O primeiro inseticida à base de Baculovirusspodoptera contra a lagarta-do-cartucho acaba de ser desenvolvido e surge como nova ferramenta para minimizar os danos que ela representa, os quais podem variar entre 30% e 70% de perda
Com o início da comercialização previsto para outubro deste ano, para atender à safra 2017/2018, o primeiro inseticida à base de Baculovirusspodoptera contra a lagarta-do-cartucho (Spodopterafrugiperda) será ofertado por uma rede de distribuição da VR Biotech, em parceria com Araunah Agro.
O CartuchoVIT, lançado em 12 de maio, em Uberaba (MG), é resultado da parceria entre a Embrapa Milho e Sorgo e a VR Biotech. Será disponibilizado e comercializado oficialmente pela Araunah Agro, em âmbito nacional, para todos seus canais de distribuição e clientes, por meio do segmento Bio PRO®, direcionado à bioproteção de cultivos. É a mesma empresa que representa os produtos Penergetic®, há 16 anos.
Inovação
Em 2010, a VR Biotech se fez presente na agricultura e exerceu sua missão de oferecer tecnologia limpa para a agropecuária. Então, realizou prospecção junto à Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas (MG), e lá encontrou a tecnologia do Baculovirusspodoptera, um vírus que controla a lagarta-do-cartucho.
“As negociações evoluÃram até que, em 2012, fechamos um contrato com a Embrapa. A partir daÃ, já passamos à tecnologia de produção laboratorial. Em 2013, a VR Biotech colocou em ação a sua planta para produzir em escala piloto e determinou as condições de produção industrial para que tivéssemos o Baculovirusspodopterasendo produzido para atender às necessidades da agricultura nacional. Isso foi feito até 2016 e início de 2017. Paralelamente, trabalhamos na parte regulatória“, relata Paulo Bittar.
Como funciona
O inseticida à base de vírus tem que ser colocado nas plantas, sobre as folhas, como qualquer outro inseticida, por meio da preparação de uma calda, que deve ser pulverizada. “A diferença é que o inseticida à base de vírus precisa ser comido pela lagarta. Ele não funciona por contato, como alguns inseticidas químicos. Quando o inseto engole o inseticida e faz a digestão, o produto, então, chega ao seu intestino, é processado e começa a ocupar, por multiplicação, todos os tecidos da lagarta“, explica Paulo Bittar.
Entre quatro e dez dias, a lagarta estará toda tomada pelo vírus e morrerá. Mas, segundo os especialistas, quase que imediatamente após a ingestão do baculovírus (até dois dias), a lagarta já para de comer a plantação e de causar danos. Cessa em até 93% a ingestão de alimento.
Outra vantagem do baculovírus é a frequência de aplicação. “Em geral, são necessárias duas aplicações por ciclo de cultura. Temos uma característica especial: o baculovírus deve ser aplicado até no máximo 45 dias após a emergência da planta, que é a fase crÃtica, quando a planta precisa ser bem protegida para que produza depois. Esperamos que dentro desses 45 dias, em geral, se façam duas aplicações, a depender da pressão das lagartas, que varia geograficamente“, pontua Bittar.
Ele ressalta que o monitoramento é fundamental, pois o diagnóstico e controle na fase inicial da lagarta é primordial para a efetividade do controle que se busca. “É preciso ficar de olho na raspagem das folhas, pelas lagartas“. Em geral, a aplicação é feita aproximadamente dez dias após a emergência da planta, dependendo do histórico de ataque dessa praga na região, e repetida cerca de 10 – 12 dias após essa primeira aplicação ou a partir do momento em que houver raspagem de folhas. “Este monitoramento é essencial e, pela dificuldade de avaliação a campo, na fase inicial da lagarta, muitas vezes, a aplicação preventiva seria o mais ideal“, alerta.
Eficiência contra lagarta-do-cartucho
Em contato com a Embrapa, Paulo Bittar obteve a informação de que a tecnologia do Baculovirusspodoptera é muito eficiente no controle da lagarta-do-cartucho e que o mercado precisa muito desse produto. “Ela está distribuÃda por praticamente todo o Brasil. Alguns locais e culturas com maior agressividade; outras, menores. Outro agravante é que mais de 90% do cultivo de milho no Brasil é transgênico, o que torna o sistema invariavelmente mais susceptÃvel e vulnerável a resistências a pragas, como temos presenciado. Notamos também que a lagarta-do-cartucho desenvolveu resistência aos inseticidas químicos. Foi aà que enxergamos a oportunidade de trabalhar com o Baculovirusspodoptera“, conta Paulo Bittar.
Como o alvo principal é a Spodopterafrugiperda, lagarta que acomete diversas outras culturas, além do milho, o CartuchoVIT possui grande versatilidade e abrangência de uso.
Ainda segundo o empresário, foi comprovada a eficácia contra lagartas, em dois ou três dias, de 90 a 95%. Já a eficácia contra lagartas mais velhas (cinco dias) é de 75% a 85%, o que é muito bom, em se tratando de controle biológico.
Biológicos x químicos
 Uma das maiores vantagens do CartuchoVIT, como citado anteriormente, é a baixa necessidade de aplicação. “São duas aplicações de CartuchoVIT durante o ciclo, contra 12 aplicações de produtos químicos em determinadas áreas do Brasil, onde a pressão da lagarta é muito grande. Somente em custos com mão de obra e maquinário para aplicação já se tem uma economia muito importante do produto em si, além dos benefícios para o meio ambiente“, compara Paulo Bittar.