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Plantas daninhas podem reduzir em 85% a produtividade do milho

A competição de plantas daninhas é bastante prejudicial para a produção agrícola, principalmente no início do desenvolvimento da lavoura, pois são consideradas “agressivas”, pelo fato de apresentarem rápida germinação e emergência, alto aproveitamento de água, luz e nutrientes.

Walleska Silva Torsian
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP
walleskatorsian@usp.br

Os desafios enfrentados na produção de milho no Brasil são muitos, desde a melhoria da produtividade nacional, as flutuações nos preços, as adversidades climáticas e os desafios fitossanitários que incluem o controle de pragas, doenças e plantas daninhas.

E superar esses desafios no Brasil requer investimentos em pesquisas e inovação agrícola, além de garantir que a produção seja a mais sustentável possível.

Como uma das culturas de grande importância agrícola, o milho tem um papel importante na produção de alimentos e energia. No entanto, o seu crescimento e desenvolvimento estão gravemente comprometidos pela competição com plantas daninhas.

Essas plantas invasoras competem diretamente por água, luz e nutrientes, resultando em perdas bastante elevadas a níveis de produtividade. Assim, o manejo de plantas daninhas torna-se essencial e obrigatório para garantir altos níveis de rendimento da cultura.

Mas, o que são plantas daninhas?

As plantas daninhas são quaisquer plantas que crescem num ambiente não desejado. Por exemplo, se você possui um hectare de milho e lá tiver uma planta de soja, ela será considerada uma planta daninha, porque está ali competindo com outras por água, luz e nutrientes, e o contrário também é verdadeiro – são as chamadas plantas tigueras.

Então, todo lugar que cresce e se desenvolve uma planta não desejada é considerada como uma planta daninha. Esse crescimento indesejado é responsável por causar a redução na produção de 30 a 40% do milho.

Prejuízos

A competição de plantas daninhas é bastante prejudicial para a produção agrícola, principalmente no início do desenvolvimento da lavoura, pois são consideradas “agressivas”, pelo fato de apresentarem rápida germinação e emergência, alto aproveitamento de água, luz e nutrientes devido ao sistema radicular bastante desenvolvido e a grande produção de sementes que serão disseminadas posteriormente na própria lavoura.

Dessa forma, as plantas daninhas devem ser bastante controladas durante o desenvolvimento inicial do milho, evitando falhas no plantio, crescimento lento e desuniformidade nas plantas de milho.

Assim, com o desenvolvimento da cultura, as próprias folhas de milho fecham as entrelinhas por causa do seu tamanho, dificultando o crescimento das plantas daninhas e diminuindo a competição.

Porém, é importante ficar atento, pois no final do ciclo do milho as folhas secam e volta a ocorrer a passagem de luz em maior abundância nas entrelinhas, favorecendo o desenvolvimento das plantas invasoras.

Impactos à produtividade

O milho é uma gramínea e, por isso, é importante controlar outras plantas daninhas gramíneas antes do plantio e emergência, pois alguns herbicidas não podem ser utilizados após a semeadura.

Porém, existem várias plantas daninhas, sendo gramíneas ou não, que têm difícil controle e alta infestação de sementes. Mas, é importante destacar que cada região pode apresentar determinados tipos de plantas daninhas.

Na tabela a seguir, vamos considerar algumas das mais importantes plantas daninhas para a cultura do milho.

Competição

As plantas daninhas competem com o milho por recursos essenciais, como água, luz e nutrientes e isso leva a uma redução significativa na produtividade. Por exemplo, na competição por luz, as plantas daninhas crescem mais rapidamente que o milho e, se não for feito o devido controle, pode formar uma cobertura mais densa, bloqueando a luz solar.

Isso reduzirá a fotossíntese nas plantas de milho, limitando o seu crescimento e desenvolvimento. A competição por água também é outro fator importante, pois geralmente as plantas daninhas possuem um sistema radicular mais “agressivo” devido ao crescimento rápido e densidade de raízes, o que garantirá para as plantas invasoras maior absorção de água, resultando na indisponibilidade da mesma para o milho.

E, sabemos que a escassez hídrica prejudica o desenvolvimento das plantas de milho, especialmente o crescimento vegetativo nas fases de V3 e V5, onde a planta está empregando todo o seu potencial produtivo para a formação de pendão, por exemplo, e, também, no florescimento.

Atenção

A competição por nutrientes merece atenção, pois as plantas daninhas competem por nutrientes presentes no solo, como nitrogênio, fósforo e potássio. Assim, quando as invasoras absorvem esses nutrientes em excesso, o milho poderá sofrer deficiências nutricionais, o que impacta diretamente na produção de grãos.

