Avanço do cultivo do trigo no Cerrado é possível graças ao manejo e ganho tecnológico com cultivares adaptadas com maior nível de resistência as doenças de difícil controle, como a Brusone. Webinar discutiu os desafios e as perspectivas para a cultura na região
Hoje, metade do trigo consumido no Brasil tem como origem à importação: seis das 12 milhões de toneladas do grão são importadas. Um movimento cada vez mais consistente pode ajudar a mudar esse cenário. O plantio de trigo no Cerrado vem aumentando a cada ano. Com bons resultados em qualidade e produtividade, o cultivo do grão ganhou espaço nas lavouras. Os desafios e as oportunidades para o trigo em sequeiro e irrigado foram o tema do 1º Webinar Trigo no Cerrado. O evento foi promovido pela Biotrigo Genética, no dia 2 de dezembro, com transmissão ao vivo e acesso gratuito.
Cláudio Malinski, engenheiro agrônomo e agricultor há 40 anos no Cerrado brasileiro, é o responsável técnico na Coopa-DF. Durante o Webinar, ele falou sobre a história do trigo na região, os desafios enfrentados e as perspectivas de avanço para a cultura. “No Cerrado, há aproximadamente 2,5 milhões de hectares nos quais é possível plantar trigo. Isso nos mostra o quanto tem de potencial essa região. Além disso, o trigo do Cerrado apresenta uma qualidade muito boa pelo fato de que o ambiente daqui é favorável”. Cláudio citou como exemplo as micotoxinas causada por Giberela, um desafio enfrentado pelos produtores do Sul. “Aqui praticamente não temos porque a chuva não ocorre no período de espigamento e colheita, o que favorece muito a sanidade do trigo aqui”. O produtor também falou sobre os benefícios da cultura dentro do sistema de produção em termos de palha e de rotação de culturas. A perspectiva para o futuro, segundo ele, é muito promissora. “Eu acredito que nós no Cerrado venhamos a aumentar a área porque os produtores estão entendendo a importância da cultura e tem mercado no Brasil para trigo de qualidade. Tenho convicção de que no futuro nós seremos autossuficientes em trigo graças a contribuição do Cerrado”.
Produção com mais segurança
Um dos principais desafios para os produtores da região é o manejo da Brusone. O fitopatologista da Biotrigo Genética, Paulo Kuhnem, explicou como é possível minimizar os riscos da doença. Entre as estratégias necessárias estão o uso de sementes certificadas e sadias, atenção para época de plantio, controle químico e, especialmente, a resistência genética.
Paulo explicou as razões que fazem com que ocorra uma epidemia. “Temos que pensar o que pode favorecer o achatamento da curva de crescimento da doença. Uma delas é a época de plantio”. Baseado na semeadura, as condições climáticas são mais ou menos favoráveis para a ocorrência de Brusone, seja em folha ou em espiga. No Cerrado, por exemplo, ao antecipar o plantio para o mês de fevereiro, o espigamento vai ocorrer com temperaturas mais altas e volumes de chuvas maiores, aumentando o risco de uma epidemia.
Mas é através do melhoramento genético que se obtém mais e melhores ferramentas para o controle da doença, conforme Paulo. “Há alguns anos foi identificado um gene chamado 2NS, que confere resistência a Brusone na espiga. É um salto no nível de resistência com relação à doença e por isso, agora temos focado os investimentos e as pesquisas para buscar outros genes de resistência e juntá-los com essa genética já conhecida. Através de avaliações de campo e condições controladas, conseguimos chegar a linhagens mais promissoras, que chamamos de 2NS Plus, que estão avançando no nosso programa de melhoramento, justamente para trazer cada vez mais segurança para o produtor”. Segundo ele, é preciso trabalhar com manejo integrado entre resistência genética e outras medidas de controle, pensando sempre em minimizar os riscos. “Nós vamos eliminar a Brusone do Cerrado? Não, mas nós temos mecanismos, ferramentas, conhecimento e meios, sim para produzir trigo com maior segurança”, finalizou.
Tecnologias para a região
Bruno Alves, gerente comercial Norte da Biotrigo Genética falou sobre posicionamento do portfólio e as cultivares da Biotrigo. Atualmente, a empresa trabalha com TBIO Sintonia, TBIO Aton, TBIO Duque para indústria moageira e Energix, produto destinado a alimentação animal, na região do Cerrado. Um dos materiais com maior potencial para o próximo ciclo é o TBIO Aton, cultivar escolhida pelo produtor Leonardo Ribeiro, de Alto Paraíso/GO. Ele buscou uma variedade que fosse realmente adaptada e trouxesse segurança para a lavoura. “No primeiro ano tivemos uma agradável surpresa, com uma produtividade muito acima do que a gente imaginava, com preços remuneradores, o que acabou deixando um resultado financeiro muito interessante. Esse ano tivemos um resultado excepcional com o TBIO Aton, fechamos com 66,5 sc/ha”, conta. De acordo com Bruno, a cultivar tem como pontos fortes a boa reação à Brusone na espiga, ao Oídio e também ao Mosaico. “O Aton agrega para o produtor um rendimento expressivo, por isso deve ser um dos materiais mais semeados no próximo ciclo”, explica Bruno. Outros pontos fortes da cultivar são a tolerância ao alumínio tóxico no solo e a seca, excelente performance de panificação, alto potencial produtivo e ampla adaptação de cultivo.
Bruno apresentou também o TBIO Duque, trigo branqueador de alto potencial produtivo aliado à melhor reação à Brusone na espiga disponível no mercado. A cultivar é tolerante ao alumínio tóxico no solo e apresenta boa reação a seca, tem maior segurança a germinação na espiga do segmento, alto teto produtivo, ampla adaptação de cultivo e é indicado para produtores que buscam alta rentabilidade pela segregação.
Na transmissão ao vivo, visualizada por mais de 1,5 mil pessoas através dos canais da Biotrigo e do Notícias Agrícolas, os participantes também puderam conhecer mais sobre o programa de melhoramento da empresa e a qualidade industrial das cultivares TBIO no Cerrado. O evento conta com o patrocínio de Abrahim Sementes, Butiá Sementes, Basf, Ihara, Informativo EntreGrãos, Sementes Produtiva e Sementes Estrela e com o apoio de Bunge Alimentos, Moinho Centro Norte, Moinho Mattos, Moinho Sete Irmãos, Moinho Vitória e Vilma Alimentos.