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Polêmicas podem impactar dinâmica do setor têxtil na China

Algodão – Crédito: Shutterstock

A indústria têxtil chinesa tem sido afetada com menor demanda de suas mercadorias por países europeus e americanos, grandes mercados consumidores, pela acusação do governo chinês promover “trabalho forçado” à população uigur, um grupo étnico de ascendência turca e nativo na China, historicamente assentado no oeste do país.

Em decorrência das acusações, diversos países passaram a aplicar sanções econômicas aos produtos derivados do algodão de Xinjiang – principal província do Oeste da China e maior produtora da fibra natural no país.

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A China é a maior consumidora e maior importadora de algodão no mundo. Com as sanções à pluma chinesa pelo mundo, é possível que a demanda por importação cresça no médio prazo com receios da indústria doméstica em ter seus produtos boicotados por mais tempo – embora, seu mercado seja resiliente em não dar atenção a essas acusações do Ocidente.

“Quando o assunto é a China, o mercado da fibra natural deve acender um alerta, uma vez que qualquer mudança na dinâmica da maior demandante de algodão pode afetar diretamente não só os fundamentos globais de oferta e demanda como a própria estrutura dos mercados”, explica o analista de Inteligência de Mercado da StoneX, Marcelo Di Bonifacio Filho, em relatório especial.

O Partido Comunista Chinês (PCCh) nega as acusações alegando respeitar os direitos das minorias étnico-religiosas no país e explica os “campos de reeducação” como medidas de combate ao terrorismo dentro da China. No entanto, diversas entidades na comunidade internacional passaram a retaliar o Estado chinês, como foi o exemplo da Better Cotton Iniciative (BCI), que retirou a licença do algodão de Xinjiang, “não recomendando” a compra do produto às fábricas. 

A Casa Branca, desde o governo Trump, é enfática em condenar os abusos do PCCh à comunidade uigur e, no dia 06 de dezembro de 2021, protagonizou novo episódio do embate geopolítico anunciando boicote diplomático dos Estados Unidos aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno de 2022, sendo realizado em Pequim, embora seus atletas ainda estejam competindo – movimento acompanhado por diversos outros países.

Cabe ressaltar que os prêmios na China sustentam o cenário apertado para as fábricas no país. “Por mais que o algodão chinês seja, historicamente, mais caro, parece ter havido um descolamento um pouco maior nos últimos meses dos basis em outras praças”, avalia o analista da StoneX, Marcelo Di Bonifacio Filho.

Desde meados de outubro de 2021, o China Cotton Price Index, que reflete a média ponderada nacional da pluma entregue a mais de 200 empresas chinesas, vem registrando valores acima de US¢ 140/libra-peso, encarecendo fortemente o setor têxtil. Por isso, é aguardado que a China, em algum momento dos próximos meses, busque repor parte de seus estoques abrindo novos leilões de compra com maiores participações de fibras importadas, cujos preços estão mais atrativos.

Refletindo essa questão, neste início de 2022, o ritmo de importações chinesas deve melhorar, ao passo que o segundo semestre do ano passado registrou desaceleração – por conta de diversos fatores como a crise de logística global, economia menos aquecida, problemas no setor energético. Já entre novembro e dezembro de 2021, houve aumentos mensais de volume importado na China, beneficiando principalmente Brasil e Estados Unidos, que estavam com parte de suas exportações travadas especialmente pela menor participação chinesa. Por conseguinte, é possível que os meses de janeiro e fevereiro tragam dados mais robustos com melhora na disponibilidade de navios e contêineres e com a volta da China aos negócios e desembarques do algodão global em direção às suas fábricas.

Um termômetro importante para essa dinâmica são as vendas de exportação dos Estados Unidos. Semanalmente, a China é a principal componente das compras do algodão norte-americano, e o mercado aposta na continuidade dessa figura. Nas últimas semanas, o ritmo de compras chinesas contribuiu para bons números, que vêm animando os agentes, combinando com as aquisições de outros países asiáticos, como Paquistão, Vietnã e Bangladesh.

No entanto, o ritmo de exportações estadunidenses esteve lento (registrando melhoras desde meados de dezembro) e por isso o USDA vem cortando suas estimativas para os embarques finais até julho, correspondentes à safra 21/22.

“A intensificação das importações chinesas também é crucial nos próximos meses para materializar essas compras e afastar maiores possibilidades de cancelamentos de cargas. É fato, a indústria chinesa tem necessidades crescentes de consumo, frente à forte retomada econômica chinesa”, explica Marcelo.

Ainda segundo análise da StoneX, no momento, com os preços futuros em Nova Iorque atingindo máximas dos últimos 11 anos, a trajetória de alta sustentada pelo lado especulativo precisa da materialização no lado físico do mercado, sendo a participação da China na demanda internacional seu principal driver.

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