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Silício – Ferramenta de manejo de nematoides no cafeeiro

Autores

Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor – IF Goiano – campus Morrinhos
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
Brenda Ventura de Lima e Silva
Mestre em Fitopatologia e servidora – IF Goiano – campus Morrinhos
Juliano Henrique Alves de Sousa Carvalho
Graduando em Agronomia – IF Goiano – campus Morrinhos

Os nematoides parasitas de plantas são organismos microscópicos e incolores que vivem misturados no solo. Estes apresentam grande potencial de causar prejuízos às culturas agronômicas. Apesar de causarem problemas em todo território nacional, regiões de solos arenosos e com temperatura elevada, entre 25 a 30ºC, são mais favoráveis à infecção pelos nematoides, principalmente em condições de cultivo irrigado.

O Brasil destaca-se como maior produtor e exportador mundial de café, participando com aproximadamente 1/3 da oferta global do produto, além de ocupar a segunda posição entre os maiores consumidores. No entanto, a produção poderia ser ainda maior se não fossem os grandes prejuízos causados pelos nematoides na cafeicultura brasileira.

Para um manejo eficiente de nematoides, tratos culturais são imprescindíveis, dentre os quais, incluem-se a adubação equilibrada e a adoção de técnicas alternativas de controle de pragas e doenças. Atualmente, a adubação com o silício (Si) constitui-se numa técnica que auxilia no melhor desenvolvimento das plantas e na redução da infecção pelos fitonematoides no solo.

Prejuízos devido aos nematoides

A infecção das plantas por nematoides compromete a absorção e o transporte de água e nutrientes pelo sistema radicular para a parte aérea do cafeeiro, tendo como consequência a redução de tamanho e peso das plantas. Além disso, os ferimentos causados durante sua alimentação predispõem as plantas sobre outras infecções causadas por fungos e bactérias. Em situação de alta população do nematoide nas raízes, ocorre a formação de inúmeras galhas, rachaduras e/ou escurecimento da planta (a depender da espécie de nematoides).

A parte aérea da planta exibe os sintomas de subdesenvolvimento, clorose, desfolha e pode até mesmo culminar com a morte de planta, quando exposta a longo período por estresse hídrico ou geadas.

As perdas causadas pelos nematoides nos principais países produtores de café estão na faixa de 15%. No Brasil, os prejuízos são ainda maiores, estimados em 20%, sendo as espécies de Meloidogyne responsáveis por 80% destes, o que representa perdas de alguns bilhões de reais todos os anos a cafeicultura nacional.

Principais nematoides do cafeeiro

Até o presente momento, são cerca de 10 as espécies de nematoides já relatadas em associação com o cafeeiro no Brasil. Os principais nematoides que causam problemas na cafeicultura nacional pertencem ao gênero Meloidogyne (causador das galhas em raízes) e Pratylenchus (conhecido como nematoide-das-lesões radiculares).

Destes, Meloidogyne é, sem dúvida, o mais importante, pois está presente na maioria das áreas de cultivo de café e possui a maior capacidade reprodutiva e poder destrutivo. Merecem destaque as espécies M. exigua, M. incognita e M. paranaenses, por serem as mais prejudiciais à cafeicultura nacional.

Papel do silício nas plantas

O Si, como elemento mineral, tem estimulado o crescimento e a produção vegetal, além de gerar efeitos positivos no controle de doenças, inclusive dos nematoides fitoparasitas. Plantas com níveis mais elevados de Si contêm mais nutrientes em seus tecidos.

Como o silício aumenta a produção de fotoassimilados, devido ao incremento na taxa fotossintética, há um aumento na incorporação de minerais que conferem mais resistência à parede celular das plantas, o que a torna mais resistente a situações de estresses.

Ainda, a aplicação de silício deixa as folhas mais eretas, diminuindo o sombreamento e deixando a planta mais resistente a doenças. Trabalho de pesquisa de doutorado de Rodrigo Silva, realizado no laboratório de Nematologia da Universidade Federal de Viçosa, demonstrou a capacidade do cafeeiro de acumular mais de 1% de Si nas raízes.

Esta concentração de Si na raiz pode ser considerada elevada, em função de tratar-se de uma dicotiledônea, e demonstra o potencial deste elemento num sistema de manejo de nematoides de galhas em cafeeiro.

Resultados positivos foram observados com a adição de Si no solo no controle de M. exigua em plantas de café. Houve um maior desenvolvimento vegetativo do cafeeiro da ordem de 18% e redução da reprodução do nematoide de 28,1% em plantas de café cultivar Catuaí 44, suscetível a M. exigua, tratadas com Si.

Silício no controle de nematoides de solo

No mercado nacional, os silicatos são as principais fontes de silício e possuem como vantagem adicional a capacidade de neutralizar a acidez do solo por meio da reação dos ânions (SiO32-) com os prótons de hidrogênio e alumínio (Al3+). Além disso, produzem o ácido monossilícico, que é a principal forma de silício absorvido pelas plantas.

