasil.

O HLB é uma doença causada pelas bactérias do gênero Candidatus Liberibacter asiaticus e Candidatus Liberibacter americanos, transmitidas pelo psilídeo Diaphorina citri.

Efeito de borda

Uma particularidade na observação dessa doença é o ‘efeito de borda’, uma característica marcante do HLB. Ocorre porque o psilídeo tem caráter migratório e está sempre em busca de novas brotações.

Quando voa de um pomar para outro, aterrissa nas primeiras plantas de citros que encontra, ou seja, na periferia dos pomares. Além disso, o D. citri é um inseto diurno, o qual utiliza a luz para a seleção da planta hospedeira, o que explica sua preferência por colonizar plantas nas bordas de pomares.

As altas concentrações de plantas doentes nas bordas de propriedades indicam a necessidade de um controle mais intenso da doença, tanto interna quanto externamente à propriedade.

Como implantar a técnica

Como já se sabe que o inseto chega pelas bordas do pomar, algumas medidas ajudam a evitar que o inseto voe para o interior do pomar. Como a área de borda é a mais sacrificada devido à alta incidência de greening, há maior necessidade de erradicação de plantas doentes, portanto, um controle mais rigoroso do inseto nesta área impedirá a disseminação do HLB para a parte central do pomar.

A recomendação do Fundecitrus é que os produtores apliquem inseticidas nos primeiros 100 metros da propriedade com mais frequência, se possível a cada semana. Assim, os talhões centrais ficam mais protegidos e não precisam de tanta pulverização, que pode ser feita a cada quinzena ou mês, dependendo da presença de brotações.

Outra indicação é aumentar a densidade de plantio nas bordas e replantar frequentemente, não deixando espaços vazios. Dessa forma evita-se as falhas que facilitam a penetração do psilídeo no interior do pomar, levando a doença para dentro da fazenda.

Recomenda-se, também, que o plantio seja feito paralelo à divisa do pomar, pois facilita a operação das pulverizações mais frequentes e, com o crescimento das plantas, serve de barreira ‘quebra-vento’, dificultando a disseminação do inseto pelo vento para o interior da propriedade. É preciso evitar o plantio de talhões retangulares e/ou estreitos, que têm área maior de borda do que os talhões quadrados da mesma área.

As inspeções nas plantas devem começar a partir do segundo ano de implantação do pomar. É recomendado realizar, no mínimo, seis inspeções em todas as plantas cítricas durante o ano, principalmente entre fevereiro e agosto, quando os sintomas da doença são mais visíveis.

Nas propriedades não contaminadas, as inspeções devem ser iniciadas pela periferia, nas divisas e faixas de bordas dos talhões, locais onde o psilídeo e, consequentemente, a doença tendem a se concentrar.

Medida essencial

Todas as plantas com greening devem ser eliminadas, independente de idade e severidade dos sintomas. Recomenda-se, antes da erradicação, realizar pulverização com inseticidas nas plantas doentes para evitar que insetos contaminados dispersem para árvores sadias durante a operação de corte ou arranquio.

O corte da planta deve ser feito rente ao solo, com a aplicação imediata de herbicida sobre o lenho para evitar o rebrote do tronco e das raízes. Não há necessidade de queima e a substituição pode ser feita após o término do efeito do herbicida, para evitar uma possível intoxicação da replanta.

Risco

Muitas pragas e doenças são um risco para a sanidade dos pomares, ocasionando perdas significativas à produção. O HLB, quando presente em pomares, apresenta dificuldade de manejo e desamina vários produtores por causa dos altos custos de produção. Devido ao impacto da doença, que eleva os custos da produção, reduz a qualidade e quantidade de frutos, muitos produtores abandonam as atividades citrícolas.

Plantas com sintomas apresentam, inicialmente, ramos com folhas amareladas e uma assimetria marcada pela nervura central. As folhas sintomáticas podem ser curvadas, com nervuras grossas e escurecidas. Com o avanço da doença pode ocorrer desfolha e morte dos ponteiros.

Os frutos apresentam um tamanho reduzido, são incompletamente maduros e apresentam a região estiolar verde. De acordo com a redução na proporção de frutos, as perdas podem chegar a 100%, dependendo de quanto a copa é afetada pela doença. Os frutos sintomáticos ficam mais ácidos e com menor Brix, perdendo qualidade para a produção de suco.

A doença torna a planta improdutiva e debilitada, mas raramente provoca sua morte. Pomares inteiros podem vir a ser inviáveis entre sete e dez anos depois do aparecimento da doença, caso medidas de controle não sejam tomadas.

O aumento da incidência do HLB é mais rápido nos pomares jovens que nos adultos, portanto, a evolução dos sintomas pode ser rápida, dependendo da idade ou porte da planta no momento da infecção e também do número de infecções numa mesma planta.

Enfim, um pomar infestado com a doença HLB pode comprometer as exportações de suco de laranja para o mercado mundial e além disso afetar a demanda para o mercado consumidor interno de frutas in natura.

