Estenio Moreira Alves
Engenheiro agrônomo, mestre em Agroecologia (UFV) e doutorando em Agronomia – Instituto Federal Goiano, campus Iporá
Jéssica Lorraine Sales Silva
Engenheira agrônoma e consultora – JL Serviços e Comércio Agropecuário
A área plantada com abóbora cabotiá no Brasil é superior a 42 mil hectares, com produtividade média de 16,0 ton/ha, proporcionando volume total anual de 680.613 toneladas. Áreas com domínio tecnológico de cultivo da cultura podem ultrapassar 20 ton/ha.
Os principais produtores de abóboras do País são: Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Goiás, que juntos respondem por uma produção de aproximadamente 338.492 toneladas por ano de abóbora. Contudo, Goiás importa cerca de 40% das abóboras cabotiás comercializadas na CEASA-GO.
A demanda nas regiões do centro-norte é grande, visto que boa parte da produção brasileira está concentrada nas regiões sul, sudeste e parte do nordeste brasileiro.
É importante reforçar que a produção nas regiões importadoras tem grande potencial de gerar renda e produzir riquezas locais. Porém, a falta de domínio tecnológico, bem como o acesso restrito a híbridos de real potencial produtivo nestas regiões as tornam dependentes e importadoras, visto que, resguardadas exceções na grande maioria das regiões brasileiras, há condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo.
Produção
A abóbora cabotiá só produz frutos se polinizada com pólen proveniente de plantas de morangas e/ou abóboras cultivadas intercaladas às plantas de cabotiá. Isto se faz necessário porque as plantas de cabotiá são macho-estéreis, não produzindo pólen.
O cultivo de aproximadamente 20% da lavoura com polinizadores se faz necessário devido à macho-esterilidade dos híbridos de cabotiá. Ressalta-se ainda que a polinização é realizada por abelhas (entomófilas), que transportam o pólen das flores masculinas das cultivares polinizadoras (abóboras ou morangas) até as flores femininas dos híbridos de cabotiá.
A polinização ocorre com o nascer do sol e se estende até o meio-dia. Assim, o manejo integrado de pragas deve cuidadosamente evitar este horário, bem como o uso de produtos não seletivos às abelhas, pois elimina-las inviabiliza a polinização natural.
Para que não ocorra desencontro no florescimento é necessário que o polinizador seja semeado em torno de 14 morangas – Cucurbita maxima a 21 abóboras – Cucurbita moschata, dias antes do híbrido de cabotiá.
Outra alternativa é a indução a frutificação por meio da partenocarpia. Está técnica pode corrigir o desencontro no florescimento do polinizador e do híbrido cultivado, evitando assim o abortamento e perda das flores femininas. É utilizada auxina em concentrações baixíssimas para induzir a formação do fruto sem que haja a polinização.
Nutrição
A correção e adubação do solo obrigatoriamente deve ser precedida de análise química e física do solo. O sucesso da lavoura inicia-se com a correta amostragem de solo, seguido pela interpretação e recomendação coerente com os insumos disponíveis na região.
A calagem é, sem dúvida, o primeiro fator a ser considerado, pois solos ácidos desfavorecem a produção de abóboras cabotiás. Em se tratando de pequenas áreas, o uso de cal poderá atenuar a acidez do solo.
Os compostos orgânicos obtidos da compostagem de resíduos associados a estercos de animais nutrem a cultura e, quando combinados a fertilizantes industrializados, potencializam os efeitos destes no atendimento das necessidades da cultura. Salvo exceções, a adição de calcário e matéria orgânica nos solos brasileiros é premissa básica dos sistemas produtivos.
Usam-se fertilizantes fosfatados para o plantio, e em cobertura aplicam-se fertilizantes nitrogenados e potássicos.
Formas de controle de ervas daninhas
O cultivo em sistema de plantio direto realizado sobre palhada de boa qualidade e em quantidade dispensa a intervenção e/ou manejo de plantas espontâneas ao longo do ciclo produtivo. Há de se considerar a redução significativa dos custos com preparo do solo e capinas durante o cultivo, bem como aumento da capacidade operacional da propriedade e maquinários.
Em se tratando de sistema de cultivo com preparo de solo convencional, as plantas de cabotiá devem ser mantidas em ambiente limpo, seja ele por meio de capina manual ou mecânica. Após a frutificação, as plantas cobrem a área de cultivo, dificultando o crescimento de plantas daninhas, de modo que as mesmas não prejudicam mais o desenvolvimento do cabotiá – pelo contrário, podem ajudar a proteger os frutos contra queimaduras e escaldaduras provocadas pela exposição à luz.
