Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
Herick Fernando de Jesus Silva
Engenheiro Agrônomo e doutorando em Fitotecnia ” Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Dentre as fruteiras originárias de clima temperado, o pessegueiro [Prunuspersica (L.) Batsch] sem dúvida ocupa posição de destaque na fruticultura nacional. Seus frutos são muito apreciados pelo consumidor brasileiro, tanto na forma in natura, na industrialização, em produtos como sucos, sorvetes, geleias, compotas, dentre outros.
Porém, alguns fatores devem ser observados ao longo do processo de produção. Nesse sentido, as doenças constituem um dos principais entraves ao desenvolvimento e produção de frutos de qualidade.
Doenças
Dentre as doenças que podem ocorrer no pessegueiro, encontra-se a podridão parda, causada pelo fungo Moniliniafructicola (Wint.) Honey, considerada a principal enfermidade que pode acometer o pessegueiro, sendo responsável por grandes prejuízos à produção anual brasileira.
Importante ressaltar também que esta não constitui uma doença apenas do pessegueiro, acometendo outras fruteiras de caroço da família botânica Rosaceae. Ela ocorre tanto em pré quanto em pós-colheita, e quando não tratada a tempo ocasiona a perda do fruto por apodrecimento, tornando-o imprestável para comercialização. Assim, seu controle constitui uma etapa crucial no cultivo do pessegueiro, na busca por produtividade e frutos de qualidade.
Sintomas
A ocorrência da doença é maior ao longo de duas fases fenológicas da planta – floração e pré-colheita. O patógeno pode infectar ramos, flores e frutos e, inicialmente, a infecção incide na fase de floração, infectando as flores. Nos ramos observa-se a formação de cancros, podendo aparecer em toda sua extensão, causando o anelamento, seguido de murcha e culminando na morte da parte terminal.
A doença tem início na primavera, infectando primeiramente os órgãos florais. Nas flores, os sintomas aparecem na forma de lesões de coloração parda, podendo apresentar aspecto de mofo, quando ficam totalmente revestidas de esporos do fungo. De maneira geral, ocasiona a necrose das anteras, prosseguindo para o ovário e pedúnculo.
Na fase de pré-colheita, nota-se nos frutos infectados a presença de pequenas lesões de coloração parda que vão evoluindo para manchas marrons à medida que ocorre a colonização pelo fungo dos tecidos vizinhos.
Nota-se, também, a ocorrência de frutificações acinzentadas das estruturas do patógeno. No campo, essas frutificações são facilmente visÃveis. Posteriormente ocorre desidratação intensa, demonstrando aspecto mumificado.
Os frutos, quando infectados, tornam-se completamente cobertos de esporos, e constituem fonte para novas infecções no pomar. Já nos estágios de maturação, podem apresentar podridão visÃvel dentro de 48 horas, e em estágios ainda verdes pode ocorrer infecção latente e sua manifestação ocorrerá durante a maturação, a menos que aconteçam lesões causadaspor agentes como insetos ou granizo.
Na pós-colheita, os sintomas podem manifestar-se logo após a retirada dos frutos das condições de refrigeração.
Danos
A podridão parda é a principal doença da persicultura, tendo sido registrada em todas as regiões produtoras do País. Sua incidência contribui para perdas em quantidade e qualidade de frutos. Caso o produtor não utilize medidas de controle adequadas, os prejuízos serão inevitáveis à rentabilidade da cultura.
Os danos são variáveis, estando condicionados ao grau de suscetibilidade da cultivar, agressividade do patógeno, condições climáticas e medidas de manejo adotadas pelo agricultor. Observa-se que cultivares que apresentam frutos de epiderme mais delgada possuem maior suscetibilidade e medidas de controle ineficientes.
Condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento podem agravar os danos causados pelo patógeno. Um dos principais alvos de infecção são as flores. Dessa maneira, o número de estruturas florais acaba sofrendo uma acentuada diminuição, refletindo na queda da taxa de frutificação efetiva.
Os frutos que ainda se desenvolvem, na maioria das vezes, não apresentam a qualidade exigida pelo mercado.Além disso, acabam servindo como fonte de inóculo para a disseminação da doença.
As folhas, uma vez atacadas pelo patógeno, têm sua eficiência fotossintética comprometida, ou seja, começam a produzir fotoassimilados essenciais para o desenvolvimento dos frutos em menores taxas. Além disso, a energia que antes era convertida para a produção passa a ser destinada também para mecanismos de defesa que a planta começa a adotar, como a produção de compostos fenólicos, causando desequilíbrio fisiológico da planta.
Economicamente, os efeitos dessa doença podem ser convertidos em perdas parciais ou totais da produção. Nesse contexto, o produtor deve adotar medidas de controle preventivas e curativas no momento correto e na medida certa.
Caso o manejo não seja realizado apropriadamente, os gastos ultrapassarão os lucros, sendo a intervenção tardia injustificável.
Integração de medidas de controle
Para efetuar o controle da doença, não é possível separar as medidas preventivas das curativas, pois a utilização de ambas deve ser feita de maneira integrada para um controle efetivo da podridão parda.
Para garantir a perpetuação de uma safra para a outra, o patógeno mantém estruturas de sobrevivência sobre frutos mumificados, pendúnculos, flores murchas e ramos doentes. Dessa forma, a poda de limpeza, remoção de frutos mumificados e capulhos florais devem ser efetuadas, com posterior queima desse material, a fim de reduzir a presença de inóculos na área.
Junto dessas medidas é aconselhável a aplicação de produtos à base de cobre e calda sulfocálcica, que, além de possuÃrem baixo impacto ambiental, promovem ação protetora às plantas.