Controle

As práticas mais usadas no campo são alerta fitossanitário, com monitoramento do psilídeo Diaphorina citri por meio de armadilhas adesivas amarelas georreferenciadas instaladas pelos produtores das regiões nas áreas monitoradas.

Também são feitas inspeções em todas as plantas do pomar durante o ano e plantio diferenciado nas bordas com implantação de linhas mais adensadas para dificultar a entrada do inseto vetor; tecnologia aérea, com mapeamento aéreo e o drone de aplicação.

O mapeamento é feito pelos drones para obtenção de imagens nítidas das áreas de plantio, e também para pulverização, por meio do qual é possível realizar aplicações precisas nas reboleiras, evitando desperdício de produtos químicos.

Softwares estão disponíveis no campo para auxiliar os citricultores a fazer o monitoramento inteligente de seus pomares. Com o uso do georreferenciamento, ele gera mapas dos talhões para acompanhar os resultados dos níveis de pragas e a infestação da doença, e assim tomar medidas estratégicas.

Em algumas propriedades já estão sendo instaladas plantas de Murraya koenigii, conhecida por curry, uma espécie de rutácea atrativa para D. citri, mas imune ao patógeno. Essas plantas serviriam como isca, atraindo os adultos imigrantes, os quais morreriam pela ação dos inseticidas frequentemente aplicados nas mesmas.

Controle natural

Outra estratégia é a utilização de inimigos naturais. Há vários inimigos do inseto ,Diaphorina citri como as aranhas, crisopídeos, sirfídeos e coccinelídeos, além de parasitoides, como Tamarixia radiata e Diaphorencyrtus aligarhensis, considerados os mais eficientes no controle populacional do psilídeo.

O controle biológico de D. citri pode ainda ser realizado com entomopatógenos, como Hirsutella citriformis e Paecilomyces fumosoroseus.

Existem as técnicas alternativas, como a utilização de ráfia aluminizada, empregada na forma de mulching. Estima-se que essa metodologia possa repelir até 100% dos psilídeos em plantas com até três anos de idade, em função da reflexão da radiação solar.

Novidade

Outra tecnologia em desenvolvimento consiste na utilização de compostos voláteis presentes em goiabeira (Psidium guajava), que têm demonstrado intenso efeito repelente em adultos de Diaphorina citri, necessitando de maiores pesquisas.

E também, o emprego de produtos que promovam a cobertura das plantas (folhas e frutos) com um filme de partículas minerais tem sido uma das estratégias promissoras estudadas. Dentre os minerais mais utilizados está o caulim, material inerte composto por hidróxido de silicato de alumínio (Al2 Si2 O5 (OH)4), que atua dificultando a localização visual do hospedeiro pelo psilídeo.

Embora não existem plantas de citros resistentes ao HLB, o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas com resistência à doença é foco de diversos estudos. Há pesquisas com o gene attA (atacina A) em plantas transgênicas de laranjeiras. Esse gene é dirigido por promotores específicos de floema que atuam inibindo o desenvolvimento do patógeno.

Atenção

Um levantamento realizado pelo Fundecitrus em 2019 apontou que a incidência do HLB tem aumentando nos últimos anos, estando presente atualmente em 19,02% das laranjeiras do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro.

O aumento tem sido observado principalmente em propriedades de tamanhos menores, devido ao “efeito de borda”. Isso pode ser explicado porque nessas propriedades a maioria das plantas se encontra dentro desta faixa, que corresponde, principalmente, aos primeiros 100 m da divisa da propriedade, onde a maior parte dos psilídeos vindos de fora dos pomares comerciais se instala. Dessa forma, o manejo nas bordas torna-se crucial para evitar que a doença se alastre no pomar.

A dependência do manejo regional torna-se um agravante à situação, visto a necessidade de colaboração de todos os citricultores locais, bem como outras fontes de inóculo, como pomares abandonados, pomares não comerciais, pomares ou plantas cítricas isoladas em fundos de quintais ou áreas urbanas, além de presença de outras plantas hospedeira do vetor, como as murtas.

Outros problemas que têm contribuído para o aumento da incidência do HLB tem sido a não erradicação de plantas infectadas, uso de mudas não certificadas, falta de vistoria e controle do inseto vetor, entre outros.

Integração

O controle do HLB exige a integração de diversas medidas, que devem ser aplicadas interna e externamente à propriedade por todos os produtores de uma região (manejo regional). Dessa forma, as principais recomendações vão desde o planejamento e escolha da área de plantio até o controle fora da propriedade.

Deve-se, portanto, evitar o plantio em regiões altamente afetadas pela doença, próximo a áreas contaminadas e com baixo controle do psilídeo, além do plantio de pomares estreitos; procurar realizar o plantio em áreas grandes (com mais de 700 ha) e renovação de pomares em blocos contínuos; aquisição de mudas sadias de viveiros telados e certificados, preferindo mudas mais velhas com formação das pernadas; boa nutrição das plantas.

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