Você sabia que o óxido nítrico é uma molécula que regula o crescimento e desenvolvimento de todas as plantas? Elas produzem esta molécula normalmente em seus tecidos e uma pesquisa do Instituto Agronômico (IAC-APTA) partiu desse conhecimento para analisar a aplicação foliar de doadores encapsulados, que liberam óxido nítrico na cultura da cana-de-açúcar.
Em estudos anteriores, o grupo demonstrou que variedades de cana tolerantes à seca produzem mais óxido nítrico. A equipe concluiu que esta molécula está ligada à maior tolerância da cana ao déficit hídrico.
O encapsulamento de doadores de óxido nítrico para uso agrícola é um tema novo e surge como uma estratégia para proteger essa molécula da rápida degradação, viabilizando uma liberação sustentada de óxido nítrico e prolongando seus efeitos. O estudo rendeu prêmio internacional à pesquisadora do IAC, da Secretaria de Agricultura de São Paulo.
O trabalho foi premiado no 8th Plant Nitric Oxide International Meeting em evento remoto, em que o comitê organizador estava na Hungria. A pesquisadora do IAC, Neidiquele Maria Silveira, apresentou o pôster intitulado “Physiological and biochemical responses of sugarcane during recovery from drought as affected by nitric oxide donors encapsulated into nanoparticles”.
Resultados
O experimento envolveu a aplicação nas folhas da cana-de-açúcar de nanopartículas contendo óxido nítrico. “Essa liberação controlada prolonga o efeito do óxido nítrico nas plantas, melhorando a performance das plantas sob déficit hídrico”, afirma a pós-doutoranda, supervisionada por Eduardo Caruso Machado, pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
A cientista explica que a nanotecnologia é utilizada na agricultura principalmente em fertilizantes, pesticidas e herbicidas. Mas, a adoção dessa tecnologia no encapsulamento de doadores de óxido nítrico em lavouras é nova. “A aplicação dos doadores de óxido nítrico foi via foliar e o experimento foi feito em hidroponia, em que a adição de um composto, chamado polietileno glicol, simulou o déficit hídrico”, explica.
A pesquisa apresentou os resultados de quatro doadores de óxido nítrico – S-nitroso-N-acetilcisteína (SNAC), S-nitrosoglutationa (GSNO), S-nitroso-mercaptossuccínico (MSA) e nitroprussiato de sódio (SNP). “No trabalho premiado, dois doadores de óxido nítrico (SNAC e SNP) foram, pela primeira vez, encapsulados em nanopartícula de quitosana para uso em plantas. Como uma matriz, a quitosana é biodegradável e biocompatível e é muito utilizada em sistemas de liberação”, relata.
“Os resultados indicaram que a pulverização de SNAC atenuou parcialmente o impacto negativo do déficit hídrico na taxa fotossintética, induzindo uma eficiência no uso da água semelhante às plantas hidratadas”, explica.
Além disso, a pulverização de SNAC e GSNO encapsulados melhorou a fotossíntese da cana-de-açúcar durante o período de recuperação. Ao contrário, a pulverização de SNP não foi eficaz em mitigar os efeitos da seca em plantas de cana-de-açúcar, que apresentavam dano oxidativo após a reidratação.
“É provável que a combinação dessas nanopartículas e doadores de óxido nítrico venha a representar uma nova e promissora estratégia com grande potencial de uso real em plantações de importância nutricional e econômica”, diz Neidiquele.