Estela Corrêa de Azevedo
Cientista e tecnóloga de alimentos (IF Fluminense) e mestranda em Ciência de Alimentos – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
estela.correa26@gmail.com
Fabrício Teixeira de Lima Gomes
Agrônomo e mestrando em Ciência do Solo (UFLA)
agro.fabriciogomes@gmail.com
A biofortificação é um processo que visa aumentar as concentrações e a biodisponibilidade de nutrientes essenciais para a saúde humana em culturas básicas por meio do melhoramento convencional de plantas, técnicas agronômicas e engenharia genética.
É uma abordagem promissora para combater deficiências nutricionais em populações em risco em todo o mundo. Constitui um meio econômico e ambientalmente sustentável de contribuir para reduzir as deficiências de nutrientes na população por meio de sistemas alimentares já existentes.
A batata-doce
Na batata-doce, os principais alvos de biofortificação são o β-caroteno, precursor da vitamina A, e antocianinas.
No entanto, diversos estudos estão sendo realizados com outras culturas básicas da alimentação humana visando a biofortificação em micronutrientes como ferro, zinco, selênio e iodo, que estão diretamente relacionados à desnutrição da população, especialmente em países em desenvolvimento.
Cruzamento genético
A biofortificação por meio do melhoramento genético convencional consiste no cruzamento entre duas variedades com características desejáveis, como aquelas ricas em β-caroteno e antocianinas.
Além disso, outros fatores devem ser considerados, tais como a resistência a doenças, produtividade, tolerância a estresse hídrico e qualidade pós-colheita.
O resultado são cultivares mais produtivas e que apresentam elevados teores de nutrientes e compostos bioativos que são fundamentais para a manutenção da saúde humana.
Benefícios da batata-doce biofortificada
A batata-doce apresenta carboidratos complexos e índice glicêmico inferior a outras fontes de carboidratos, como batata, milho doce e arroz.
Constitui uma boa fonte de antioxidantes, zinco, potássio, sódio, magnésio, ferro, fenóis, β-caroteno e vitamina C. Além de vitaminas e minerais, a batata-doce pode apresentar teores significativos de compostos bioativos.
As antocianinas estão significativamente presentes na batata-doce roxa e os carotenoides na batata-doce de polpa alaranjada.
A coloração alaranjada, característica de alguns genótipos de batata-doce, ocorre devido à presença de carotenoides. Alguns deles são precursores da vitamina A, especialmente o β-caroteno.
Esses compostos são considerados potencialmente bioativos devido à atividade antioxidante, o que pode reduzir a ocorrência de diversas doenças degenerativas.
Diferenciais
A batata-doce biofortificada apresenta maiores concentrações de β-caroteno e antocianinas, dependendo da cultivar, quando comparadas à batata-doce convencional.
A deficiência de vitamina A pode causar xeroftalmia e risco de cegueira irreversível; aumento da morbidade e mortalidade; aumento do risco de anemia e atraso no crescimento e desenvolvimento humano.
Nesse sentido, o consumo de batata-doce biofortificada é uma alternativa interessante para a redução das deficiências nutricionais, contribuindo para a segurança alimentar e saúde da população.
Limitações
A produção em larga escala é essencial para garantir que os alimentos biofortificados tenham um impacto significativo na dieta da população.
Além disso, é necessário que o alimento biofortificado chegue até a população-alvo. No entanto, existem alguns desafios para que a produção de batata-doce biofortificada atenda às necessidades da população:
● Além de apresentarem elevados teores de nutrientes, as cultivares devem ser produtivas, resistentes a doenças e pragas, e tolerantes à seca, o que exige longos períodos de estudos e recursos para o desenvolvimento de novas cultivares. As cultivares de batata-doce biofortificadas cultivadas atualmente apresentam produtividades que superam a média nacional.
● Os produtores devem ser incentivados a produzirem não somente para consumo próprio, como também para a comercialização. A batata-doce biofortificada pode ser comercializada como um produto diferenciado, com maior valor agregado, uma vez que apresenta qualidade nutricional superior à batata-doce convencional.
● A preferência do consumidor é outro fator que influencia no consumo de batata-doce, pois há perfis sensoriais diferentes, embora isso seja uma questão cultural.
Incentivos
Uma das formas de aumentar a produção de batata-doce biofortificada é pelo fácil acesso às cultivares biofortificadas pelos produtores. Para isso, é necessário que a produção de mudas seja distribuída ao longo das principais regiões produtoras.
As cultivares oferecem estabilidade genética e maior padronização de raiz, fatores que agregam valor ao produto e garantem acesso a mercados mais exigentes, interessados em produtos diferenciados e saudáveis.
Pós-colheita
Os carotenoides são compostos sensíveis que podem ser degradados por diversos fatores, como temperatura, oxigênio, luz, umidade, pH, duração do tratamento, etc.
Por isso, o acondicionamento ideal para batatas-doce biofortificadas, a fim de preservar carotenoides, deve ser por meio do uso de embalagens de materiais com alta barreira de oxigênio, com aplicação de vácuo e sob refrigeração.
O processamento pode afetar os produtos de maneira diferente. Embora os carotenoides sejam facilmente degradados pelas condições ambientais, processamento e armazenamento, as perdas também se devem a danos físicos, como descascamento e corte.
Por outro lado, sabe-se que o processamento de alimentos também pode aumentar a bioacessibilidade dos nutrientes. Comparando a perda de carotenoides em cinco métodos de preparo, sabe-se que estes são melhor preservados quando a batata é cozida na água comparada com o cozimento a vapor, no micro-ondas, assada no forno e frita.
Alvo das pesquisas
As culturas-alvo de biofortificação são aquelas que estão presentes tradicionalmente na dieta das pessoas nas diferentes regiões do mundo. Podem incluir, além da batata-doce, a batata, tomate, milheto, trigo, lentilha, mandioca, arroz, feijão e milho.
Os fatores que influenciam a aceitação das culturas biofortificadas variam grandemente por tipo de cultura e país, mas também pelas características dos consumidores, tais como idade, sexo e condição socioeconômica.
É importante que exista incentivo à busca por uma vida mais saudável, destacando a importância do consumo de alimentos biofortificados, além de assegurar o fácil acesso a estes produtos, principalmente pela população mais carente.