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Plantas medicinais brasileiras: conservação e uso sustentável

Créditos Depositphotos

Ageu da Silva Monteiro Freire
Engenheiro florestal e doutorando em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR)
ageufreire@hotmail.com
Christopher Thomas Blum Engenheiro florestal e professor – UFPR
ctblum.ufpr@gmail.com
Pedro Henrique Gonzalez de Cademartori
Engenheiro industrial madeireiro e professor – UFPR
pedroc@ufpr.br
Jaçanan Eloisa de Freitas Milani
Engenheira florestal e professora – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
jacanan.milani@gmail.com

A biodiversidade do Brasil é um dos assuntos que mais gera debates em todo planeta, justamente pela sua grande expressão no território nacional, e pela riqueza de recursos naturais.

Conforme o Ministério do Meio Ambiente, o País possui mais de 46.000 espécies vegetais conhecidas, distribuídas em seus diferentes biomas: Floresta Amazônica, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica.

Cada um desses biomas apresenta aspectos diferentes de clima, solo e precipitação, influenciando no desenvolvimento e características das espécies.

Riqueza natural

Quando se fala na riqueza de plantas no País, compreende-se a dimensão do que ela pode nos oferecer que, em todos os aspectos, pode proporcionar elevada gama de produtos. Os produtos florestais não madeireiros (PFNM), como folhas, cascas, frutos, sementes e resinas, entre outros, assumem grande importância para considerável parcela da população, que tem nesses produtos uma fonte de renda e/ou mesmo de uso próprio, para suprimento nutricional ou tratamentos de saúde, por exemplo.

Pode-se observar que a exploração dos PFNM, diferentemente dos produtos madeireiros, na maioria dos casos não incorre no corte da planta inteira, o que é mais positivo para as espécies vegetais envolvidas.

Porém, a exploração dos PFNM também pode ocorrer de forma predatória e insustentável, já que a retirada indiscriminada prejudica as plantas, principalmente em seus aspectos de desenvolvimento e reprodução.

Plantas medicinais

As plantas com propriedades medicinais se enquadram como PFNM, e estão presentes no cotidiano de grande parte da população brasileira.  Muitas vezes a exploração destes vegetais é realizada de forma incorreta, geralmente por falta de informação.

Além disso, as pessoas podem fazer o uso das propriedades medicinais destas plantas de forma incorreta, não sabendo a quantidade certa e os níveis de toxicidade que elas possuem.

Atualmente, com o avanço da ciência e tecnologia, já se tem muitos estudos de plantas com propriedades medicinais conhecidas, principalmente aqueles voltados para a química, o potencial farmacológico e a aplicação na medicina.

Porém, ainda são poucos os estudos referentes à conservação destas espécies, pois ainda não há muita informação sobre grande parte da nossa flora, principalmente a respeito de aspectos ecológicos.

A falta de informação dificulta o desenvolvimento de protocolos adequados de manejo sustentável dos PFNM, e por este motivo pode contribuir para potencializar o risco eminente de extinção de determinadas espécies.

Quem são elas?

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), plantas medicinais são aquelas que possuem capacidade de atenuar ou curar enfermidades, sendo mais comum sua utilização por meio de chás e infusões.

Créditos Depositphotos

Também é comum a industrialização da planta medicinal para se obter um medicamento, chamados de fitoterápicos. Esta diferença é importante, pois, usadas de forma inapropriada, muitas plantas medicinais causam efeitos adversos, ao passo que os fitoterápicos trazem a vantagem da segurança, evitando contaminações e padronizando a quantidade e a forma correta com que deve ser usada.

Extinção

Muitos são os fatores que vem ocasionando ameaças aos organismos do planeta, dentre os quais os vegetais têm sido fortemente afetados, com muitas espécies entrando na lista de ameaçadas de extinção.

Fatores como urbanização, expansão da agropecuária, silvicultura comercial e a exploração de recursos naturais intensificam o desmatamento, a poluição do solo e dos recursos hídricos, tendo como consequência a mortandade de seres vivos.

Atrelado a isso, a exploração predatória de plantas medicinais também é prejudicial, sendo necessárias medidas apropriadas de manejo para uma exploração sustentável. É relevante destacar que o ser humano pode estar causando a destruição de plantas que possivelmente possuam compostos relevantes para a medicina, muitas vezes ainda desconhecidos.

