Sylmara Silva
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
No Brasil, até meados da última década, o abacate era visto como uma fruta adocicada, consumida tradicionalmente com açúcar ou no preparo de vitaminas, tendo pouca expressão na gastronomia brasileira.
Porém, o aumento de canais culinários nas redes sociais e realitys culinários em diferentes canais de TV vem colocando essa fruta em um novo patamar. O guacamole, prato tradicional da culinária mexicana, vem se tornando cada vez mais comum no cotidiano brasileiro, além de diferentes preparos, como molhos, maioneses, saladas, entre outros.
Com o aumento da busca por alimentos saudáveis devido à pandemia, o abacate, considerado um superalimento também ganhou ainda mais destaque.
Importância mundial
A produção brasileira de abacate já se constitui como uma das maiores do mundo, ocupando a 6ª posição entre os produtores mundiais. Segundo matéria recente do Globo Rural, a área total de abacate no País, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), passou de 10,9 mil hectares em 2016 para 16,4 mil hectares em 2020, sendo que 98% dessa produção destina-se a exportações.
Mesmo que a produção brasileira represente apenas 3,2% do total mundial, nota-se que a abacaticultura tem se tornado a aposta de novos estados, como o Ceará, que produz abacates da variedades tipo Hass nas entressafras dos principais produtores do Sul e Sudeste.
Em destaque
O abacate é uma cultura que tem preferência por climas amenos, com baixa umidade. O maior Estado produtor de abacate no País é São Paulo, seguido por Minas Gerais e Paraná.
É uma cultura que tem grande potencial de ser utilizada em consórcio com outras espécies, como o café, propiciando um bom complemento de renda para os produtores. Devido às oscilações nos mercados de insumos, não foi possível estimar com precisão o preço de implantação da lavoura, porém, as primeiras colheitas ocorrem a partir de dois anos e meio, sendo os lucros mais elevados a partir do quarto ano de colheita.
A produção brasileira possui um rendimento médio de 16.457 kg por hectare, tendo um grande potencial de crescimento em diversos Estados brasileiros.
Expansão
De acordo com a CNA, o cultivo de abacate no Triângulo Mineiro teve um incremento de 79% nos últimos cinco anos. Como estratégia de expansão, os produtores vêm realizando a redestinação de frutos que não se enquadram nas demandas do mercado in natura para a produção de outros produtos, como o azeite.
Esse tipo de estratégia, além de permitir o melhor aproveitamento da produção, gera diversificação de renda aos produtores e amplia a oferta de empregos na região.
O Paraná, terceiro maior produtor do País, também tem crescido no cultivo de abacate. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, nos últimos 10 anos a área de plantio aumentou 19%, e a produtividade também subiu 34% no período.
Exportações
Em relação às exportações, os últimos resultados do setor não foram tão promissores. Dados comparativos entre o primeiro trimestre de 2021 e 2022 indicam que houve uma diminuição, tanto no valor quanto no volume de abacates exportados.
De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), no primeiro trimestre de 2021 foram exportados R$ 2.245.402,00, enquanto em 2022 o valor foi de R$ 1.894.013,00, representando uma diminuição de 16% em relação ao ano anterior.
Já o volume exportado no primeiro trimestre de 2021 foi de 1.113.476 kg, enquanto que no mesmo período de 2022 foi de 1.015.468 kg, resultando em uma queda de 9%.
Novos mercados
Diversos esforços têm sido feitos, tanto por órgãos institucionais quanto por produtores para a abertura de novos mercados, tendo como foco principal a exportação de frutos de abacate variedade “Hass” para os Estados Unidos, Alaska, Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas.
De acordo com a Secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o Plano de Trabalho operacional para o programa de exportação de frutos de abacate “Hass” do Brasil para os Estados Unidos e países afins é realizado mediante acordo de cooperação entre ambas as partes interessadas, tendo participação o Serviço de Inspeção da Saúde Animal e Sanidade Vegetal, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (APHIS/USDA), dos técnicos do Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento, da Coordenadoria de Defesa Agropecuária de São Paulo, além de produtores paulistas.
Desafios
No campo, os desafios enfrentados pelos produtores também são grandes. De acordo com o engenheiro agrônomo Lucas Gonçalves Machado, que atua na Coopadap (Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba), as maiores dificuldades que o abacaticultor enfrenta no campo são o baixo suporte fitossanitário da cultura (pesticidas registrados), acesso a mudas sadias, mão de obra e assistência técnica qualificada.
Já da porteira para fora, Lucas destaca que o mercado interno ainda é limitado para o avocado Hass, há baixa adesão dos produtores ao associativismo para alavancar a cadeia do abacate, e por fim falta regulamentação e fiscalização quanto aos padrões mínimos de qualidade de frutos que vão para o mercado, onde muitas vezes por oportunismo encontramos frutos imaturos sendo comercializados, lesando consumidores e também produtores que trabalham com seriedade.
Desafios semelhantes foram apontados pelo engenheiro agrônomo Curds Goodson Guimãraes, do Grupo Tsuge. De acordo com Guimarães, “o principal desafio da cadeia do abacate é a falta de pesquisa científica da cultura, o qual impacta diretamente nos manejos e tratos culturais, bem como a dificuldade de produtos registrados no Brasil para a cultura”.
Potencialidades
Apesar dos inúmeros benefícios nutricionais dessa fruta, os brasileiros ainda possuem um baixo consumo per capita, sendo consumido apenas 301 gramas/ano, segundo dados do IBGE. Esse baixo consumo da fruta pode estar associado a diferentes mitos, como o de que o abacate está associado ao ganho de peso.
Desde 2016, a Associação Abacates do Brasil, promove a página @amoabacate no Facebook e Instagram com o objetivo de ampliar o conhecimento do abacate aos consumidores, favorecendo o consumo por meio da divulgação de receitas, dicas saudáveis e informações nutracêuticas.
O abacate é uma cultura com inúmeras potencialidades, podendo trazer vários benefícios ao País, tanto do ponto de vista econômico, social, quanto ambiental. De acordo com a Associação Abacates do Brasil, “o incremento do cultivo do abacate é certamente uma tarefa pendente no Brasil. Além do agronegócio exportador, do qual o Brasil participa apenas com 0,3%, o aumento do consumo interno deste fruto contribuiria para o enriquecimento nutricional da alimentação da população”.