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Plantabilidade em lavouras de grãos

A plantabilidade é a chave para uma semeadura eficaz. Escolher as melhores sementes e garantir uma distribuição uniforme no solo.

Aldir Carpes Marques Filho
Professor na Universidade Federal de Lavras
aldir@ufla.br

Arthur Gabriel Caldas Lopes
Professor na Universidade Federal de Goiás
arthur.gabriel@unesp.br

A tecnologia em semeadura ou “plantabilidade”, envolve a adoção de boas práticas no plantio, no caso da semeadura de grãos, pode ser definida como a técnica que garante a melhor seleção de sementes para a semeadura e a deposição equidistante no sulco, em termos de espaçamento longitudinal, transversal e profundidade. Assim, a seleção do material vegetal e a correta deposição no campo são os pilares da plantabilidade.

A evolução da tecnologia de semeadura

A tecnologia em semeadura tem sido explorada por empresários e produtores rurais de todo o mundo, visto que, durante a implantação das lavouras são empregados vultosos recursos financeiros e os erros operacionais podem incrementar os prejuízos. Algumas empresas tradicionais do setor de máquinas agrícolas investem também no aprimoramento e na fabricação de dosadores de sementes e fertilizantes.

Empresas do ramo industrial agrícola, tem desenvolvido sistemas capazes de realizar a deposição de sementes em maiores velocidades operacionais de semeadura, já que a velocidade sempre representou um entrave para a semeadura. Novos sistemas dosadores (de acordo com os fabricantes) são capazes de depositar sementes em velocidades superiores a 6 ou 7 km/h (velocidades limites para os sistemas tradicionais).

Modernos sistemas de semeadura incluem a condução das sementes até o solo de forma mecanizada com o auxílio de correias ou escovas especiais, aprimorando a qualidade da operação e proporcionando maior rendimento operacional.

Os desafios

No entanto, é preciso ressaltar que a maioria dos dosadores de sementes e fertilizantes disponíveis no mercado, de fato possuem o potencial para distribuir insumos em altas velocidades sob condições controladas e ideais de solo. Quando se trata de sistemas de plantio direto e cultivo mínimo, com cobertura vegetal sobre o solo, outros componentes da máquina como os discos de corte, sulcadores de adubo, rodas limitadoras e compactadoras podem limitar a qualidade da operação. Ou seja, mesmo com dosadores modernos e tecnológicos, se o preparo do solo não for realizado adequadamente e, se a palha for cortada no momento incorreto, as possibilidades de falhas e desuniformidades no estande das lavouras são incrementadas.

Tratando-se da deposição em altas velocidades, correias e esteiras transportadoras de semente em substituição aos tubos condutores gravitacionais demonstram evolução dos sistemas mecanizados modernos para a condução da semente até o solo. Estes dispositivos evitam que haja queda livre das sementes após serem dispensadas pelos dosadores, chegando ao solo em intervalos de tempo regulares, favorecendo assim a manutenção do espaçamento entre plantas na linha de semeadura.

Figura 1. Esteiras e correias transportadoras de sementes

Os sistemas de condução baseiam-se em motores elétricos que acionam o mecanismo de condução de semente em sincronismo com a velocidade de deslocamento do trator, elevando a precisão na deposição em função da redução do “ricocheteio” durante a descida pelo tubo condutor.

Nas regiões de clima temperado, com solos uniformes e altamente trabalhados com os encontrados nos Estados Unidos, existem relatos da adoção de velocidades superiores a 16 km/h na operação de semeadura com esses sistemas. Porém, tal realidade não deve ser replicada no Brasil, visto que as condições operacionais nas regiões tropicais são altamente distintas.

O sucesso dos sistemas mecanizados em solos temperados com alta mobilização, em condições planas e favoráveis aos mecanismos de rompimento do solo, causa uma ilusão aos produtores brasileiros, que ao tentar replicar os procedimentos nas lavouras do seu país, deparam-se com desafios significativos relacionados ao manejo da palha e desuniformidade dos solos.

No Brasil, produtores que possuem tecnologia de deposição de sementes com auxílio de correias transportadoras instalados nas semeadoras, relatam elevar em torno de 2 a 3 km/h a velocidade com o uso deste sistema, salientando que fazem isso preferencialmente nos melhores talhões das propriedades.

 Os pioneiros na adoção dessa tecnologia em solos tropicais verificaram que a aplicação pode ser desafiadora em condições de solo úmido em função do entupimento das esteiras e escovas pelo solo do sulco de semeadura, além de lidarem com problemas de sistematização de terrenos e áreas declivosas.

Os condutores de sementes via escovas e esteiras aparentemente resolveram o problema de carregar adequadamente as sementes do dosador até o solo, porém o fator de qualidade de fechamento do sulco de semeadura permaneceu como um entrave a ser superado. Para isso, recentemente foram lançados sistemas de manutenção da pressão das unidades de semeadura sobre o solo, conhecidos popularmente como “downforce”.

Controle de profundidade e agricultura de precisão

Os sistemas de controle de profundidade com a atuação hidráulica ou pneumática chegaram para substituir a utilização de molas tradicionais no sistema pantográfico das semeadoras, que trabalhavam em pressão constante por todo os talhões da propriedade. O sistema “downforce” pode ser do tipo pistão, pneumático ou por fluxo hidráulico. Tais sistemas equipam modernas máquinas de semeadura e são pouco disponíveis para incrementar acessoriamente outras máquinas.