Controle de pragas e doenças
Normalmente os híbridos de cabotiás são muito resistentes a doenças e pragas. A broca das cucurbitáceas (Margaronia nitidalis) causa danos a diversas espécies da família das cucurbitáceas (pepino, melancia, melão). Por este motivo, deve-se fazer rotação de culturas evitando espécies hospedeiras.
O uso de inseticidas fisiológicos de ação seletiva durante o florescimento e aplicados após o meio-dia pode evitar danos aos frutos, bem como preservar os insetos polinizadores.
Novidades
A produção de cabotiá consorciada com abóboras (polinizadoras) para produção de “abobrinhas verdes” é uma novidade que tem viabilizado a produção em pequenas áreas, o que diverge das grandes áreas de produção, cuja polinização é realizada por morangas predominantemente da variedade ‘Exposição’.
As variedades de abobrinhas verdes arredondadas (ex. ‘Jacarezinho’) são colhidas verdes e eventuais excedentes colhidas maduras resultam em dois produtos de excelente qualidade. Este sistema assegura a produção diversificada de abobrinhas verdes, maduras e abóboras cabotiás.
Tem-se o início da geração de renda entre 45 e 55 dias pós-semeio com as colheitas de abobrinhas verdes, culminando na colheita das abóboras maduras e cabotiás entre 90 e 110 dias.
Outra opção inovadora de produzir as abóboras cabotiás é por meio de consórcios com milho. Pesquisas revelam que a produção nos consórcios aumenta a eficiência. De maneira simplificada, produz-se normalmente o milho, e obtém-se até 50% do potencial produtivo da abóbora cabotiá sem que haja necessidade de ocupar outra área.
Ambas as opções proporcionam diversificação da produção e ganhos biológicos e produtivos.
Porteira adentro
Em termos práticos, o olericultor que optar por cultivar abóboras cabotiás deve procurar sempre um profissional capacitado, pois são inúmeras as decisões e caminhos para produzir que juntos aumentarão a capacidade assertiva em equipe.
Dentre os principais custos para produção, citam-se: sistema de irrigação, sementes, fertilizantes e mão de obra. Por tratar-se de cultura de ciclo muito rápido, o bom planejamento é fundamental para o sucesso do empreendedor rural.
Digo sempre que “a abóbora cabotiá joga no time do produtor”, pois, após a colheita, suporta armazenamento de até 90 dias, desde que as abóboras estejam em boas condições na colheita e acondicionadas em abrigo coberto, seco e arejado. Esta condição proporciona estratégia de venda escalonada e consequente busca por preços melhores.
Importância do mercado local
O mercado local é, sem dúvida, uma parcela do mercado importante para agricultores familiares. A redução no frete proporciona competitividade à produção local para atendimento do interior brasileiro, podendo ser comercializado nos supermercados, mercearias, verdurões e, principalmente, nas feiras livres direto do produtor ao consumidor final.
Neste cenário, deve-se conhecer o mercado local para determinar o tamanho da área a ser cultivada. Entretanto, diante da expectativa de produtividade recomenda-se cultivar áreas inferiores a 01 hectare, quando não se pretende transportar a longas distâncias.
Inovações nos sistemas produtivos
A cada dia é necessário mais personalização dos sistemas produtivos para obter as melhores combinações que proporcionem ganhos na relação custo-benefício. O correto posicionamento das tecnologias proporciona ganhos, entretanto, erros geram resultados inversos.
Como as principais novidades ficam por conta do registro de novas cultivares, há demanda frequente de avaliar e validá-las. Como a pesquisa não consegue acompanhar os lançamentos, fica por conta dos produtores testar e validar as que melhor se adaptam ao sistema de produção adotado.
Recomenda-se aos produtores cultivar híbridos desconhecidos em caráter de teste, evitando assim custos altos diante da falta das sementes no mercado dos híbridos conhecidos. Por quaisquer que sejam os motivos da falta, o produtor terá conhecimento suficiente para tomada de decisão de qual híbrido tem potencial de substituir o atual. Esta prática é importante, pois a diferença em produtividade entre híbridos pode variar 50%.
Dados oficiais descrevem a existência de 71 híbridos registrados entre 1999 e 2018, dos quais 31 foram lançados nos últimos 10 anos. É notória a dificuldade de encontrar sementes disponíveis para compra, pois na sua maioria são importados. Trata-se de um mercado importante, dividido entre 21 empresas detentoras dos registros.
Por fim, com a redução do número de pessoas por domicílio, há tendência dos consumidores procurarem frutos menores, que proporcionem uma única ou no máximo duas refeições. Nesse sentido, o adensamento de plantas na lavoura proporciona redução no tamanho dos frutos. Respeitado o limite biológico, consegue-se reduzir os frutos, porém, há ganhos na produtividade.