O acúmulo e a deposição desse elemento nas células da camada epidérmica via apoplasto, seja na parte aérea ou nas raízes, constituem uma barreira física que dificulta a penetração e atrasa o desenvolvimento do nematoide pela modificação da parede celular, tornando-a mais resistente à degradação causada pelas enzimas hidrolíticas e à ação de estruturas especiais de infecção, agindo de modo semelhante à lignina ou suberina de algumas plantas.

A formação de uma barreira física não é o único mecanismo de resistência mediado pelo Si. Estudos recentes revelam que esse elemento age no tecido hospedeiro afetando os sinais entre o hospedeiro e o nematoide, resultando em uma indução de resistência do cafeeiro pela ativação mais rápida dos mecanismos de defesa da planta. Isso é possível porque o silício, na forma solúvel, pode formar complexos com os compostos fenólicos, aumentar a síntese de fitoalexinas, que são compostos com propriedades antimicrobianas, e enzimas, importantes para sua defesa, que podem agir como substâncias tóxicas, inibidoras ou repelentes aos nematoides.

Manejo

A forma como se fornece o silício no solo ocorre preferencialmente por meio dos silicatos. Estes, ao serem aplicados, proporcionam vários benefícios, como efeito corretivo no solo, por meio do aumento do pH, menores teores tóxicos de alumínio, ferro e manganês, disponibilidade de cálcio, fósforo, magnésio e micronutrientes, aumento de Si-solúvel no solo, maior saturação por bases e, consequentemente, baixa saturação por bases de alumínio.

Os métodos de aplicação dos silicatos são na forma sólida (pó ou granulado) ou líquida (via solo ou via foliar). O emprego dos silicatos em pó acontece via incorporação em área total, enquanto os granulados são aplicados nas linhas de plantio, normalmente acompanhados de outros adubos, como o NPK.

As doses de Si a serem aplicadas no solo dependem da fonte utilizada, do teor de Si no solo e da cultura a ser considerada. Ainda há muitas divergências sobre a dose ideal para a aplicação de silício na lavoura, porém, estudos indicam que doses para o material fino (pó) a lanço variam de 1,5 a 2,0 t ha-1 de silicato de cálcio, e para os solos que já estão corrigidos, a dose não deve ultrapassar 800 kg ha-1.

Outros estudos com o material granulado têm demonstrado que doses de silicato variando de 0,5 a 0,8 t ha-1 são suficientes no sulco de plantio, pois a combinação de silicato com material fertilizante (NPK) é uma ótima alternativa. Para a aplicação via pulverização mecânica, pesquisas utilizaram doses de silicato entre 1,0 a 8,0 l ha-1 e obtiveram êxito, equilibrando a relação do silício na cultura.

Estudos demonstram, ainda, que o silício na forma de silicato deve ser aplicado no solo pelo menos um mês antes do plantio. O solo deve apresentar umidade adequada, ou seja, capacidade de campo da ordem de 60 a 80%, de modo a favorecer as reações do elemento no solo.

Custo da aplicação

O custo da aplicação varia de acordo com as condições de solo e necessidades da cultura, sendo importante ser realizada análise de solo, e assim obter melhor indicação da dose a ser utilizada pelo produtor.

Sua aplicação não exige maiores investimentos do que a tecnologia comumente utilizada para pulverizações em parte aérea, tratamento de sementes ou adubações. Além de ser fonte de nutrientes, ajuda a controlar populações de fitonematoides.

Existe um baixo custo da aplicação quando comparado a produtos químicos e biológicos encontrados no mercado, além disso, o silício melhora a qualidade do produto e em algumas culturas pode reduzir a utilização de fungicidas, gastos com irrigação, entre outros. O baixo custo da aplicação de silício e o aumento de produtividade mostram um custo-benefício importante para os produtores.

Viabilidade

A utilização de nematicidas sintéticos vem diminuindo com o passar dos anos por serem produtos caros, ajudar apenas na proteção temporária, e por uma busca de agricultura sustentável. O custo com o uso de silicatos, quando comparado aos defensivos químicos e adubos sintéticos que seriam gastos pelo agricultor, mostra uma viabilidade interessante por se tornar mais barato e por poder desempenhar múltiplas funções em sua utilização.

Tendências

Na agricultura moderna, o desenvolvimento de tecnologias menos agressivas ao homem e ao meio ambiente são bem-vindas. Neste contexto, a utilização do silício no controle de fitonematoides apresenta-se uma excelente opção, dentro da filosofia do manejo integrado de doenças de plantas.

O uso constante e exagerado de grandes volumes de nematicidas sintéticos agride cada vez mais o meio ambiente e interfere no equilíbrio do ecossistema. O uso, principalmente de silicato de cálcio e magnésio, ou silicato de potássio, pode ser incorporado ao manejo de fitonematoides para a agricultura nacional, sendo eficiente e seguro ambientalmente.

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