Figura 2. Sistemas “downforce” disponíveis no mercado de máquinas: pneumático, hidráulico, mola à gás.

Os sistemas de controle de profundidade permitem a melhor leitura do terreno (função de copiar o desnível do solo), pressionando a linha em regiões de maior resistência, o que evita que sementes sejam depositadas na superfície do solo ou envelopadas na palha. Os sistemas também reduzem a pressão em áreas de solo macio, com fácil penetração, para evitar o afundamento das sementes. A correta deposição em termos de profundidade garante um estabelecimento uniforme da lavoura e permite que as plantas tenham estabelecimento adequado na lavoura, sem a presença de plantas dominadas e dominantes.

Recentemente, tecnologias de agricultura de precisão tem possibilitado aos produtores reconhecerem pontos de maior ou menor produtividade em suas lavouras e, com isso, alterar a quantidade de insumos em cada uma dessas áreas. As máquinas modernas permitem através de sistemas de controle de deposição em taxa variável, estabelecer diferentes quantidades de insumos em cada ponto da lavoura.

Sistemas de taxa variável

Nas máquinas de semeadura à taxa variável, os dosadores possuem acionamento independente, o que possibilita o corte exato das seções no momento da sobreposição de linhas (Figura 3), possibilitando até 18% de economia de insumos nas áreas de acabamento e bordaduras. Além disso, nas áreas de maior potencial da lavoura, os dosadores podem incrementar o aporte de insumos e, nas áreas de baixa capacidade de suporte, podem ser aportados menores recursos, variedades mais rústicas e taxas reduzidas de fertilizantes.

Figura 3. Sistema de controle de seção de semeadura. Nessas condições a máquina reconhece o local que já possui semente (pelo monitor/GPS) e interrompe a deposição

Os sistemas de semeadura à taxa variável contam com sistemas de automação completos, equipados com dispositivos sensores, controladores e atuadores. Os controladores são chamados de “monitores” e ficam instalados na cabine do trator, já os sensores são instalados em toda a máquina, com tecnologia eletrônica e óptica, indicam a frequência de queda de sementes e fertilizantes, entupimentos e informam sobre o correto funcionamento dos sistemas. Com base nos sensores o monitor controlador aciona atuadores elétricos, magnéticos ou hidráulicos que controlam a deposição de insumos nas linhas de semeadura.

As culturas agrícolas estão a cada safra sendo melhoradas geneticamente em prol do máximo aproveitamento dos recursos como água e iluminação, portanto, o correto espaçamento entre plantas e a manutenção da população ideal de plantas por hectare, são fatores decisivos para o sucesso de uma lavoura. Dessa forma, os dispositivos de taxa variável permitem o melhor controle dessas variáveis no campo, permitindo o ajuste da lavoura em função da necessidade das plantas e potencial de suporte dos solos.

O estabelecimento de populações ideais, sem o excesso de deposição de plantas, comumente planejado para suprimir problemas de vigor das sementes e regulagens falhas da máquina, podem favorecer o desenvolvimento das plantas em termos de acesso a fatores importantes como luz e nutrientes. Além disso, em culturas corretamente estabelecidas, facilidades no manejo e controle fitossanitário são verificados pela melhor penetração de calda nas condições de arquitetura complexa e plantas desenvolvidas.

Sementes de alto poder genético

Sementes de alto poder genético apresentam alto custo de aquisição e, em alguns casos, produtores necessitam pagar “royalties” pelo uso de materiais genéticos patenteados, o que aumenta os custos produtivos totais. Uma das grandes vantagens dos sistemas em taxa variável de semeadura é a economia de sementes com a manutenção, e até mesmo o incremento na produtividade da lavoura, já que o arranjo das plantas é melhorado.

Fazer acabamentos de semeadura em áreas de bordadura sempre foi um desafio na operação de semeadura e, nos sistemas tradicionais, invariavelmente ocorriam sobreposições das linhas de plantas, desperdiçando sementes e fertilizantes. No caso da cultura do milho, nessas áreas de sobreposição, outro problema ocorre no momento da colheita, já que as máquinas possuem capacidade de colheita limitada a uma linha por vez para o correto arranquio das espigas. Assim, nos locais de linhas sobrepostas aumenta-se a possibilidade de perdas e tombamento de plantas inteiras na lavoura. Destaca-se que, não basta adotar e investir em sistemas tecnológicos de semeadura, que normalmente possuem alto custo sem realizar as demais operações agrícolas de forma eficiente. Os novos dispositivos chegaram para facilitar a vida dos produtores, porém sozinhos não fazem milagres. Em muitos processos agrícolas ainda falta fazer o “bê-á-bá” bem-feito, ou seja, realizar um bom monitoramento do desempenho do solo e das culturas, através de correções de solo adequadas, preparar bem o leito de semeadura, controlar a qualidade da cobertura vegetal, fazer rotação de culturas são algumas práticas que incrementam a eficiência produtiva. Não se pode esquecer que a agricultura é um ciclo de atividades e para que sejam alcançados melhores patamares produtivos é preciso cuidado em todas as etapas, do plantio à colheita

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https://www.youtube.com/watch?v=e7nqhGGyII8&feature=youtu.be

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