Principais plantas medicinais do Brasil

No Brasil, ainda é necessário avançar no que diz respeito às informações sobre plantas medicinais pois, entre as mais conhecidas, a maior parte se caracteriza como não nativas do País.

Algumas informações podem ser obtidas pela Anvisa, por meio da Farmacopeia Brasileira, que é o código oficial farmacêutico, estabelecendo os requisitos mínimos de qualidade para insumos farmacêuticos, medicamentos e produtos para a saúde.

No documento da Anvisa são identificadas 85 espécies de plantas medicinais, sendo somente 22 nativas, 23 cultivadas e 7 naturalizadas (invasoras de ambientes naturais). Com isto, observamos que, diante da biodiversidade brasileira, pouco se sabe sobre as plantas medicinais nativas, havendo mais informações sobre espécies de outros países.

O Livro Vermelho da Flora do Brasil é um material produzido pelo Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), que fornece informações sobre espécies ameaçadas no País, como subsídio para que sejam realizados planos e metas que diminuam os impactos sobre essas espécies.

O livro conta com uma lista vermelha de espécies, mostrando as que estão em alguma categoria de ameaça e a caracterização delas. O CNCFlora considera oito categorias na análise de risco de extinção, seguindo a metodologia mundialmente aceita da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), sendo elas:

• EX: “Extinta”, quando não restam quaisquer dúvidas de que o último indivíduo de um táxon morreu.

• EW: “Extinta na natureza”, quando um táxon sobrevive apenas em cultivo, cativeiro ou apenas com uma população (ou subpopulações) naturalizada fora de sua área de distribuição original.

• CR: “Criticamente em Perigo”, são espécies que estão enfrentando um risco extremamente elevado de extinção na natureza.

• EN: “Em perigo”, são espécies que enfrentam um risco muito elevado de extinção na natureza.

• VU: “Vulnerável”, são espécies que enfrentam um risco de extinção elevado na natureza.

• NT: “Quase ameaçada”, espécies que no momento não se qualificam como ameaçadas, mas estão perto ou suscetíveis de serem qualificadas em uma categoria de ameaça num futuro próximo.

• LC: “Menos preocupante”, espécies que no momento não se qualificam como ameaçadas. São incluídas nesta categoria espécies abundantes e amplamente distribuídas.

• DD: “Dados insuficientes”, espécies que não possuem informações suficientes para sua categorização de risco de extinção baseada na distribuição e/ou status populacional.

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Com isto, foi realizado uma busca dos termos “medicinal” e “medicinais” no Livro Vermelho da Flora do Brasil, com intuito de avaliar quais espécies com propriedades medicinais estão em alguma categoria de risco de extinção.

A pesquisa resultou na constatação de 16 espécies ameaçadas com propriedades medicinais, sendo quatro criticamente em perigo, seis em perigo e seis vulneráveis. Considerando ainda haver poucas informações sobre as plantas medicinais nativas do Brasil, de fato constata-se que muitas dessas espécies ameaçadas não se encontram descritas em documentos oficiais que tratem de plantas medicinais e fitoterápicos.

Para mais informações entrar no site do CNCFlora (http://www.cncflora.jbrj.gov.br/portal).

Alerta

Diante do grave cenário de potencialização dos fatores de degradação que ocasionam a perda de biodiversidade no Brasil, são também necessárias estratégias de conservação específicas para as plantas medicinais nativas.

Medidas como restauração e enriquecimento florestal, cultivo das espécies fora de seu habitat natural, políticas públicas focadas na proteção e conservação, e sobretudo investimentos em pesquisas sobre a ecologia, tratos culturais e manejo adequado das plantas tendem a gerar melhores resultados quando realizadas em parceria público-privada, para que empresas, pequenos agricultores e as comunidades tradicionais se beneficiem.

Adicionalmente, é interessante que se tenha um banco de dados oficiais, descrevendo as plantas medicinais, com suas características, técnicas de cultivo, manejo, silvicultura, uso na medicina popular e comprovação científica, facilitando assim o acesso à informação por parte da população, e também para as empresas farmacêuticas, além de indicar aos pesquisadores o estado da arte sobre o assunto e o que ainda falta ser estudado.

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