Por isso, é importante evitar essa competição especialmente nos estádios iniciais de crescimento e desenvolvimento do milho, que pode levar à redução de plantas, menor qualidade de espigas e, consequentemente, contribuindo para a baixa produtividade da lavoura.

Manejo assertivo

Os métodos de controle mais eficazes para prevenir que a interferência das plantas daninhas cause perdas na produção de milho são o controle cultural, mecânico e químico. Vamos falar um pouco sobre cada um deles.

O controle cultural tem o objetivo de fazer a cultura do milho manifestar todo o seu potencial produtivo com manejos que favoreçam a cultura em detrimento das plantas daninhas, como:

Cobertura vegetal: espécies como a crotalária e a braquiária são consideradas plantas de cobertura que podem reduzir a incidência de plantas daninhas e limitar a germinação das mesmas;

Plantio direto: quando se deixa restos de outras culturas na superfície do solo contribui para conservar a umidade e melhorar a estrutura do solo, assim reduzirá a germinação de plantas daninhas, diminuindo a competição pelos recursos;

Rotação de culturas: ao alternar o milho com outras culturas ajuda a reduzir a propagação de plantas daninhas. Pode-se destacar que plantas como soja e feijão quebram o ciclo de algumas plantas invasoras.

O controle mecânico é feito com instrumentos que arrancam pela raiz as plantas daninhas, como:

Capina manual: em áreas menores, a capina manual é eficaz para eliminar plantas daninhas, impedindo que elas cresçam e prejudique o desenvolvimento do milho;

Escarificação: esse controle ajuda a destruir as raízes das plantas invasoras e, ao mesmo tempo melhora a infiltração de água, proporcionando a maior absorção pelas raízes de milho;

Gradagem e roçagem: a utilização de máquinas remove fisicamente as plantas invasoras durante o estádio vegetativo do milho, porém é importante ficar atento e verificar se essa prática não prejudica as raízes do milho.

O controle químico é basicamente o uso de produtos químicos aplicados para a prevenção e controle de plantas daninhas sob recomendação do profissional devidamente autorizado para fazer esta prática, que inclui:

Herbicidas pré-emergentes: que são aplicados antes da germinação de plantas daninhas e criam uma barreira para impedir o crescimento das plantas daninhas. Produtos à base de atrazina são exemplos de herbicidas pré-emergentes;

Herbicidas pós-emergentes: são aplicados após o surgimento das plantas daninhas, como por exemplo o glifosato ou nicosulfuron. Esses produtos atuam nas folhas e raízes das plantas daninhas, sem prejudicar o milho;

Uso da tecnologia RR (Roundup Ready): o milho geneticamente modificado resistente ao glifosato permite o uso de herbicida para o controle de plantas daninhas em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura, sem afetar o crescimento e desenvolvimento das plantas de milho.

Estratégias

A identificação precoce das plantas daninhas pode influenciar a eficácia das estratégias de controle e minimizar os impactos sobre a cultura do milho, pois permite que as medidas de controle sejam realizadas no momento mais adequado.

As daninhas mais jovens são mais suscetíveis aos herbicidas e outros métodos de controle, e quanto mais elas forem crescendo na lavoura, mais elas vão ficando resistentes, competindo por mais água, luz e nutrientes, consequentemente, aumentará o trabalho para eliminá-las e gastará mais com herbicidas e, às vezes, o resultado não será o desejado.

Direto ao ponto

A identificação precoce das plantas daninhas também permite a aplicação de herbicidas de forma direcionada, reduzindo a quantidade de produto químico necessária e, então, diminuindo os custos com esses insumos e seu impacto ambiental.

Caso o produtor mesmo fazendo a identificação precoce, demore a aplicar herbicidas, isso causará que as plantas daninhas se tornem mais resistentes e a utilização de herbicidas em maiores concentrações sejam mais utilizados.

Com o monitoramento eficaz é possível utilizar os controles químicos, mecânicos e culturais de forma mais eficiente, reduzindo o uso de herbicidas e promovendo um controle mais sustentável e econômico.

Os especialistas recomendam a atenção ao uso de herbicidas seletivos, para evitar a resistência das plantas daninhas ao controle químico. Deve-se aplicar herbicidas sejam pré ou pós-emergentes em doses recomendadas e evitar a entrada de plantas daninhas, realizando controles por meio da limpeza da área.

As práticas culturais que podem ser implementadas pelos produtores para reduzir a infestação de plantas daninhas no ciclo produtivo do milho são a rotação de culturas, cobertura do solo, densidade de plantio adequada, plantio direto, adubação equilibrada, capinas e desbastes com frequência, irrigação controlada e preparo do solo adequado.

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